III

3.1K 519 182
                                    

Uma das coisas das quais realmente me orgulho nessa vida é de não ter problema para falar em público, uma habilidade muito bem-vinda na minha profissão

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Uma das coisas das quais realmente me orgulho nessa vida é de não ter problema para falar em público, uma habilidade muito bem-vinda na minha profissão.

Não fui sempre assim, lembro que durante os primeiros períodos da faculdade eu só faltava desmaiar de nervoso. Gaguejava, ficava tonta, sentia vontade de vomitar. O nervosismo nunca me abandonou, mas, entre os anos de prática em sala de aula e a quantidade de palestra que já dei desde que comecei o mestrado, quase há um ano e meio, a prática superou a falta de jeito e hoje sou realmente muito boa em apresentações de qualquer tipo.

É com isso em mente que passo os vinte minutos que tenho para apresentar meu projeto com um sorriso no rosto, usando uma caneta para apontar uma coisa aqui e ali na tela projetada atrás de mim, sem mal olhar para os slides, porque realmente sei o que estou fazendo.

O leve sorriso de aprovação do meu orientador, sentado à mesa ao lado do responsável pela seleção dos alunos a serem enviados para o exterior, me dá um empurrão extra. Quando paro de falar e agradeço pela audiência, o silêncio que se segue dura apenas alguns segundos, mas parece o suficiente para que as batidas firmes do meu coração sejam ouvidas da lua.

Empino o queixo, arrumo a postura e espero.

— Rebecca Duarte...

— Schäfer — completo, oferecendo a pronúncia correta do meu sobrenome, já acostumada com a pausa que se segue sempre que alguém precisa ler meu nome completo.

Antônio Ferreira, um homem já no alto dos seus sessenta anos, mas longe de ter qualquer traço cândido normalmente associado a essa idade, oferece-me um balançar de cabeças antes de continuar.

— Você parece preencher todos os requisitos que estamos procurando. Escuta, menina, essa é uma oportunidade única e não foram poucas as inscrições que recebemos. É o nome da minha instituição também que está em jogo quando eu assino a aprovação de um aluno para um dos nossos parceiros internacionais. Só quero ter certeza que você entende a seriedade disso tudo. Não é uma bolsa para você passar um ano viajando pela Nova Zelândia de férias, é para trabalhar.

Sinto meu sorriso vacilar por um segundo ao ouvir o "menina", mas engulo a irritação e a vontade de tacar a caneta que estou segurando em cima dele. Repito para mim mesma que todos esses avisos são só burocracia obrigatória, afinal, é realmente muito dinheiro.

— Posso garantir que levo meu trabalho muito a sério. Não estaria aqui em um sábado de manhã quando a maioria dos meus colegas se limita a trabalhar se segunda a sexta em horário comercial se não fosse o caso — respondo simplesmente.

Não vou me dar ao trabalho de listar as crises de choro que tive no último ano, no meio da noite no laboratório vazio, puramente por estresse e cansaço, quando todo mundo com bom senso já estava cansado de estar em casa. Definitivamente não vou começar a enumerar a meia dúzia de cicatrizes que adquiri recentemente durante os mergulhos. Sequer considero sugerir que olhe para o raio do meu currículo que fala por si só e, se não falar, a lista de artigos publicados com meu nome entre os autores é o suficiente para encerrar a discussão.

Beba antes de casar [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora