Se passaram alguns dias desde o incidente da escola, e desde então tenho jogado essa pulga que se instalou atrás da minha orelha pra longe.
Um dia após o ocorrido, James, tentou conversar comigo no estacionamento, mas vamos dizer que eu não estava muito amigável, embora ele tenha sorrido genuinamente pelo que parece a primeira vez na vida. Ele tentou me ligar uma ou duas vezes, mas a única coisa que ele conseguiu ouvir foi a mensagem da minha caixa postal.
De qualquer forma, não é como se ele fosse meu maior problema no momento, menos que ele esteja por trás dessa confusão toda que eu estou.
Lizz está falando que eu tenho que relaxar já fazem duas horas. Mas sabe o que acontece quando alguém fica te enchendo a cabeça que você tem que relaxar? Exatamente o contrário. Eu estou uma pilha de nervos, em parte graças a Lizz.
Hoje é o fatídico dia do encontro Database, embora eu saiba exatamente como as mesas, iluminação e ambiente vão estar dispostos, eu não faço ideia de quem vou encontrar, só sei que serão 5 caras das mais diversas personalidades.
Lizz me enfiou em um vestido preto, lindo diga-se de passagem. Apesar do corte ser clássico – reto, de alcinhas – o caimento de seda deu um diferencial e tanto. Parece mais uma daquelas camisolas de luxo lindíssimas. Meus cabelos estão soltos e com leve ondas que saem aleatoriamente da raiz e meio do cabelo. E claro que a maquiagem está perfeita, Lizz tem uma mão de fada.
Eu diria que a última vez que estive tão arrumada e bonita, foi no meu próprio casamento, praticamente 10 anos atrás.
Olho pro espelho tentando procurar um defeito, como de habitual, mas eu estou perfeita. – Nossa. – digo enquanto me encaro no espelho. – Você me transformou mesmo em uma prostituta de luxo.
– Sempre que precisar, docinho.
Me viro em direção a Lizz e por um momento pondero se devo contar o que aconteceu entre o ladrãozinho e eu. Mas desisto no último momento, pois conhecendo Lizz como eu conheço, ela provavelmente começaria a planejar o casamento e o bolo no momento que eu terminasse a frase. – Acho que – limpo a garganta – está na hora, vou indo. – Não me dou o trabalho de me despedir adequadamente da minha melhor amiga e ligeira como um gato tento escapar, mas Lizz consegue ser mais ligeira do que eu pensava.
– Desembucha, o que está acontecendo? E não vem me dizer que é o encontro, pois você está estranha já faz uns dias. – despeja Lizz.
Não preciso nem me virar pra saber que a danada está de braços cruzados me encarando.
Tento dar um passo e escapar da curiosidade de minha amiga, mas ela grita me impedindo. – Não! Você não vai me passar a perna, me conta.
– Lizz eu… – olho pra ela e vejo naquele momento, que não importa o que eu diga, ela não vai me julgar. – É uma longa história e você não vai conseguir me deixar ir se eu contar. Prometo que te conto quando eu vir buscar Keira. – suplico com o olhar.
– Você conheceu alguém! – ela bate palmas. – Vai, vai, mas quero saber de tudo.
Deixo minha amiga para trás e sigo para a pior noite da minha vida.
Estou sentada em cadeiras mais caras que o meu carro, mas de certa forma nunca estive mais desconfortável em toda minha vida. Assim que cheguei no hotel que está sediando o evento, pensei em correr para bem longe, mas respirei fundo e entrei pelo hall.
Como a design responsável pelo croqui, me senti extremamente orgulhosa de ver meu projeto tomando vida. A iluminação do local, está sombria, mas ao mesmo tempo sensual. As mesas dispostas nos cantos do ambiente, trazem uma aura de privacidade. No meio da sala tem uma grande estátua de Afrodite, a deusa do amor. Todos os pontos levam a ela, é o ápice da sala.
