Em alguns momentos da minha vida eu percebi que as coisas com a qual eu sonhava sempre aconteciam. Eram coisas como eu estar passando pela rua e lembrar "eu já sonhei com isso", apelidei esses sonhos de previsão.
Sempre a mesma coisa, eu levei um tempo até perceber que isso acontecia. No começo eu não notavam até que eu comecei a dar importância aos meus sonhos
Em um momento os sonhos foram ficando mais vividos e eu conseguia notar as coisas com mais detalhes até que eu comecei a ver aquelas coisas
Em um canto do sonho lá estava aquilo parado, era um sonho comum onde ele apenas acontecia mas eu conseguia ver ele nitidamente naquela parede, sua boca estava sempre aberta, seus dentes amarelos eram gigantes, de dentro da sua garganta era possível escutar "melancolia" como se o choro de várias pessoas estivessem dentro daquilo, seus olhos eram apenas buracos negros e ele não tinha nariz apenas uma longa cartilagem, ele ficava curvado, sua altura deveria ultrapassar o teto da casa, seus braços eram largos e ele usava aquele vestido com mangas gigantes, as unhas deles encostavam no chão e ele apenas ficava lá com aquele rosto melancólico
Quando acordei lágrimas escorriam do meu rosto e pensei que aquilo seria absurdo, que aquele sonho não seria uma previsão e logo esqueci.
Os dias passavam calmamente, até que chegou um dia em específico, a rotina do dia foi como a de qualquer outro dia, recebi alguns amigos em casa e apenas fizemos coisas rotineiras. Quando eles deixaram a casa fui a uma cadeira sentar, apenas via o tempo passando até que com uma fina linha de raciocínio um sentimento de déjà-vu me atinge
Já tinha sonhado com aquilo, percebi que tinha sido o sonho com "aquilo". Lentamente virei o rosto até que consegui ver a parede na qual ele deveria estar, nada lá, não tinha absolutamente nada e soltei um riso leve de alívio
Andei com passos leves até a parede, Fitei ela de cima a baixo, levantei o braço lentamente e o coloquei para frente como se eu fosse um cego procurando me orientar, até que senti o frio na ponta dos meus dedos, tentei colocar a mão mais para frente mas meus dedos não passavam dali e começaram a dobrar como se eu tivesse entrado em contato com algo, logo senti um aperto no meu pulso, um aperto forte que me remeteu a um sentimento de nostalgia.
Um dia sai de casa para uma festa escondido, minha mãe não tinha deixado eu sair com meus amigos para festa mas mesmo assim fui, de alguma forma ela descobriu que eu tinha ido e para onde eu tinha ido, ela entrou na festa e me segurou pelo pulso, me puxou e arrastou até em casa, aquele aperto me lembrou disso mas logo me veio o segundo sentimento. Senti algo me observando de cima e as lágrimas começaram a escorrer meu rosto como lágrimas escorrem o rosto de adolescentes, o aperto que era apenas uma mão virou duas e começou a ficar mais forte
Logo as lágrimas começaram a escorrer meu rosto, eu percebi que naquele momento eu seria morto, eu percebi que naquele momento a minha patética vida iria chegar ao fim, meu pulso começou a estralar, olhando para meu pulso eu conseguia ver marca de mãos, mãos que eu não conseguia ver mas sentia. E em um momento a pressão simplesmente sumiu, nesse momento meus olhos arregalaram e eu percebi que a minha vida era como a vida de um mosquito e aquilo que apertou meu pulso era como um humano que sem pena poderia me esmagar quando bem quisesse
Não aguentei ficar na casa, o sentimento de insegurança sempre me tomava e de noite eu já não conseguia dormir, eu sentia coisas tocando minhas costas gentilmente, dedos passando pelas minhas coxas e braços
Passei alguns dias na casa de amigos, pulando de casa em casa, cheguei em uma casa duplex na qual a cozinha inteiramente ficava na casa de baixo
As pessoas da casa trabalhavam e eu ficava a maior parte do dia sozinho
A casa onde ficava a cozinha era cheia de cômodos vazios e fotografias. Eu ficava envergonhado de não estar fazendo nada na casa e apenas dando trabalho então fazia pequenas coisas, lavava pratos, colocava comida para os cachorros, dava água para as plantas entre outras coisas
Sempre fui acostumado a não ligar as luzes de manhã e usava apenas a luz necessária, um dia estava lavando os pratos quando pelo canto do meu olho percebi algo parado e após isso senti algo passando no meu pé como se alguém gentilmente passa-se as unhas nele, olhei para o lado e não tinha nada lá até que senti uma brisa leve que foi aumentando e as páginas do calendário que ficava em cima da pia começaram a passar
Dei de ombros e continuei lavando os pratos até que novamente vi aquilo dessa vez mais perto e quando virei o rosto, novamente não vi nada
Desliguei a água e comecei a andar para a saída, passei pelo canto que tinha visto o vulto e continuei, quando cheguei a alguns passos de distância da porta que dava acesso para escada senti mãos por todo o meu corpo e quando tentei andar novamente às mãos me apertaram completamente, apenas conseguia mexer os dedos e os olhos
Até que senti nas minhas costas a presença novamente, a presença de algo, eu escutava um arrastar de tecido e passos pesados, aquilo andava lentamente e as mãos não mostravam perder força, tentei gritar mas senti uma mão na minha boca e logo na minha garganta dificultando minha respiração
Senti minhas costas queimando como se alguém estivesse fazendo uma tatuagem em mim com fogo
Eu sentia vontade de chorar e soluçar mas as mãos impediam meus soluços e lágrimas corriam meu rosto. Fechei os olhos e pedi para aquilo acabar logo, escutava os passos enquanto tentava me soltar, senti dedos abrindo minhas pálpebras, os apertos ficavam mais fortes e começavam a puxar meu braço para trás
Eu sentia a presença chegando cada vez mais perto, minhas costas ainda queimavam e eu tentava me soltar com todas as minhas forças até que eu senti sua respiração em meu pescoço, aquele ar gélido sendo dispersado no meu pescoço e sua mão fria tocando meu ombro
Eu colocava mais força em todas as partes do meu corpo até que senti o alívio, corri e só quando cheguei na porta olhei por cima do ombro
Uma mulher velha de cabelos grisalhos estava em pé parada apenas olhando na minha direção, ela tinha aquela expressão cansada e vestia um vestido rasgado preto, seu rosto era completamente marcado por rugas, parecia o rosto de alguém que muito sofreu na vida
Subi as escadas o mais rápido que consegui e quando cheguei na parte de cima escutei aquele urro inumano vindo da casa de baixo
Quando me acalmei e olhei no espelho as minhas costas estavam marcadas com uma letra "x" que ia de ponta a ponta
Desde aquele dia eu nunca mais tive nenhum contato
As vezes de noite ainda consigo ver coisas pelos cantos dos meus olhos e ainda me sinto sendo vigiado por olhares que não me deixam dormir
VOCÊ ESTÁ LENDO
Histórias De Terror
Short StoryOs seus piores medos, todos reunidos nessa coletânea de histórias. Bons sonhos Capítulos independentes, Sinta-se livre para pular ou ler em ordem aleatória Se você está lendo essa história em um site que não é o wattpad, te convido a ler pela fonte...