Marcante

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“(…) Something in the way she moves
Attracts me like no other lover
Something in the way she woos me.
Something in the way she knows
And all I have to do is think of her.”

SomethingThe Beatles

***

Estávamos juntas há pelo menos três anos e, desde o começo, nossa relação sempre foi um misto de afeto e a mais pura sacanagem. Entre nós, as coisas constantemente assumiam um novo nível de erotismo; mesmo após tanto tempo, Suzanah ainda me provocava uma espécie de frenesi com as suas loucuras. 

Não poderia ser diferente; havia algo em seu jeito, que me atraía mais do que qualquer outra. Por traz da mulher imponente e do olhar impassível, havia um divertimento malicioso, aquele ar indecente de quem sabe o que está fazendo. Oh Deus, obrigada por essa mulher deliciosa ser minha.

- É pessoal, realmente está ficando tarde. Acho que já é hora de irmos embora.  – Ela se dirigiu à turma, me arrancando dos devaneios com a voz rouca, que fazia meu coração saltar dentro do peito – Amor, vamos chamar um Uber?

- Hã? – Respondi, meio tonta, só pra variar. Pudera; ainda estava me recuperando de suas brincadeirinhas perversas. 

- Sim, Jay, Uber. Posso chamar o nosso Uber? – Abriu aquele sorrisinho de lado e minha boceta encharcou.

- É, sim, por favor, Uber – Respirei fundo, tentando elaborar uma resposta coerente – Sim, amor, um Uber seria ótimo. Obrigada! – Não me ocorreu perguntar para onde iríamos. De certa forma, não fazia diferença; eu iria a qualquer lugar onde ela estivesse.

Suzanah sacou um celular caríssimo de bolso e começou a transitar pelo aplicativo. Eu fiquei olhando para o seu rosto e me perguntando como alguém poderia ser tão gata! Puta que pariu, era simplesmente alucinante. De imediato, lembrei da ocasião na qual a conheci, há alguns anos antes...

Encontrei Suzanah pela primeira vez através do Tinder, em uma das muitas madrugadas em que zapeava pelo serviço, sem realmente pensar no que estava fazendo; assim, deslizava para a esquerda sem parar, não conseguindo sentir interesse por nenhuma das garotas que apareciam na tela. Eis que, nessa brincadeira, me deparei com o perfil dela. Foi como se uma lâmpada tivesse acendido na minha cabeça.

Dei uma vasculhada no perfil, procurando por mais informações; ao que parecia, ela era jovem, bonita e bem relacionada, já que estava acompanhada em praticamente todas as fotos. Aquele humor perverso e com uma pontada de sarcasmo estava presente até na descrição, o que me deixou intrigada logo de início. Foi match instantâneo.

Conversamos por algumas noites e, a cada vez, ela me surpreendia mais com o seu jeito sacana e perspicaz de me conquistar.
Não demorou para que o flerte se transformasse em uma conversa, digamos, acalorada. No entanto, na melhor parte do assunto, eu sempre conseguia escapar – E, de certa forma, deixa-la no limite se transformou em minha brincadeirinha particular.
Eu dormia a boceta molhada, depois de gozar muitas vezes, pensando nas obscenidades que ela me dizia e no poder de tê-la nas mãos.

Na sexta-feira, marcamos no Johnnies, um barzinho frequentado especialmente pela galera universitária da cidade. Para mim não seria novidade; não era a primeira vez que encontraria uma garota do Tinder – E possivelmente não seria a última.
Os dez anos de experiência no Vale Sapatonesco tinha lá seus benefícios e eu conseguia me virar com tranquilidade. Via de regra, ficava com as mulheres que eu queria e ditava as regras do jogo.

Cheguei com alguns minutos de antecedência e escolhi uma mesa, o mais distante possível do apinhado de gente. Pretendia desfrutar ao máximo e colocar em prática a velha tática de guerra – Afinal, poucas coisas funcionavam tão bem quanto vinho e uma boa conversa.

Ela deve estar a chegando, pensei, enquanto tamborilava, distraidamente, os dedos sobre a mesa. Aproveitei para dar uma última conferida no espelho e retocar o batom, pronta para causar um grande impacto.
Estava absorta nessas amenidades quando a vi – Sim, ali eu realmente a vi. E de repente eu só conseguia olhar para ela.

