Não quero ser alguém descartável...
Quero mais do que os olhos podem ver.
Belle
Isabelle
Depois que recebi a carta da minha mãe, demorei a aceitar a verdade de quem sou. No colégio, sempre achei estranho o fascínio que praticamente todos os garotos tinham por mim. Dei o meu primeiro beijo por volta dos quatorze anos. O carinha mais badalado da escola me imprensou contra a parede do ginásio do Colégio e me beijou com intensidade. A sensação de poder que senti foi incrível, e durante todo o fim do colegial, sentia um prazer enorme em ver todos os meninos loucos por mim.
Claro, as meninas morriam de inveja, e isso me tornou impopular entre elas. Era excluída totalmente. Não me convidavam para as festas com medo da atenção que chamava. Isso me magoava demais, e para me defender, aprendi a não demostrar o que sentia. Cresci assim.
Perdi minha virgindade aos dezenove anos com um cara bem mais velho. Ele era namorado de uma das meninas que infernizava minha vida na escola. Foi minha vingança solitária e silenciosa contra toda a humilhação e exclusão que todas as meninas do colégio me faziam passar diariamente. Depois disso, saí com alguns caras, mas nunca me envolvi emocionalmente. Usei e abusei do poder de sedução que possuía durante toda minha adolescência, não me importava de deixar alguns corações partidos no processo, até o dia que meu único e melhor amigo de infância se declarou para mim. Quando isso aconteceu, tinha vinte anos e, vendo seu sofrimento, comecei a me dar conta da gravidade da situação. Até então, nunca me deixei afetar. Eram apenas alguns beijos roubados ou raras vezes apenas sexo. Prazer sem compromisso. Quando o magoei profundamente percebi a pessoa que estava me tornando, vazia e cruel. Desde então, fujo. Fujo de todos, inclusive de mim.
Mas nem sempre consigo. Às vezes, sou dominada pelo desejo de uma forma tão intensa, que inevitavelmente me deixo levar. Mesmo sabendo que não é correto usar os caras assim, eu não consigo evitar. O desejo do outro por mim me enlouquece. Quando um cara se aproxima de mim, louco de tesão, algo se rompe dentro de mim e eu perco o controle das minhas emoções. Já aconteceu várias vezes.
Quando estava na faculdade, para não magoar ninguém, eu me isolei completamente das pessoas, sobretudo dos homens. A dor de perder meu melhor e único amigo me trouxe lições amargas. Não quero passar por isso novamente. Mas nem sempre consigo.
Foi assim que comecei a sentir a necessidade de me afastar das pessoas, de me isolar. Quando você fica muito tempo em um só lugar, é inevitável criar laços, vínculos, que o tempo se encarrega de fortalecer. Quando a ficha caiu comecei a desejar viver em lugares diferentes, só assim controlaria a aproximação das pessoas. Foi muito difícil convencer meu pai a concordar com minhas viagens. Para ele, eu o abandonaria igual minha mãe fez, mas não queria tomar a decisão de partir sem sua concordância.
Depois de muito argumento e de muitas brigas para impor meu ponto de vista — algo que ele nunca engoliu — consegui convencê-lo de que precisava viver novas experiências e comecei a viajar de cidade em cidade. Sem laços. Sem passado nem futuro. Até agora.
Nunca pensei tanto em um cara como tenho pensado no Leo. Alguns dias se passaram desde nosso último encontro no restaurante. Ele não me ligou ou me mandou mensagem e não consigo desenvolver uma capa satisfatória para o livro. Não quero procurá-lo, mas vou ter que fazer isso. Se ao menos eu não pensasse tanto nele...
Ele desperta em mim uma sensação de vulnerabilidade que nunca senti. Isso me atordoa.
Meu Deus, o que está acontecendo comigo?
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Sereia Urbana
DragosteO que fazer quando o seu corpo grita por prazer e seu coração pede por amor? Isabelle sempre teve prazer em despertar desejo. Amar é um verbo desconhecido, seduzir é sua sina. Ela é uma sereia urbana. Vive de paixões temporárias. Sua vida se resume...