Filho da puta, linguarudo de merda, maldito dono do meu coração!, bradei para mim mesmo, claro que ele comentaria com seu suposto amigo o acontecido. Fecho a portinhola e vou para a pilha de livros comer o meu pão. Talvez seja o último da minha vida. Desde que cheguei aqui, a única exigência do dono era de que eu o obedecesse sempre e sua primeira ordem fosse a de que eu jamais fosse visto ou morreria.
Esperei por todo o dia pelo momento que a luz verde acenderia. Esperei na escuridão muito depois da comida que eu levara ter acabado. Simplesmente esperei até que os ruídos da minha barriga fossem mais altos que os meus pensamentos e quando chegou a este ponto, ele me fez esperar muito mais. Era seu castigo. O dono deve me desejar demais, sexualmente falando, para me matar depois de tantos anos de convivência. Eu já devia saber.
Deixou-me ali, na escuridão, no frio, até que eu desmaiasse de fome. Eu despertei com um golpe de chicote em minhas costas. Arregalo meus olhos ao sentir a ardência se espalhar por meu corpo como uma febre violenta e faz cada fibra, cada pedaço de mim se sacudir e gritar de dor. Só assim me dou conta que aquele não foi o primeiro golpe, pois a dor de todos os outros vieram com força total sobre mim quando retomei meus sentidos.
Outro golpe me faz gritar e um terceiro, nas minhas costas, provoca-me tão terrível ardência que sei que minha pele desprovida da mínima proteção, dada pela blusa que tenho, que foi partida pela ponta do chicote. Sinto sangue verter lentamente por minha pele trêmula, arrepiada pela agonia, e mais uma chicotada faz mais sangue escorrer do meu corpo, mas não grito de novo. Aperto meus lábios com força e fixo meus olhos na porta.
Um atrás do outro, os golpes em minhas costas me faziam apertar as cordas que prendiam meus pulsos ao móvel à minha frente, numa posição pouco usual, mas muito fetichista para castigos. Resmungo com lágrimas nos olhos e um último golpe me nocauteia, me apaga e tudo o que vejo é a escuridão diante dos meus olhos, aliás, não vejo nada.
E pode até parecer que morri, mas a verdade é que desmaiei pela segunda vez e fui despertado de outra forma criativa, porém terrível e pouco convencional. Frio. Gelo em minhas costas me fazem acordar num espasmo tão violento que nem sei como ainda estou vivo. Ainda amarrado, mas mergulhado numa banheira coberta de pedras de gelo, tonto e com a vista nublada, eu escuto os brados de Gaara. Reclamava comigo sobre o fato de que eu fora visto por Naruto e quebrara uma de suas mais importantes ordens.
Fecho os meus olhos, respirando devagar. Os livros de meditação me serviram nesse momento como nenhum outro. Desliguei-me mentalmente para não sentir a dor e nem a tortura, concentrei-me em estar forte para suportar. É graças a ela que tenho suportado todas as torturas que me foram impostas todos esses anos sem perder a minha sanidade ou sem sucumbir ao desespero. Então... Parou. Gaara jogou-me contra o piso do banheiro depois de me desamarrar e me deixou ali por alguns minutos, me recuperando.
Ao fim daquele dia maldito, deitado de bruços no sótão, ouvindo uma festa se passar bem abaixo do piso, eu compreendo que sobrevivi e a obsessão doentia deste homem por mim mais uma vez me foi extremamente útil. Ele me deixou um pouco de comida e água, então vou me restaurando como posso, permitindo-me dormir pelo tempo que fosse preciso. Descubro, graças a um berro, que desde aquele dia infeliz da minha denúncia, se passaram dez dias. Acho que se eu não morri agora, significa que demorarei mais um pouco nessa terra.
Sou rejeitado por um mês, mas depois tudo volta ao normal, se assim posso dizer. O dono da mansão volta a me desejar como se sua vida dependesse disso. Minhas feridas se transformam em cicatrizes e meu corpo está apto novamente para o deleite sexual deste homem distorcido. Pois é, vida esquisita essa minha, não é?
Os dias passam devagar naquela rotina de me esconder e de satisfazer os desejos de Gaara. E eu continuei com meus planos porque eu não podia simplesmente desistir. Dia após dia, eu colocava mais um pouco de gravetos em minha escada sem que o dono soubesse. Talvez o único ser que mais se aproxime de mim seja a aranha, que pacientemente tece sua elaborada teia, para capturar os insetos que por ela passarem. Eu estou tecendo pacientemente a minha teia, mas não para capturar ninguém. Não para isso.
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Cativo
FanfictionQuais grilhões que te prendem na vida que você leva atualmente? Eu sei quais os meus e confesso que talvez eu nunca me liberte. Porém, acredito ainda mais que tudo tem limite, até as prisões. AVISOS!!! (LEIA) Naruto não me pertence, mas o enredo sim...