UM - O INÍCIO

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C L A R A

ANOS ANTES

O cemitério municipal da cidade era um labirinto de túmulos. Havia uma pequena capela aonde os corpos eram velados e uma calçada estreita cortava um gramado denso e verde até chegar ao local onde se encontrava o primeiro bloco de túmulos. Para Clara era estranho saber que em um daqueles túmulos agora pertencia a alguém que ela conhecia.

Ela não se aproximou das pessoas que estavam ao redor do caixão. Clara permanecia assistindo a cerimônia de longe. Se concentrando em cada rosto ali presente, buscando em sua memória alguma recordação ou lembrança, mas ela só reconheceu os pais do garoto que estava sendo enterrado.

– Você o conhecia? – Perguntou um rapaz alto e magro parando ao lado dela. Clara estava tão absorta observando a cena que levou um susto quando aquele rapaz apareceu do nada.

Ela o encarou sem falar nada por um instante. O rapaz olhou para o enterro que acontecia e em seguida desviou o olhar para ela, na espera da resposta pela pergunta que ele havia feito.

– Não, eu só gosto de assistir enterros de desconhecidos – respondeu ironicamente fazendo o rapaz soltar um risinho.

Clara encarou o rosto pálido daquele rapaz estranho, os cabelos castanhos estavam desgrenhados e havia profundas olheiras embaixo de seus olhos azuis. Ele era alto, magro, usava roupas gastas e não parecia ter mais de vinte anos de idade.

– Credo – disse ela para ele. – Você parece que saiu de um filme de terror estrangeiro.

O rapaz a encarou curioso.

– Por que estrangeiro? – Perguntou ele arqueando uma das sobrancelhas.

– Porque você parece tão péssimo quanto um – respondeu Clara categoricamente voltando a encarar o enterro. O rapaz voltou a rir.

Os dois ficaram em silêncio por meio minuto. Clara já estava começando a se sentir desconfortável com a presença daquele estranho ali. Ela cruzou os braços e soltou um suspiro impaciente.

– Você vai tentar me estuprar? – Perguntou ela impaciente. O rapaz a encarou assustado. – Porque se você for tentar, saiba que o próximo enterro nesse cemitério vai ser o seu.

– Jesus, não – disse ele sem acreditar no que Clara havia acabado de falar. – Eu só estou interessado no velório – ele voltou a encarar a cena que acontecia mais a frente – uma pessoa que eu procuro pode estar ligada ao assassinato desse garoto.

Clara engoliu a saliva toda de uma única vez.

– Assassinato? – Perguntou ela. – Me disseram que ele foi vítima de uma bala perdida – ela estava confusa.

– Bala perdida porque ele não era o alvo – respondeu o rapaz ainda encarando o velório. – O alvo era o namorado dele.

Clara soltou um risinho de incredulidade o que chamou a atenção do rapaz ao seu lado o fazendo a encarar novamente.

– Eu quase não acreditei quando me disseram que ele estava namorando outro rapaz – Clara buscou por antigas recordações na memória. – E acreditei ainda menos quando descobri quem era o outro rapaz.

– Então você o conhecia – afirmou o estranho, fazendo Clara revirar os olhos.

– No ensino médio – começou ela – no penúltimo ano, havia um garoto que era extremamente apaixonado por mim. Ele era um pouco estranho, isolado, não tinha amigos – as recordações eram dolorosas. – Então ele escreveu em um diário um monte de cartas se declarando para mim...

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