Prólogo

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Mariana

— Caio? — Pergunto, abrindo a porta do seu apartamento, que por sinal não está trancada.

Não tenho uma resposta, mas entro mesmo assim e vou para a cozinha. Coloco as sacolas com sopa e remédios em cima da mesa e vou em direção ao seu quarto.

Eu e Caio namoramos há três anos. Tudo começou quando ele se declarou para mim no primeiro ano do ensino médio. Eu achei aquilo tão fofo e romântico que não consegui dizer "não" quando ele me pediu em namoro. Como todo casal normal, fizemos nossos planos, que estão indo muito bem até agora.

Não eram planos mirabolantes ou impossíveis, na verdade eram comuns e simples. Iríamos nos formar no ensino médio, prestar vestibular para uma universidade particular no Rio de Janeiro e morar lá, deixando nossa antiga vida em São Paulo.

Não preciso nem dizer que a minha mãe surtou com essa história. Ela era muito apegada a mim. Desde que meu pai morreu em um acidente de carro, éramos só eu e ela no mundo, então a ideia de não me ter por perto a apavorou, mas ela teve que se acostumar, porque tudo saiu como o planejado.

Caio e eu passamos no vestibular da universidade que queríamos. Bom, na verdade eu passei na universidade, e o Caio conseguiu metade de uma bolsa, mas isso não importa muito, já que há exatamente um mês estamos morando no Rio de Janeiro.

Os pais do Caio, como eram, digamos, bem financeiramente falando, deram um bom apartamento para ele perto da faculdade.

Eu não tinha tanto dinheiro assim, então ele me convidou para morar com ele, coisa que eu não aceitei, pois eu julgava ser intimidade demais. Tudo bem que namorávamos havia muito tempo e que não tinha nada um no outro que não conhecíamos, mas morar juntos, pelo menos para mim, era um passo muito grande.

Eu já estava quase cedendo ao Caio, quando um milagre aconteceu e uma amiga da minha mãe disse que sua filha, que estudava na mesma universidade que eu, estava alugando um quarto em seu apartamento.

Aquilo era mais do que perfeito. Na mesma hora aluguei o quarto e me mudei. A filha da amiga da minha mãe se chamava Clara, e havia outra menina que também alugava um quarto lá, e seu nome era Simone. A afinidade entre nós três foi instantânea. Eu simplesmente estou amando morar com elas. As duas têm as personalidades muito diferentes, e é isso que faz tudo ficar interessante.

Clara é a mais estudiosa e certinha, já Simone é aquela que vive intensamente sem se importar com nada. É raro o final de semana que ela passa em casa.

De certo modo eu até tenho um pouco de inveja da liberdade que ela tem. Como namorei o Caio desde nova, nunca tive muitas aventuras. Praticamente quase tudo que eu descobri da vida foi com ele. O primeiro beijo, a primeira vez, as primeiras brigas, todas essas minhas lembranças têm o Caio como protagonista. Resumindo, minha vida não é tão animada quanto a dela.

Distraída com os meus pensamentos, entro no corredor que dá para o quarto do meu namorado, mas paro na hora ao ouvir gemidos.

O que está acontecendo aqui?

Eu e ele íamos sair hoje, mas há mais ou menos uma hora, Caio me ligou, falando que não estava se sentindo muito bem e que ia se deitar um pouco e dormir para ver se melhorava. Eu fiquei preocupada, por isso fiz uma sopa leve, comprei remédios e vim cuidar dele.

Por um momento penso que esses gemidos são de dor, mas então eles ficam mais altos, já me dando uma ideia do que está acontecendo aqui.

Com um certo medo, vou até a porta e, agarrando-me a um pouco da coragem que me sobra, seguro a maçaneta e abro a porta, deparando-me com uma cena que me faz perder o foco por alguns segundos.

Caio está sentado na cama completamente nu enquanto uma menina loira está entre suas pernas.

Não sei quanto tempo se passa enquanto eu fico observando essa cena sem conseguir me mexer ou falar alguma coisa. Eu perdi qualquer linha de raciocínio que possuía.

A única pergunta que vem à minha mente é: O que eu fiz de errado?

Essa pergunta vai e volta enquanto eu estou aqui como uma maldita voyeur.

Um grito surpreso me faz voltar à realidade.

Caio está me observando totalmente sem cor, enquanto a menina, meio desajeitada, tenta sem sucesso achar suas roupas.

— Mari, meu amor, eu... — ele tenta achar uma explicação, mas não está conseguindo.

Na verdade, acho que nem existe uma explicação para o que eu vi. Está claro, ele me traiu.

A menina finalmente acha seu vestido e sai rapidamente do quarto, deixando-nos sozinhos.

— Escuta bem o que eu vou te falar agora — digo, finalmente encontrando minha voz. — Eu vou sair por aquela porta e espero de verdade que você não tenha a cara de pau de vir atrás de mim. Eu não quero ouvir sua voz por pelo menos 48 horas. Depois disso, você pode me procurar para nós terminarmos tudo decentemente, como dois adultos. Até lá, continue o que você estava fazendo, afinal agora você vai ter tempo de sobra para isso! — Viro-me sem esperar sua resposta.

Saio daqui o mais rápido possível, e ainda tenho o azar de encontrar com a menina loira na sala, terminando de se arrumar.

Ela me olha culpada, abre a boca para dizer alguma coisa, mas não dou a chance de ela falar nada. Saio praticamente correndo daquele apartamento.

Quando finalmente me encontro na rua, permito-me pensar no que acabou de acontecer.

Mas que merda

O que eu vou fazer agora?

Parte De Você - Degustação Onde histórias criam vida. Descubra agora