II - Joffrey, o Destemido

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Na luz cálida do luar, a Catedral de Santa Maria del Fiore se tornava ainda mais grandiosa e magnífica aos olhos de Sansa que se debruçava na janela de sua carruagem. Seu olhar se perdia deslumbrado em tal fascinante arquitetura, desde a magnitude de todo o edifício até a perfeição das rosáceas, suas pétalas distribuídas harmonicamente na fachada principal. Afastou com delicadeza a cortina para admirar o domo, ouvira de seus novos servos, de origem toscana, — uma astuta cortesia dos Tyrells — que era a maior do mundo. Tinha que admitir que era incomparável, jamais vira algo parecido. Ansiava pelo momento que teria a permissão de assistir uma missa, pois conjecturava que o interior a deixaria novamente boquiaberta em êxtase.

Outro detalhe que a impressionara, fora a quase ausência de camponeses à deriva nos becos das casas e igrejas. Oposto do que costumeiramente observava em sua casa, na simplória Escócia, e na Áustria. Nesses países, apenas havia justiça para os nobres, os camponeses eram como baratas, vistas como descartáveis e facilmente esmagáveis pela sola de seus senhores e reis. Pelo que se lembrava de ter escutado, os bancos florentinos ajudaram e tiraram muitos da fome, dando-lhes um objetivo na vida com seus empréstimos. O que, na sua visão, era honrável. Porém, não achava que eles fossem diferentes dos outros já que isso traria a aprovação do populacho, uma jogada sutilmente astuta.

No entanto, não seria a responsável por julgá-los. Seria recomendável fazer o máximo de aliados possíveis quando se tem a censura da igreja em relação aos juros e a desavença das outras nobres casas italianas que sempre encontrariam prazer em lembrá-los que antes de toda a riqueza eles não passavam de reles mercadores. Supunha que eles desejavam algum benefício austríaco, pois seria estúpido pensar que os Tyrells convidariam os dois apenas por divertimento. Ponderou, que faria sentido se fosse alguma rota comercial ou algo semelhante.

Também tinha ciência que obter essa vantagem não seria uma tarefa descomplicada, considerando que o seu esposo se mantinha irredutível em uma questão. Em troca, pretendia receber uma quantia mais que considerável de empréstimo para retomar as terras de seu moribundo pai, as quais estavam atualmente sob a posse de Stannis Baratheon, o tio que tanto odiava, uma guerra frívola e fadada ao fracasso. Havia momentos em que ela conjecturava que Cersei somente o apoiava nessa empreitada para reforçar a ideia da honra e bom caráter de seu primogênito entre seus vassalos. Sansa acreditava que mesmo se ele recebesse esses florins não teria capacidade de administrá-los. O rapaz era mais estúpido que uma porta corroída por cupins.

Conteve, a contragosto, o seu arrebatamento ao ouvir seu marido bufar aparentemente irritado com o interesse da ruiva com a cidade. Às vezes, pensava amargamente que Joffrey deveria ter casado com uma estátua, pois no final das contas era isso que ele a obrigava a ser. A esposa de enfeite, silenciosa, servil e sem nenhuma pretensão, exceto a de agradar o seu senhor. Em silêncio, puxou de volta o tecido para esconder de ambos a visão do exterior e aplacar um pouco a ansiedade do outro.

Se ao menos engravidasse de um menino, poderia até mesmo expressar o desejo de morar num mosteiro de freiras, longe de tudo e todos. Até apreciava titubear como seria a sensação de carregar um bebê em seu ventre, poderia ser o seu refúgio, mas já tinha a consciência de que seu filho seria arrancando de sua proteção, para ter a tutela de sua inescrupulosa sogra. Esta que considerava a nora totalmente incapaz de educar o futuro herdeiro da casa do veado coroado e do leão dourado.

Alisou a saia, sentindo um aperto no peito. Os dias que passara na República de Florença foram suficientes para fazê-la sentir ainda mais pequena e ignorante diante de todo esplendor e suposto avanço. De certa forma, vestira-se com o intento de agradar os italianos, até pintara os lábios e perfumara as mechas escarlates com a sua essência preferida.

Trajava um vestido de veludo na tonalidade de vermelho acobreado, o apertado corpete de brocados dourados de damasco à moda austríaca e com um decote quadrado que desnudava seu colo alvo, a saia lhe dava certa liberdade de movimento ao ser ligeiramente rodada, um camafeu de ouro com o bravo leão Lannister repousava em seu pescoço. Em honra à ocasião, pedira a Shae e Wynafryd Manderly que fizessem o seu penteado semelhante à das mulheres italianas: uma coroa de tranças sustentava a rede de pérolas resplandecentes que envolvia uma parte de seu cabelo, a outra escorria cacheado e rubro como o fogo pela sua cintura abaixo de um véu de tule no tom do salmão e todo enfeitado com rendas delicadas.

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⏰ Última atualização: Jul 03, 2019 ⏰

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