Capítulo 6: Atrás dos muros de cristal

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Logo após finalizar o desjejum, Rafael já havia ido para sabe-se-lá onde dizendo que nos veríamos novamente em breve. Mais precisamente que precisávamos nos ver em breve.

Não gostava de como ele mentia tão bem ou sem culpa ou remorso, com uma facilidade absurda como se não fosse nada demais. Realmente ele apenas decaía em meu conceito e cada vez mais eu me via infeliz futuramente ao lado dele graças às obrigações que me acompanham desde o útero de minha mãe.

Não sabia o que havia feito para merecer isso.

Estava sentada à mesa havia um tempo mesmo depois dele ter partido. Gostava de ficar sozinha com meus pensamentos e ainda tentava teorizar que dívida seria essa do meu pai com o falecido Antony Habsburgo. Ele não me diria tão cedo, era óbvio, mas não inevitável. Ele não poderia correr para sempre com esse segredo de mim.

Me levantei com mais facilidade, hoje minhas damas estavam de bom humor ao me permitirem usar um vestido mais leve. Anotei mentalmente de tentar obrigá-las a me vestir assim mais vezes, entretanto, logo desisti pois elas criariam um milhão de argumentos do porquê eu deveria usar aquele mundaréu de tecido.

Bufei.

Me virei com o intuito de voltar para o castelo com intenção de fugir do calor insuportável, quando avistei alguns guardas irem correndo em direção ao portão de saída do palácio. Minha curiosidade me instigou e meus pés foram automaticamente na direção deles sem ao menos pestanejar.

Sai do gramado, agora pisando no caminho acimentado, e mais guardas voltaram a correr até o portão atiçando ainda mais minha curiosidade. Segurei nas barras do vestido e andei mais depressa quando avistei uma pequena civilização no portão de mulheres com crianças ao seu lado ou em seus colo chorando em desespero.

— Alteza, não pode estar aqui.— Um dos guardas segurou meu pulso de repente me dando um susto.

— O que está acontecendo?— Questionei impaciente vendo aquela cena horrível. Não entendia o que elas diziam mas conseguia imaginar. Seus companheiros deviam estar na guerra ou provavelmente nem estavam mais vivos. Elas pediam por misericórdia. Isso era óbvio.

— Não pode estar aqui.

— Me solte agora, eu sou a sua futura rainha, não queira ser um empecilho em meu caminho.— Falei furiosa. Ele me encarou seriamente mas me soltou. Corri na direção deles e os guardas tentaram entrar na minha frente mas o guarda que a pouco segurou me braço falou algo indecifrável por mim que os fez sair do meu caminho.

Uma mulher que aparentava ter mais de 30 anos chorava segurando minha mão através das barras do portão.

— Nos ajude, senhora, por favor. Nossos maridos morreram na guerra e não temos condições para nos mantermos. Somos mães, tias, avós. Nos ajude por favor.— Ela implorava. Aquilo causou um aperto horrível no meu coração. Uma angústia que jamais seria limpada da minha alma. Aquela cena me deu ainda mais certeza do porquê eu deveria agir. Eu colocaria todos eles à frente da minha infelicidade desse casamento. Eu precisava dar isso à eles.

— Eu vou ajudar vocês, eu prometo.— Falei sem querer soltar a mão dela até ouvir a voz da rainha-viúva ressoar atrás de mim.

— Princesa, não deveria estar aqui.— A voz dela estava carregada, assim como sua feição. Ela parecia estar desconfortável com aquela cena e suas sobrancelhas haviam se arqueado quando viu minhas mãos segurando as mãos da mulher.— Solte a princesa, isso é algum atentado? Guardas!— Os guardas rapidamente apontaram para aquelas mulheres e crianças e rapidamente eu disparei a gritar para que eles abaixassem aquelas armas, mas eles não abaixavam.

Sangue azul avermelhadoOnde histórias criam vida. Descubra agora