Capítulo Único

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Estava relativamente tarde quando a campainha de Peggy tocou. Ela franziu as sobrancelhas, estranhando o horário, checando se suas armas estavam realmente em um bom alcance antes de atender a porta.

O rangido da porta de madeira sendo aberta só não foi mais alto do que o suspiro surpreso que Peggy soltou ao ver a pessoa que estava parada do outro lado.

Ainda que Steve não estivesse exatamente como Peggy se lembrava - afinal mais de 25 anos haviam se passado -, ele parecia exatamente o mesmo que havia sacrificado a própria vida como herói que ele já tinha provado inúmeras vezes que era.

— Steve? — os olhos dela estavam se enchendo de lágrimas, tendo como principais motivos o triste sorriso do homem e o calor que seu corpo emanava. — Quando… Como…

— Eu precisava te ver, Peggy. — a voz dele parecia completamente despedaçada, e aquilo despedaçava o coração da mulher. — Eu preciso daquela dança.

Mesmo ainda sentindo as lágrimas juntando nos olhos, Peggy sorriu antes de segurar a mão de Steve e o puxar para dentro da casa, fechando a porta. Eles foram até o centro da sala e a mulher ligou sua vitrola, deixando que uma doce melodia preenchesse o ambiente.

A forma como os braços de Steve se fecharam ao redor da cintura de Peggy, a puxando para perto, era íntima demais. Ela se sentiu um pouco, levemente assustada, mas mesmo assim deitou a cabeça no ombro do loiro.

Durante todos aqueles anos em que ela tinha acreditado que havia perdido Rogers para sempre, a vida de Peggy resumia-se à SHIELD e à constante questão do "e se?". Mas agora ali estava Steve, a segurando como se Carter fosse todo o seu mundo, mais como uma necessidade do que uma vontade. Ela então afastou um pouco a cabeça, olhando nos olhos azuis e intensos de Steve.

Peggy o beijou.

Mas Steve não retribuiu.

Ela afastou os lábios deles, voltando a olhar em seus olhos. Peggy ainda conseguia ver todo o carinho que Steve sempre havia direcionado a ela. Mas ela não via o mesmo amor. Seus olhos azuis eram densos, cansados, parecendo muito mais velhos do que deveriam. Muito mais experiente do que Peggy sentia que jamais seria.

— Quem realmente é você? — ela perguntou quando a música acabou, ainda sendo segurada por Steve.

— O mesmo Steve que jogou o próprio avião no mar. Mas o Steve que foi encontrado e acordado em 2012. — ele falou com naturalidade, como se não tivesse falado um absurdo sem tamanho.

Mas Peggy não podia realmente acreditar que era um absurdo, podia? Ela era uma das criadoras da SHIELD, já havia visto demais, muito mais do que sequer imaginava que pudesse existir. A possibilidade se viagem no tempo não deveria parecer tão absurda assim.

— O que você está fazendo em 1970, Steve de 2012? — ela sorriu enquanto tentava transparecer tranquilidade, e o sorriso que o loiro deu era tranquilizador. De alguma maneira Peggy conseguia ter certeza de que aquele não era de fato o seu Steve.

— Eu precisava te ver, Peggy. Eu precisava dessa dança. Eu… Não sei se quero voltar pro meu futuro. — os olhos de Steve brilharam por alguns segundos antes que as lágrimas começassem a traçar dois rastros tortos e brilhantes por suas bochechas. — Eu não aguento mais perder as pessoas que eu mais amo.

— Steve… — Carter franziu as sobrancelhas e segurou o rosto de Steve, passando os polegares pelas marcas da lágrimas, como se fosse possível secá-las. Mas Steve não parava de chorar. — O que você quer dizer?

— Foi difícil te perder, Peggy. Foi difícil acordar e não ter você ali ao meu lado, você foi meu primeiro amor. — os dois sorriam tristes. Steve pelo que nunca havia tido, e Peggy pelo que já sabia que nunca teria. — Mas eu conheci outra pessoa e me apaixonei novamente. Eu amei tanto, Peggy, e mesmo que nunca tenha acontecido nada entre nós, eu ainda amo. Mas ele se foi, Peggy. Eu nunca mais vou poder ver o Tony e eu não quero voltar pra um futuro em que ele não vai estar lá por mim.