As mesas tem uma iluminação avermelhada, porém escura, sendo impossível ver claramente quem está próximo á você. Aumentando o clima misterioso e sensual do ambiente.
O frio na barriga está aumentando gradativamente, eu só vou conseguir passar pela essa noite bêbada, muito bêbada.
Devo ter me perdido nos meus pensamentos por mais tempo do que eu imaginava, já que o meu primeiro parceiro está de pé na ponta da mesa, e só percebo pois seus sapatos são impressionantemente ridículos e impossíveis de passaram despercebidos.
Esta é a dinâmica da noite, encontros programados para durar uma hora. Tento me recompor e não rir do par de tênis verde neon do cara número 1, levanto meu queixo e tento dar uma espiada por completo no meu primeiro parceiro da noite, mas por conta da iluminação sombria, tudo que consigo ver é seu moletom da GAP. Qualé a desse cara? Ele se senta nas cadeiras dispostas na minha frente e consigo finalmente ter uma visão de seu rosto. Minha primeira impressão é de que ele não pode ter mais que 30 anos. Se eu o visse na rua eu certamente não pararia para dar uma segunda olhada, diferentemente de James. Ele não é feio, bem longe disso, ele é apenas comum. Pele levemente amarelada e bronzeada, bochechas rosadas, olhos pretos, nariz arrebitado e fino, cabelos pretos igual petróleo, corte clássico, mas despenteados no maior estilo surfista possível, e tem seus lábios que são rosados e grossos. Basicamente todos os caras com quem minha irmã já saiu.
– Olá, meu nome é Thomas. – ele quebra o gelo.
– Stella. – tento parecer casual, mas o fato desse cara estar de moletom em um encontro, tudo bem que não é como se eu fosse encontrar o amor da minha vida, me deixa irritada, já que eu perdi horas me arrumando e ele não teve nem a preocupação de pentear os cabelos.
– Você é muito bonita. Uau. – ele assobia e retribuo com um sorriso, educado. – Eu não sou muito bom nessa coisa de encontro, geralmente fico mais em casa jogando e me exercitando.
– Isso explica o moletom. – sugiro.
– E o tênis – ele aponta para baixo em direção aos seus tênis horríveis. – Eu prefiro o conforto e praticidade.
– Mas não poderia ser nada um pouco menos… – paro tentando procurar as palavras certas – chamativos?
– Ah, é que verde é minha cor favorita. – ele coça a cabeça. – E GAP é minha marca favorita. Você sabe como surgiu o nome da marca? – seus olhos brilham em excitação.
– Não… – imediatamente me arrependo, já que Thomas passa os próximos 55 minutos seguintes falando sobre tecidos e tudo que envolva a GAP.
– … e hoje em dia o Paul Pressler é o CEO. – um sinal ressoa pela sala ao mesmo tempo em que eu termino minha terceira ou quarta taça de vinho. – Acho que meu tempo acabou, foi bom te conhecer Stella.
Não me dou nem o trabalho de responder, apenas levanto a taça ao passo que Thomas se levanta e graças a Deus me deixa sozinha.
Porém a mulher moderna realmente não tem um segundo de paz, já que não consigo nem processar o doido da GAP quando um cara, que mais parece ter saído de um filme sobre máfia italiana se senta na minha frente. Diferentemente de Thomas, eu rapidamente fico excitada.
Homens com aparência de bad boy me excitam, fazer o que se eu amo um clichê.
– Theodore.
Certo, essa voz me fez derreter.
– Stella. – sorrio e o alarme da minha cabeça começa a soar.
Talvez essa noite seja divertida, afinal de contas esse cara é gostoso demais para que eu leve a sério.
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DATABASE
RomanceQuando Stella perdeu o grande amor de sua vida ela acreditou que nunca mais conseguiria amar alguém da mesma forma que amava Andrew. Cinco anos após sua morte ela continua solteira e com muita insistência de sua melhor amiga, e para não perder seu e...