II

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Não sou dada a pânico

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Não sou dada a pânico. Isso não significa que eu não surte de vez em quando; eu surto, e não é nada bonito quando acontece. Mas não sou dada a me desesperar em qualquer situação boba. Eu sou uma cientista, caramba! É parte do meu trabalho ser capaz de olhar para uma situação e rapidamente criar uma teoria que explique o cenário de forma lógica e racional.

E é exatamente isso que eu tento fazer.

Só tento mesmo, porque minha mente só me dá uma resposta óbvia: eu passei a noite aqui. Nesse quarto. Vestindo essa blusa masculina que muito provavelmente pertence à criatura sentada na cama, ainda me encarando.

Certo.

Qual o pior que pode ter acontecido?

— A gente...?

Desvio meu olhar do dele, balançando a cabeça.

— Eu não lembro de absolutamente nada do que aconteceu depois que eu saí do bar. O quanto eu bebi? — murmuro para mim mesma mais do que para ele. Solto uma risada de puro desespero. — Ah, caceta. Se eu estava bêbada o suficiente para nem lembrar de como vim parar aqui, tenho certeza que estava bêbada demais para saber o que estava fazendo da vida mesmo. Acho que não quero saber.

O anel de noivado prateado com uma pedra ostentosa demais pesa na minha mão esquerda. Começo a tentar elaborar uma maneira minimamente racional para explicar para o Breno o que eu fiz, seja lá o que isso tenha sido.

Quando noto que o quarto caiu em um silêncio longo demais, volto meus olhos para o homem. Não tem mais divertimento nenhum no seu rosto, muito pelo contrário. Irritação. É bem fácil identificar o que está nos olhos dele agora. Um estado profundo de insatisfação que emana de cada poro descoberto do seu corpo enquanto ele levanta e contorna a cama, parando bem perto de mim. Bem perto mesmo. Levanto a cabeça para olhá-lo, mas nem preciso levantar muito, porque se teve uma coisa com o que eu fui agraciada nessa vida foi altura. No auge dos meus quase um e setenta, ele é só uma cabeça mais alto que eu.

— Eu sei que você não me conhece — começa, os olhos fixos em mim. Sua voz é calma e baixa, grave e meio rouca. Ele não altera seu tom, mas nem precisa, porque consigo sentir a seriedade absoluta em poucas palavras. — Mas você mesma disse que estava bêbada demais para lembrar de qualquer coisa. Eu nunca encostaria em uma mulher naquele estado.

Sinto-me como uma criança levando bronca, mas isso só me faz empinar mais o queixo. Ah, pronto. O outro agora quer que eu tenha bola de cristal para adivinhar o caráter dele. Abro a boca, parte de mim querendo pedir desculpas, parte de mim querendo dizer que eu não tinha como saber, parte de mim querendo agradecer. Mas tudo que sai é:

— A menos que eu tenha vindo parar no seu quarto porque aprendi a voar pela janela, alguma coisa você tem a ver com isso — respondo, no mesmo tom.

Mentira. Não é no mesmo tom não, porque realmente não tenho essa classe toda. Minha voz sai meio irritada e quase histérica. Passou o desespero agora que sei que não, não traí meu futuro marido. Mas ainda estou irritada, principalmente comigo mesma, porque esse homem está absurdamente perto de mim e eu não dei nem um passo para trás. Quando digo perto, é perto mesmo. Uma inclinadinha para frente e dá para encostar. Ele tomba a cabeça levemente para o lado.

Beba antes de casar [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora