CAPÍTULO VI: O CARCARÁ E O LAMPIÃO

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Russell acorda depois de ser arremessado da montanha. Seu corpo está todo dolorido, mas algumas partes como seu joelho esquerdo e suas costelas estão doendo mais. Ele sente um calor em sua jaqueta, que está encharcada, provavelmente o sol já nasceu e agora derreteu a neve que estava sobre seu corpo. Sente também algo puxando a manga de sua jaqueta, com força como se quisesse rasga-la, mas como seu pescoço está dolorido e além de estar um pouco sonolento ele desmaia novamente, acordando uns minutos depois agora sentindo algo machucando sua mão. Uma dor que o faz levantar o pescoço e ver que o que puxava sua roupa e agora também sua pele, era um urubu, provando que seu estado estava ruim o suficiente para ele parecer um defunto. Russell espanta o animal, e tenta se levantar mas cai na mesma hora sentindo a dor do joelho ficar ainda maior, esta que ele já havia se esquecido.

Ao olhar seu joelho ele percebe que ele está deslocado, algo que era de se esperar dado aos fatos. Russell pensa consigo: "Ótimo Russell, você deveria ganhar o prémio de cara mais fodido do mundo". Ele vai mancando até sua moto, e pega das bolsas da moto uma flanela e uma chave de fenda, e fala sozinho "Vai ficar uma droga, mas é o que tem pra janta". Usando a chave de fenda e o pano, um torniquete improvisado é feito, deve ter sido o pior torniquete já feito, mas era melhor que nada naquele momento. Sua moto estava meio baleada pelas quedas, mas era melhor tentar e ver se funcionava, do que arriscar virar comida de urubu. Ele tenta dar uma partida, e a moto não responde, tenta dar outra e ainda não vai. Tenta três, quatro, cinco, até chegar na décima segunda vez aonde a moto finalmente da partida, seguido por um estouro esquisito, mas que pela alegria de ter feito o veículo andar Russell nem repara no detalhe.

Ele anda em sentido ao Sul, sempre olhando para o sol garantindo assim a certeza do caminho certo. Seu corpo estava doendo como o inferno, em cada canto desde sua cabeça até seus pés. Ele sentia seus nervos sendo repuxados para que ele parasse, seu corpo implorava por isso, mas sua mente fazia ele continuar, ela ainda estava pesada demais para um descanso. A viagem era longa, e silenciosa, e em meio ao silencio ele pensava em Yurio, pensava: "O garoto tá bem cara, ele é mais esperto que você aliás, relaxa, essa semana ele te passa um rádio, fica tranquilo, se concentra na missão". Seu corpo começava a dar alguns sinais de que iria cessar, com algumas tremedeiras nas mãos e suas pernas ficando dormentes, além de um sono que ficava cada vez mais pesado. Ao longe ele avista uma vila que ficava fora da sua rota, ele desconsidera ir lá, não quer perder mais tempo.

Seus sinais de sono e dormência desaparecem quando a moto começa a dar mais alguns estouros como da vez da partida, e dessa vez Russell para e vê o que está causando isso, e é algo pior que imaginava. Seu escapamento estava estourado, com perigo de explodir a qualquer momento. Ele decide ir até a vila, ficando sem escolhas. Vai a pé e arrastando a moto, da melhor forma que consegue, já que um manco com as energias esgotadas não é lá uma pessoa em boas condições físicas.

Se aproximando da vila, é possível vê-la de uma forma melhor. As casas eram feitas de madeira e restos de metal de outras estruturas, mas nada que Russell conseguisse distinguir. Elas se espalhavam pela vila, umas cá, outras lá, algumas ficavam mais no centro onde havia uma trilha, outras ficavam mais no fundo onde era até meio difícil de se ver. Como era de tarde, várias casas estavam com suas portas abertas já que o frio não incomodava tanto. Algumas tinham um balcão improvisado na frente das casas, outras tinham apenas suas paredes na  frente. O sol derretia a neve que se formou à noite nos telhados das casas, várias delas tinham uma calha que fazia a água escorrer e cair no chão, transformando várias casas em verdadeiros chafarizes.

A frente de uma das casas que tinha um letreiro escrito "ÁGUA, COMIDA, DROGAS", estava um rapaz, de uns dezesseis ou dezoito anos, sentado em uma cadeira, esticado nessa na verdade. Seus olhos estavam zonzos pelo o que Russell percebeu, e ele não parecia ter muito equilíbrio já que estava quase caindo da cadeira. Ao se aproximar mais de uma das casas onde havia o letreiro "MECANICO, COMBUSTIVEL", Russell viu o rapaz levantar da cadeira, e aos tropeços chegar próximo dele e dizer com a voz embriagada:

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⏰ Última atualização: Jun 10, 2019 ⏰

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