Peggy deixou que a cabeça de Steve se apoiasse em seu ombro e que ele chorasse. O coração dela estava machucado, mas ela não podia culpar o loiro. Aquele não era o seu Steve, era um Steve que já havia passado por muito mais do que Peggy conseguia imaginar. Um Steve que, mesmo que antes tivesse se perdido, tinha aprendido a seguir em frente, mas que agora estava novamente perdido. Aquele Tony, fosse quem fosse, havia sido toda a conexão que o Steve tinha com o futuro. Com o mundo moderno. O que o mantinha ali.

— O que você quer fazer, Steve? — ela perguntou enquanto o guiava até o sofá, sentando-se ao lado de Rogers. Aos poucos o loiro parecia se acalmar, respirar fundo.

— Eu não sei. Eu acho que eu deveria voltar porque tem mais gente esperando por mim. Mas eu não sei se vou conseguir ser feliz sem o Tony. Nós… — ele parou de falar, como se não soubesse se deveria continuar. Peggy sorriu e deu um leve aperto em sua mão, o incentivando. — Eu fiz merda e nós ficamos sem nos falar por alguns anos. Eu tinha o apoio dos meus amigos, mas… Ninguém me fazia sentir como o Tony fazia. O Tony me deu uma casa quando eu achava não ter nada.

A cada nova palavra, cada nova história que Steve contava, Peggy tinha mais e mais certeza de como o tal Tony tinha sido essencial para que Steve de adaptasse ao mundo moderno. Claro, haviam outras pessoas importantes, Steve tinha citado outros nomes. Mas ninguém como Tony.

— Você pode ficar se quiser, Steve. — ela falou após longos minutos, após todas as histórias que Steve tinha contado. — Você não precisa se apaixonar por mim ou casar comigo, mas…

— O Tony nasce esse ano. — a informação poderia parecer aleatória, mas Peggy entendeu exatamente porque Steve tinha falado aquilo. — Em alguns meses, na verdade.

— E ele acabaria sendo uma presença constante?

— O nome completo dele é Anthony Edward Stark. —  o queixo de Peggy caiu.

Agora ela entendia. Steve não podia voltar para o futuro porque a perda era dolorosa demais. Mas ele não podia continua no passado porque o amor de sua vida estava prestes a nascer e, com certeza, se tornaria uma presença constante, e aquilo era simplesmente, totalmente errado. Ele precisava de uma solução única, uma que não o fizesse sofrer tanto, que talvez lhe desse uma segunda chance.

Tudo que Steve precisava era de uma segunda chance.

— Você consegue voltar para qualquer período de tempo, Steve? — as sobrancelhas loiras franziram confusas ao confirmar o questionamento de Peggy. — Então… Volta. Não para o seu futuro, mas para um novo futuro. Um que você vai construir a partir de agora, com o seu Tony.

— Peggy, eu não sei se é possível…

— Seria muito diferente de você voltar para esse momento e continuar aqui, comigo? — ela sabia que seu sorriso era triste, mas Peggy já tinha entendido que aquele Steve, mesmo não sendo o seu, merecia ser feliz. — Você tem a oportunidade de se dar uma chance com esse Tony, Steve. E eu sei que você é inteligente o bastante para fazer com que tudo dê certo.

— E se eu estragar tudo?

— Eu confio em você. — Peggy esperou o sorriso de Steve antes de completar: — Só te desejo boa sorte. Se apaixonar por um Stark…

Os dois riram como costumava ser. Peggy convidou Steve para um jantar requentado e mais uma dança, ao som de uma música mais animada. Quando se despediram de vez, Steve pareceu mais nervoso do que nunca. Ela sorriu e beijou seu rosto, reafirmando sua confiança. Então Steve apertou um botão em um equipamento em seu pulso e simplesmente desapareceu.

Peggy suspirou antes de sentar no sofá e esconder o rosto entre as mãos. Sabia que era a última vez que via Steve novamente e se sentia completamente grata por ter tido aquela oportunidade. Doía saber que nunca mais olharia em seus olhos azuis, suas mãos nunca mais encontrariam sua cintura, seus lábios nunca mais se uniram. Mas aquele Steve tinha uma missão, uma segunda chance.

O Steve de 2012 merecia ser feliz, e ele merecia ser feliz ao lado do futuro afilhado de Peggy Carter.

What it takes [Stony]Onde histórias criam vida. Descubra agora