O bater de asas de uma borboleta

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Já é a minha terceira xícara de café só esta manhã, mas ainda não me sinto mais acordada, ao menos me esquenta. Tudo indica que este vai ser um mês de muito frio, uma coisa incomum aqui em São Paulo, na verdade, no país inteiro. Ir para a escola nesse frio, além de estar morta de sono, não esta facilitando em nada.

- Kamilly! - Minha mãe grita da cozinha, sem necessidade, pois sabe que estou na sala já.

- Ai! Pra que gritar? Já desci e nem são sete horas ainda. - Reclamo, colocando a xícara na mesinha de centro.

Uma batida vem da porta, seguida por duas outras agitadas. Minha mãe aparece na divisa da sala, ela esta com uma mão na cintura e outra apontando para a porta.

- Por isso. - Ela sai sem dizer mais nada e nem precisa. Eu reclamaria do porquê ela mesma não atende, mas só serviria pra levar um tapa.

Vou até a porta, já tendo uma ideia de quem pode ser a essa hora e estava certa. E ela parece bem agitada.

- Quantos cafés você tomou? - Digo, segurando a risada.

- Não sei. - Lorena respondeu entre um pulo e outro. - Perdi a conta.

Dou uma risada e peço pra ela esperar. Pego minha mochila e me despeço da Dona Nervosinha que é minha mãe. Saio de casa com a energético ambulante, que não calou a boca o caminho inteiro, até as pessoas do nosso lado estavam se irritando. Estava em duvida se jogava ela do ônibus ou me jogava dele. Não tive tempo de decidir pois chegamos na escola, o patio da frente estava vazio por causa do frio, mas em comparação ao interior. Parecia liquidação em loja de marca.

- Hey! - Uma voz familiar nos chamou em meio aquela multidão.

- Brenda, oi - Ela vinha em nossa direção, com seu mais novo bronzeado, dadiva das praias do Recife.

- Quando você voltou? - Lorena perguntou após os abraços. - Achei que ia ficar acabada depois de ontem.

- Hoje de madrugada, mal dormi. Estou a base de café. - ela diz rindo.

- Culpa sua, nunca mais vou ficar até mais tarde pra vê essas lives dos grupos coreanos com vocês. - Digo entre um bocejo e outro.

- Desculpa, esqueci que a cafeína não é sua fã. - Ela encosta a mão no meu ombro e da um sorriso cínico. Apenas reviro os olhos e dou outro abraço nela.

Como estava cedo, ficamos conversando sobre as férias. Brenda contou os lugares lindos que tinha visitado lá em Recife e como os garotos de lá eram lindos e engraçados, Lorena e eu apenas ouvimos, já que não saímos da cidade por todo esse tempo. Na boa, Brenda é minha amiga, mas as vezes tenho vontade de esfregar a cara dela no chão. Pode me julgar, é inveja, mas não a do tipo que me faz alguém ruim. É só que, ela sempre vai para lugares legais e eu nunca.

Tudo estava calmo e engraçado, até que a presença de algumas pessoas fez com que o clima de diversão acabasse de vez. O Grupinho que nos caçava desde que nós tinhamos seis anos. Christian e a sua legião de demônios.

- Ora, ora, ora... Veja quem temos aqui, pessoal. - Falando no capeta.

- Cai fora, Christian. - Lorena disse, se colocando na minha frente.

- Olha, parece que a gorda encontrou espaço pra colocar a ousadia. - Suas provocações fizeram seu grupinho rir.

- Não, não, calma ai, Christian. - Nicolas se aproximou, se ponde entre eles. - Ela vai gravar um videozinho pro Youtube e mostrar como fazer papel de idiota.

- Não, esse trabalho ela deixou para vocês. - Tomo coragem. - Babacas.

Eles ficam quietos por um momento, mas no outro, já estão rindo. Como se eu fosse apenas uma piada.

Talvez Quatro Seja o Número da SorteOnde histórias criam vida. Descubra agora