Capítulo 2: Noite livre?
Estabilizando as reações de meu corpo causadas pela forma fácil que reconheci naquele homem de olhar tempestuoso o que me aguarda no fim de meu treinamento, imagino o que este homem está fazendo aqui e com Eric, o "marido" de minha mãe.
Se eu soubesse que estávamos com visitas em casa, não teria descido. Não, nunca! É a regra.
Sento-me em um pequeno sofá que fica encostado a parede de uma janela que termina no teto rodeado por duas estantes repletas de livros variados. Tomo mão de um deles cujo título me chama a atenção.
Perco-me nas vastas páginas repletas de romantismo e suspense do livro, que me transportam para uma nova época, para a vida que eu gostaria de viver. Uma coisa normal: sair, comer a hora que bem me der vontade, olhar nos olhos das pessoas, gritar, esbravejar, bater em alguém quando ofendida... mas em vez de poder fazer isso tenho que agir como uma cadela adestrada.
– América? – a voz de Eric me tira do meu mundo dos sonhos.
– Estou aqui. – respondo, aparecendo entre as estantes de livros – Fiz algo errado?
– Não. – diz com um sorriso – Só queria conversar com você.
Sento-me novamente no sofá e Eric senta-se ao meu lado.
– Estou ouvindo.
– Sei que não tenho autoridade sobre você, mas gostaria de te pedir para pelo menos tentar.
– Isso é o que eu mais faço. Tentar.
– Então tente mais um pouco. Faltam três dias para o fim disso tudo e para a sua mudança para a casa e o estilo de vida dele.
– Um homem que eu nem conheço e não faço a mínima ideia de como é!
– Releve América.
– Você quer dizer abaixar a cabeça e agir como uma cadela dócil e adestrada?
– Não. – pela primeira vez ele me permite olhar em seus olhos – Quero dizer que você deve ser o que ele quiser que você seja. Entenda Amy, o mundo em que vivemos pode ser bom, se você quiser que seja.
– Eu só queria uma vida normal... – murmuro.
– Dois dias e uma noite livre.
– Vou poder sair?! – o sorriso que se abre em minha face pode ser taxado como gigante!
– Com seus amigos da faculdade? Vai.
****
Não passam das três da madrugada e eu me encontro sentada em minha cama abraçada ao meu lençol estabilizando minha respiração depois do sonho estranho que tive.
O silêncio presente em todo o cômodo é o que me deixa mais receosa.
[...]
Acordei às nove da manhã e fiz toda a minha higiene matinal, como é de meu costume, e depois segui para a cozinha tomar o café da manhã. Minha mãe não estava na cozinha, quem estava ali era Suzanne, nossa empregada, que cuida de nós como se fossemos suas crias – nas palavras dela.
– Bom dia menina. – ela disse.
– Suzanne, eu já tenho vinte anos, não sou mais uma menina.
– Vi você nascer... carreguei-te nos braços quando dona Dianna não podia, então... para mim será sempre uma menina.
Sorri a ela e me sentei à mesa e desfrutei do belo café da manhã que ela havia preparado.
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