Ela entrou no bar, segurando o celular em uma mão e um guarda-chuva na outra, enquanto tentava se livrar do resquício de água que escorria de leve pelos cabelos compridos e escuros. Eu, que nem havia percebido a chuva, agora não conseguia tirar os olhos do resultado que ela causara na mulher à minha frente – Aquela blusa molhada, levemente transparente, destacando o contorno dos seios.

Suzanah estava deliciosa. Usava uma jaqueta de couro e uma camisa azul clara, de tecido leve, que contornava perfeitamente as curvas do seu corpo. Percebi, com um misto de curiosidade e tesão, que os dois primeiros botões estavam abertos, revelando um caminho de pele macia e lasciva. Ali, perdido entre o decote, havia um pingente escuro, semelhante à uma lua. De pronto, me imaginei arrebentando aquele colar enquanto sugava o seu mamilo com força. Enrubesci com a intensidade do pensamento.

Segui com o olhar, tentando absorver o máximo dela, procurando perceber todos os detalhes. Ela era alta e tinha os cabelos lisos, que desciam até abaixo dos ombros. Sua pele era clara, em um tom peculiar de marfim, que contrastava diretamente com a boca naturalmente rosada. Notei, com deleite, que não usava maquiagem; sua beleza natural me deixou excitada e levemente entorpecida.

Meus pés moveram-se sozinhos e, antes que eu pudesse perceber, estava parada diante dela. De imediato, me olhou com um misto de estranhamento e curiosidade – Afinal, o que aquela suposta semidesconhecida estava fazendo?
Os segundos se passaram e eu continuei muda, completamente absorta na tentação à minha frente.

Agora que eu estava mais perto, conseguia sentir o seu cheiro, como uma espécie de nuvem de enigma e desejo à nossa volta. Era diferente de tudo o que eu já conheci; um aroma levemente adocicado, todo dela, como um buquê de lilás, ameixas e sol.

Sem conseguir me controlar, me aproximei ainda mais, tentando aspirar aquele perfume maravilhoso que vinha de sua pele...

- Oooi Ela chamou minha atenção, de forma gentil e brincalhona, já que eu ainda não havia dito sequer uma palavra.

Foi como um estalo. Percebi que estava fazendo papel de louca e abri os olhos. Foi o que bastou, para meu rosto começar a queimar, da bochecha à raiz dos cabelos.

- Errr – Pigarreei – Oi. Opa. Desculpa. Que chuva né? Nossa, eu nem tinha visto que estava chovendo. Caramba. Mas quando vim para cá, o tempo estava muito tranquilo, não sei o que aconteceu (...) – Por que eu estava falando do tempo? Que idiotice!

Suzanah continuou me observando, os olhos parecendo me engolir, enquanto eu tagarelava coisas sem sentido e na velocidade da luz.
Ela não parecia se importar; continuou me observando calmamente, de um jeito meio misterioso, como se estivesse tentando me decifrar.

O monólogo estranho durou alguns minutos – O que, para mim, pareceu uma eternidade. De vez em quando ela assentia, de forma educada, e eu voltava a falar, possivelmente tentando conter o efeito reverso à sua presença.
Em um último ato desesperado, terminei a minha taça de vinho, e depois outra, tentando controlar a reação. Obviamente não funcionou.

Senti o calor que se espalhava pelo meu rosto descer de forma indiscriminada, em direção ao restante do meu corpo. Cruzei as pernas e engoli em seco; ela deu uma risadinha, quando eu finalmente consegui fechar a boca.

- Tsc tsc tsc Ela se aproximou lentamente; os olhos intensos me fitando de perto – Jay, Jay, minha cara Jay. Sinto lhe dizer, mas – Senti seus lábios roçando minha pele sensível, entre a mandíbula e a orelha – A partir de agora você vai aprender o que é brincar de verdade.

Sua voz estava rouca de tesão e minha boceta começou a latejar, doendo pela necessidade de contato. Mesmo ali, enquanto seu hálito quente arrepiava minha pele, soube que ela falava sério.
Não importava; eu queria experimentá-la por completo.

Sob a Luz do DesejoOnde histórias criam vida. Descubra agora