LURK

SIX

CAMILA'S POV

Dormir nunca foi uma tarefa muito fácil de ser realizada por mim.

Esse fato se remetia à minha hiperatividade diagnosticada na minha infância. Para me fazer dormir, era necessário um dia repleto de atividades físicas e mentais, assim, quando a noite chegasse, meu cérebro estaria tão exausto que me deixaria desconectar do mundo à minha volta.

Virei outra vez na cama redonda, olhando a janela entreaberta. Dava para escutar o som de um carro ou outro que passava pela rodovia. A luz da lua clareava o céu estrelado, mas eu não conseguia vê-la de onde estava deitada.

Suspirei, cogitando contar as estrelas que me eram visíveis para assim conseguir pegar no sono.

- Não consegue dormir? – A voz baixa e rouca rompeu o silêncio do quarto escuro, bem atrás de mim.

- Ainda não. – Respondi calma, ainda olhando as estrelas, esperando o momento certo para começar a contá-las. – E você?

- Meu relógio biológico é uma droga. – Resmungou e o farfalhar do lençol me indicou que se movimentava sobre o colchão. – O barulho dos carros está te incomodando? Quer que eu feche a janela?

- Não. – Soprei serena.

Abandonei o céu estrelado e novamente virei na cama, de maneira que ficasse de frente para ela.

As luzes do quarto estavam apagadas, mas a mesma lua que iluminava o céu, clareava o cômodo suficientemente para que meus olhos identificassem Lauren deitada no outro extremo da cama, por cima da manta que cobria meu corpo.

Seus dedos estavam entrelaçados sobre o próprio ventre e seus calcanhares cruzados. Os olhos abertos encaravam o teto liso, e mesmo em meio à precariedade de iluminação, eu podia ver o brilhar dos verdes.

- Seu relógio biológico não te deixa dormir porque está dividindo a cama com uma cantora pop ou porque está dividindo a cama com uma mulher semi-nua? – Perguntei simples e Lauren bufou, me dando as costas e me fazendo sorrir divertida.

- Os dois. – Ouvi a resposta na voz rouca vir mais firme. – Mas é mais o fato de que eu estou com frio e o que está te impedindo de estar completamente nua neste momento seja exatamente a minha jaqueta.

- Você quer que eu tire? – Perguntei prestativa.

- Não! Não, pelo amor de Deus! – A negação rápida me fez gargalhar alto, de forma que minha barriga doeu e meus olhos se inundaram de lágrimas. – Do quê você está rindo?!

- De você! – Acusei ainda me recuperando da crise de riso. – Ai, Lauren, você é engraçada. – Soltei entre risadas fracas. – Vive de nudismo, mas fica toda desconcertada comigo. Eu não te entendo, mas é fofo.

Silêncio. Eu cheguei à pensar que ela me deixaria falando sozinha e quase me voltei para contar as estrelas até dormir, mas a voz dela surgiu outra vez.

- Não é fofo. – Resmungou. - E você? Por que não consegue dormir? – Perguntou ainda deitada de costas para mim. – Porque está seminua dividindo a cama com uma estranha?

- Você não é uma estranha. – Sorri fraco, encarando os cabelos negros em suas costas. – E eu não tenho problemas com a minha nudez. – Fugi da questão principal, focando no que seria saudável conversar. – No meio em que vivo, profissionais me vêem nua o tempo inteiro.

- Profissionais. – Lauren citou, virando um pouco o rosto de lado, o que me permitiu ver a pele alva de seu maxilar. – Eu não sou uma profissional.

- Depende do ponto de vista. – Abracei o travesseiro em que estava deitada, esticando o corpo confortavelmente. – Você é uma profissional no seu ambiente de trabalho e é uma futura profissional na sua área de estudo. Tudo depende do ponto de vista.