♪ No Way Out ♪

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  Mais um dia se iniciava na linda Cambridge. Mas, não um dia comum, claro. Aquele era mais um daqueles dias em que eu teria que ficar internada. Mas que mal fazia, não? Afinal, era só mais um dia, e hoje não está lá um dia tão bonito.
   A única coisa que me animava era fato de que no dia seguinte eu poderia finalmente voltar a estudar. Infelizmente não tenho nenhum amigo, somos apenas minha mãe e eu, mas eu queria ao menos ter a esperança de que pudesse ter algo no futuro.

  Saindo de meus devaneios, respirei fundo ao notar que já estávamos na frente do hospital. Eu estava tão cansada daquilo tudo, mas não podia fazer nada quanto a isso. Peguei minha mochila e fui logo para dentro, me preparar para o tratamento de um dia.
  E que longo dia...

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  Sozinha no quarto do hospital, me colocava a chorar, sem mesmo notar. Tem coisas que vão nos esgotando aos poucos, acabando com nosso psicológico. No meu caso, era a minha doença. Para ajudar, fui adquirindo a depressão com o passar dos tempos.
  Mas, isso é o que temos pra hoje e eu cansei de reclamar. Cansei pois sei que nada vai mudar durante minha vida inteira.
  Passado algumas horas, decidi pegar meu celular para fuçar um pouco em minhas redes sociais. Confirmei várias solicitações de seguidores no instagram, compartilhei várias fotos no facebook, respondi minha mãe e prima no whatsapp e acabei decidindo por ficar vendo o que havia de novo no instagram. Comecei a ver várias e várias fotos de homens lindos, o quais eu nunca teria chance. Ri baixo com essa ideia e continuei a navegar.
  Logo, apareceu para mim, algo simples, mas que me chamou atenção. Era um garoto. Cabelos de tonalidade castanho, pouco puxado para o ruivo, sardas delicadas em suas bochechas e os olhos, azuis. Eu já tinha visto aquele olhar em algum lugar. Marquei a foto em "salvos".
  Eu bocejava de um em um minuto. Estava escurecendo e o sono já pairava sobre mim. Olhei para o relógio no quarto, para a agulha que perfurava minha pele e fiquei a olhar também a cidade através da janela. Cambridge nunca esteve tão bonita. A lua iluminava o quarto escuro e as estrelas estavam bem nítidas. Quase como se não houvesse poluição da luz ali. Aquele era o único motivo para que eu "gostasse" daquele quarto.

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  Um tempo depois de adormecer, escutei batidas na porta, seguido de uma enfermeira a escancarando e entrando com seu sorriso cínico no rosto.

– Boa noite, querida. Eu vim informar que sua mãe chegou para lhe levar para casa. – Minha mãe entrou logo em seguida.

– Allie, meu amor, vamos? – Ela dizia enquanto a enfermeira retirava a agulha de meu braço.

– Ah, por favor. – Ainda sonolenta, me levantei, já arrumando minhas roupas para troca.

– Não demore, estarei esperando lá embaixo.

– Obrigada, mamãe. – Sorri para ela e me enviei no banheiro para me trocar.

  Coloquei algo simples. Uma camiseta justa, com a logo da Nasa marcada no meu peito, uma calça jeans rasgada nos joelhos e um tênis preto de camurça. Prendi meus cabelos em um rabo de cavalo alto, com algumas mechas pendentes na frente da orelha. Logo, peguei tudo o que havia deixado ali e fui descendo as escadas do hospital. Eu nunca usava o elevador, tinha pavor de que algo ocorresse. Chegando próximo ao térreo, coloquei meus fones de ouvido e coloquei pra tocar uma de minhas playlists no aleatório. Música triste. Me contentei com a música e entrei no carro.

– Como você está, minha menina?

  Não respondi. Apenas a olhei com um olhar que dizia: “Você está realmente perguntando isso, mãe?”

– Me desculpe por me importar, filha. – Cerrei meus olhos com força, sentindo aquele peso caindo sobre minha consciência.

– Desculpa, mãe... Eu só não aguento mais isso. – Ela comprimiu os lábios.

– Olha por um lado, foi seu último dia.

– Sim, meu último dia, mas, quem sabe se amanhã ou depois eu terei de voltar? – Ela ficou séria. Não um sério de irritação, mas um sério de medo. Eu não era a única que temia as minhas internações repentinas.

– Isso vai acabar, meu amor.

– Você não sabe, mãe. – Ela disfarçou sua expressão de tristeza e continuou a dirigir. Aumentei ainda mais a minha música e fiquei a olhar as luzes da cidade pela janela. – Me desculpa.

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