FOUR

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CAMILA'S POV

Eu nunca fui uma pessoa que acredita muito no acaso. Um acontecimento inesperado não surge à toa, muito menos deve ser abandonado no mar do esquecimento como se não houvesse sentido algum em sua existência.

Não é assim que funciona.

O universo possui o dom de sempre fazer coisas extraordinárias acontecerem. Imagino que ele deva atrasar um relógio aqui, estourar um pneu ali e, voilá, temos um acaso que pode mudar completamente as nossas vidas.

Desliguei a ligação com um sorriso divertido no rosto, mas bastou apenas a loira reaparecer na sala de música para meu sorriso desaparecer.

– Consegui remarcar a entrevista na rádio para o sábado e o almoço com Matthew para domingo. - Rolei os olhos, largando meu celular no sofá. –  Como teremos o show, ele ficará encarregado de te levar até à arena.

–  Que romântico. –  Debochei, levando a garrafa de água até a boca. –  Depois disso será que eu terei tempo de ir ao  banheiro?

–  Iremos pensar no seu caso, mas de antemão. –  Ela apontou para mim em sua pose autoritária. –  Não estrague tudo.

–  E alguma vez eu já estraguei? –  Sorri falsamente sem mostrar os dentes. –  Então não enche a porra do meu saco, Dinah.

–  Precisamos melhorar esse seu vocabulário. –  Retrucou inabalável e eu lhe dei as costas para pegar o violão do suporte. –  Victor não parece estar muito satisfeito mexendo nas suas gravações. Você fez alguma coisa que esqueceu de me contar?

–  Eu não fiz nada. –  Respondi ríspida ao sentar em uma cadeira próxima ao piano. –  E pode mandar Victor pro inferno também. Eu não ligo.

–  Okay, aconteceu. –  Minha manager concluiu e se aproximou, fazendo os saltos de seu scarpin clicarem no chão lustroso. –  Quantas vezes preciso te lembrar que seu álbum está nas mãos dele agora e que você precisa colaborar pra essa merda sair perfeita?

–  Olha quem está usando o vocabulário sujo agora. –  Joguei de volta e dei graças à Deus por ver minha técnica vocal atravessar a soleira da porta. –  Ashley chegou. Se você puder nos dar licença, temos trabalho à fazer.

Dinah permaneceu me encarando por três segundos antes de girar sobre os calcanhares e sair da sala. O assunto não tinha encerrado e eu sabia disso, mas pelo menos eu não teria que lidar com suas ordens àquela hora da manhã.

– Quando você irá parar de me usar como desculpa para não voar no pescoço dela? –  Ashley perguntou risonha, ajeitando as partituras sobre o piano.

– Espero que nunca. – Respirei por cima do fôlego, arrastando minha cadeira para mais perto do piano de cauda.

Era um dos meus momentos preferido dentro daquele estúdio. Ashley não me pressionava ou citava ordens. Era apenas ela, a música e eu soando naturalmente por entre aquelas quatro paredes acústicas durante três horas.

– Vamos começar com um aquecimento simples. – Ela falou, sentando-se ao piano. – Só de te ouvir falar já percebi que suas cordas vocais estão completamente tensas.

-x-x-

O teto pintado de laranja sempre foi algo que me intrigou bastante desde a primeira vez que entrei naquele consultório. E eu, sendo uma pessoa de “porquês”, perguntei à Sidney o porquê daquela cor tão viva em um teto. Sua resposta foi apenas uma risada junto à uma promessa de que me contaria na próxima consulta, mas eu não tinha tempo para jogos, além do fato de ser extremamente curiosa.

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