10 VOANDO

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Senti a luz do sol tocar a pele do meu rosto em um beijo quente me despertando do meu sono profundo. Abri os olhos lentamente e a claridade da manhã me cegou momentaneamente. Pisquei algumas vezes e uma imagem se formou na minha frente me fazendo sorrir. Seus cabelos castanhos claros eram quase loiros sob a luz do sol, seus olhos castanhos esverdeados me observavam e seu rosto era emoldurado pela claridade fazendo eu me lembrar da primeira fez que o vi.

“Um anjo.” Eu sussurrei erguendo minha mão e tocando seu rosto como se quisesse me certificar de que não era uma miragem. “Meu anjo.”

Ele sorriu ao escutar minha voz e colocou o cabelo para trás da orelha se inclinando sobre mim. Seus lábios tocam minhas têmporas fazendo meu pulso acelerar.

“Minha Samyra.” Ele sussurrou em voz rouca e meus olhos se fecharam sentindo meu coração pular em meu peito.

Seus lábios percorrem meu rosto e descem até meu pescoço.  Minhas mãos deslizam sobre seus ombros sentindo cada músculo se contrair sob meu toque. Eu abro meus olhos novamente e ele beija meus lábios me roubando o ar, mas então ele se afasta, seu rosto se tornando sério novamente.

“Eu preciso ir.”

“Não.” Eu respondo rapidamente enlaçando meus braços ao redor do seu pescoço.

“Samyra, eu preciso ir.”

“Então você vai ter que me carregar porque eu não vou soltar você.”

Abaddon ri e seu corpo se ergue me levando junto com ele. Eu sei que estava parecendo uma criança fazendo birra, mas eu o queria comigo, sempre. Ele tinha me explicado que o que estávamos fazendo violava um tipo de regra milenar e que nossas vidas estavam em risco por isso. Mesmo ele tendo me explicado várias vezes eu ainda não entendia como isso poderia ser errado quando eu me sentia tão feliz.

Abaddon havia me dito que os anjos tinham o dever de proteger e amar os humanos. Mas eu não conseguia entender por que o mesmo Deus que deveria ser o amor poderia condenar um de seus filhos por amar. Isso me parecia muito errado para ser verdade e eu não acreditava que o que estávamos fazendo fosse errado.

Mesmo assim tínhamos que manter segredo e ele tinha que retornar para junto dos outros anjos e agir como se nada tivesse acontecido. Era para a minha segurança, ele dizia e eu confiava nele mesmo que meu coração se quebrasse toda vez que ele voava para longe.

Eu era uma adulta e entendia que ele tinha que ir embora, mas naquele momento eu me recusava a ser racional. Então permaneci imóvel com meus braços seguros ao redor do seu pescoço e com meus pés suspensos no ar enquanto ele se afastava da cama.

“Samyra.” Ele falou com voz doce e ergui meu rosto o encarando. “ Você não está facilitando as coisas.”

“Que bom.” Falei abrindo um sorriso e erguendo uma sobrancelha. “Facilitar não era meu objetivo.”

Seus braços enlaçaram minha cintura e ele andou em direção à porta. Ele tinha uma expressão no rosto que fez um arrepio correr minha espinha.

“O que você vai fazer?” Perguntei olhando ao nosso redor.

Em resposta ele sorriu e também erguendo a sobrancelha enquanto saia pela porta. Ao nosso redor a neve cobria tudo até onde a vista podia alcançar, mas mesmo estando só com um vestido leve, eu não sentia frio estando nos braços dele.

Pisquei algumas vezes por causa da claridade refletida na neve branca e então assisti enquanto duas asas enormes apareciam em suas costas. Eram majestosas e radiantes com cada centímetro reluzindo a luz do sol. Elas começaram a se movem graciosamente e antes que eu pudesse perceber estávamos pairando no ar.

A Queda de Um Anjo - Livro 1 da Série AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora