Antigos Aliados

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Sentado numa poltrona no meio do jardim um homem negro vendado permanece imóvel, até que no leste algo parece chamar sua atenção . Ele retira um caderno surrado e o abre sobre seu colo.

- Você está aí?

- Sim senhor - responde prontamente um asiático de Smoking azul. Creio que a fatídica hora chegou, correto?

-Infelizmente- alega o primeiro retirando suas vendas com violência. Permanece de olhos fechados por alguns instantes suspirando, dois pontos luminosos castanhos surgem em sua austera face.

Um segundo depois suas mãos preenchem paginas em branco sem que ele  precisasse confirmar o que estava escrevendo. Sua aparente calma acabou e seu suor escorre sem parar.

- O que está esperando? Não terei coragem para sempre- bradou o homem que por pouco não se liquefazia em sua própria transpiração.

- Desculpe-me senhor. Em momentos como esses é perfeitamente comum exitar, evitar, aguardar, congelar. Queria agir o mais próximo de suas atitudes simplistas regradas as singelas emoções.

-Me pergunto quando vou compreende-lo totalmente . apesar de não estar a fim. Suas mãos eram como borrões a preencher as amareladas paginas de um segundo caderno ( o primeiro jazia jogado com desleixo na milimétrica grama aparada do jardim). Espera, você me chamou de simplista, seu merdinha?

-Isso o ofendeu senhor, devo acrescentar a lista das palavras / expressões  que não se devem utilizar?

- Sim, faça isso-  ele gritou -, mas primeiro que tal honrar o nosso acordo? 

- Nunca pensei em não honra-lo, senhor - Um metro e meio de aço surgiu em suas mãos amparadas por um cabo de prata com diversos hieroglifos incomuns. Estava apenas , como se diz : Puxando Papo. 

A imponente espada desceu em arco com a destreza e firmeza que não se esperaria de um Mordomo de meia idade , e aquelas hábeis mãos negras caíram inertes sobre o terceiro caderno. Enquanto um urrava o outro fazia torniquetes ainda mais rápido do que seu próprio golpe. Para não entrar no mérito dos exacerbadores, uma unica rubra gota caiu na capa do terceiro caderno.

Apoiando-se no Mordomo o rapaz seguiu numa pequena trilha de pedra, era um terreno íngreme onde os jardins ficavam na parte mais baixa e despontando acima de uma colina uma bela casinha pairava acima deles, tao inofensiva quanto um guarda chuvas de algumas toneladas.

 Permaneceram em silencio durante o curto trajeto, embora algumas tentativas de situações cotidianas foram mencionadas ( e completamente rejeitadas). Sua consciência ia e vinha, a cada degrau ela mudava de status; on, off, on, off. Mas seu companheiro era forte pelos dois, e a casinha chegava cada vez mais depressa ao seu encontro.

Sonhou com o inesquecível primeiro encontro com a Morte 271 anos atrás.

Chovia muito e ele mancava devido a um ferimento superficial que ganhou honrosamente na Batalha dos Conveses. Seu capitão tinha sido o primeiro a ser enforcado perante uma grande e suja multidão alegre. Para que sirva de exemplo dissera aqueles engomadinhos de perucas enquanto matavam um Pirata após o outro. Adam tinha apenas 22 anos , e apesar de ter viajado por quase todos os Mares não podia dizer que sabia muito do mundo e seus mistérios. Porem , uma coisa ele tinha certeza :Execuções publicas nunca sairiam de moda. E naquele momento soube disso mais do que nunca. Essa chuva forte nunca lavará toda a imundície da humanidade. Uma cabeça que rolava da Guilhotina ou pés que dançavam no ar enquanto seus donos iam ficando cada vez mais roxos, entre suplicas e xingamentos desses que partiam, seja qual for a forma que inventavam para punir os mortais até nos momentos finais , a humanidade  gostava da Morte, a cortejava o tempo todo e essas diferentes formas de fazer com ela tomasse os seres vivos, sempre aperfeiçoando nos apetrechos de tortura e modos de separar seus membros eram como rituais para um Deus qualquer.

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⏰ Última atualização: Jun 18, 2019 ⏰

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