Capítulo 4 - Fragrância

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Parecia um domingo diferente quando Dani relutou em abrir os olhos. O despertador do celular insistia em soar um estridente e irritante alarme, que fez com que a mulher resmungasse levando as mãos a cabeça. A sensação de que seu cérebro ia explodir pelo latejar em suas têmporas a fez lembrar das inúmeras doses de tequila que tomara na noite anterior. Doce ilusão do álcool. Não resolve os problemas, pelo contrário, cria outros. Fechou os olhos com força, rolando o corpo na cama com esforço, sem conseguir encarar a luz do sol que invadia sua janela sem piedade. Os olhos doíam, a cabeça doía, mas havia algo que a incomodava ainda mais que a ressaca matinal e por mais que ela tentasse ignorar isso, por alguma razão a intuição lhe dizia que poderia perder essa batalha muito antes do que pensara. A consciência é sempre o pior dos algozes.

- Merda de tequila... resmungou outra vez, forçando os olhos a abrirem enquanto os pés tocavam o chão frio. Uma leve tontura a tomava de assalto e ficou na beira da cama alguns instantes, respirando fundo até finalmente conseguir abrir os olhos com esforço.

O quarto fora tomando forma e alguns flashes da noite passada vieram a mente da empresária. As luzes, a música, os inúmeros brindes que fez com as amigas, a aposta que Carla perdeu quando Graciela finalmente revelou sua sexualidade. Dani riu de leve lembrando da cara da amiga quando a agente agarrou uma linda jovem na boate, mas seu sorriso não durou muito. Primeiro porque a dor de cabeça voltou e segundo, porque se lembrara de sua própria aventura, esta por sua vez, oculta as demais.

Dani lembrou-se do beijo de tirar o folego. Do ciúme que a corroeu como ácido e das tequilas que tomou para tentar frear o sentimento. Ela achava que podia passar por aquela noite sem se deixar levar pelo desejo arrebatador que a consumia quando Ana estava por perto. Ledo engano. Bastou Ana ir atrás dela e desnudar sua alma com aqueles olhos azuis expressivos que o ciúme, o álcool e seu estúpido coração se uniram para traí-la outra vez.

Os dedos ainda trêmulos foram aos lábios quando o beijo ardente lhe rompeu a memória, acordando toda e qualquer parte de seu corpo que ainda estivesse adormecida. Não podia negar que nos braços de Ana se sentia viva e aquilo a assustava muito. Então, em seguida, ela teve vagas lembranças de estar andando aos trôpegos, apoiada no ombro dela, sentindo seu perfume cítrico enlouquecedor. Elas haviam ido embora juntas. O coração de Dani acelerou quando ela olhou para a cama e viu os lençóis bagunçados. Suas roupas caídas do outro lado e o perfume de Ana por toda parte. Ela estava apenas de lingerie e podia sentir o frescor nos seus cabelos e pele. Havia tomado banho e vestido roupas novas, ou será que fora Ana quem o tinha feito? Suas bochechas ruborizaram ao imaginar que ela a tinha visto nua, ou quem sabe...

- Merda, merda, merda.... Ela disse a si mesma, balançando a cabeça em negativa sem se importar com a dor – Eu não, não posso ter... droga!

Levantou-se rapidamente, procurando a ruiva pelo apartamento e fechando os olhos de vez em quando, pela sensibilidade a luz. Ainda tonta, a empresária chamou por ela, mas tudo que ouvira foi o eco em seu apartamento. O desespero a assolou quando pensou que ela podia ter dormido com Ana dessa forma. Ela seria assim tão irresponsável? Olhou seu corpo no espelho e não viu qualquer marca. Sua pele era extremamente branca e parte de Dani sentiu-se aliviada porque ela sabia que se algo tivesse acontecido certamente alguma evidência em sua pele a denunciaria. O desejo entre elas era latente demais para que tivesse sido algo suave.

Foi então, que ao voltar para o quarto em direção ao banheiro, os olhos castanhos depararam-se com a prova de que não estava louca. Ana esteve ali, com ela. Esteve em seu quarto, em seu apartamento e talvez até em sua cama. Aproximou-se com o peito sufocando e esticou as mãos para pegar um cartão branco que estava apoiado em um copo de água. Uns comprimidos pequenos jaziam ao lado, e Dani franziu o cenho confusa.

Caminhos do Amor - Segunda TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora