Créditos a capista: @Jhennypatyll e ao @Projeto_CM
'''Você esquece como é viver quando já está morto a muito tempo.'''
Kalleai nunca teve medo do escuro. Era seu momento preferido quando tudo se apagava, Alice insistia em dizer que havia outro modo...
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Paris-França, 1637 Arredores da Mansão dos Duran
O jovem mestre corria pelo bosque rindo, era possível escutar a voz de uma senhorita logo atrás do garoto. O mesmo ignorava qualquer chamado e alerta, pulando entre as rochas com uma facilidade enorme, sem ao menos sujar sua vestimenta. A neve caia firmemente enquanto ele torcia para pararem de segui-lo, estava ficando cansado de se sentir preso. Sua casa parecia uma sufocante cela, as decorações e serventes andando para lá e para cá deixaram ele mais nervoso e irritadiço.
Mesmo após implorar para o pai não fazer aquela festa, foi ignorado. Kalleai não queria de forma alguma escolher uma pretendente para se casar, em seus poucos treze anos de vida não queria herdar a fortuna dos Duran, não queria casar com uma pessoa desconhecida, e também, não queria que essa pessoa fosse uma mulher.
Seu olhar compenetrado, seus passos leves e rápidos evitaram que a jovem criada o encontrasse. Afinal cresceu brincando na floresta com seu irmão mais velho, que a poucos anos fora para guerra e não voltara, deixando-o sozinho com um pai rígido e uma mãe submissa. Aquele era seu lar, ele conseguia ser extremamente discreto com seus movimentos, sem fazer som algum.
Meia hora depois, já tinha certeza que não era mais seguido, subiu na maior árvore do centro da floresta, seu pequeno castelo estava ali, uma casa na árvore que seu irmão e ele montaram antes do mais velho embarcar para a morte. Ficava tão escondida que não importava o quanto a pessoa que estivesse em baixo procurasse, seria perda de tempo. Kalleai estava seguro ali.
Assim que ficou de pé sobre a madeira maciça, retirou cada peça de roupa, fazendo com que sua pele ficasse aliviada, pois a roupa coçava. Colocou uma grande camiseta de seu irmão e meias confortáveis, enquanto se jogava no amontoado de travesseiros com penas de gansos. Puxou seu caderno debaixo da pequena taboa solta, pegando a tinta e a pena, para rabiscar nas folhas. A imagem de seu irmão mais velho aos poucos foi se formando, ele sorria brilhantemente ali, o único sorriso que precisava, não existia mais nada que o fazia tão feliz. O pequeno menino nem percebeu quando dormiu abraçado ao caderno.
Já era tarde da noite quando despertou, piscando lentamente para se acostumar com a escuridão, percebeu que estaria enrascado quando chegasse em casa, o Senhor Duran não deixaria seu deslize passar novamente em branco. Levantou apressado, trocando de roupa rapidamente. Acendeu o pequeno lampião, descendo com cuidado os galhos. Ergueu o objeto em sua frente enquanto voltava pelo mesmo caminho que havia fugido, já sentindo sua pele arrepiar e o nó em sua garganta se formar, seu pai não seria cuidadoso ao castiga-lo, tentava pensar positivo, entretanto, sabia que até sua mãe negaria o ajudar.
- Cruel...Cruel...
Murmurou baixinho enquanto saltava de uma pedra para outra. Seus olhos flagraram algo se mexendo entre as árvores, bruscamente parou, respirou fundo afastando os cabelos negros de sua visão, para observar em volta com mais exatidão. Não fez a pergunta tola, pois sabia que seus olhos não tinham o enganado, havia realmente alguém o observando, ou melhor sabia exatamente quem era.
