Eu te digo, bem no silêncio de um sussurro, que o meu medo maior é que ninguém entenda isso aqui..................................
A vida é um tilintar de diversas moléculas de cristais, que surgem como garoa de primavera e se deitam como o orvalho das primeiras horas da manhã. Cada ser vivente pode fazer vibrar essas pequenas gotas translúcidas e preciosas, soando a sinfonia de um destino andado com pés descalços, só para sentir, minimamente, onde se está indo.
Cada soar súbito voa rodopiando pelos cabelos cheios e emaranhados das vidas interligadas pelo existir sonoro, pois seu eco é a única certeza do caminho percorrido e o que ainda está por vir. Essa musicalidade palpável e alastrante soa tão linda e verdadeira, que arranca o choro seivoso de nossa própria essência.
É impossível assistir esse espetáculo fascinante - os olhos estão muito cansados com a tarefa de procurar uma alma para se conectar no ínfimo - mas pode-se ouvir no silêncio raro que se faz quando nada precisa ser dito, só sentido. É nesse silêncio que mora a mais importante e reconfortante certeza de estar vivo.
No silêncio que as gotas cristalinas escorrem por cada relevo, molhando cada dúvida seca que segura os tornozelos imóveis de quem quer continuar. É esse silêncio sinfônico, saboreado em pequenas mordidas, que se mata aquela fome de sempre querer conhecer todos os motivos e elucidações.
É essa música cintilante e cristalina que embala os movimentos dos astros, o sonho das crianças e a velhice; que faz os dons, os desejos, as empatias e os pertencimentos; é o motivo dos amores, do beijo molhado, do cheiro no cangote e do abraço apertado. Sempre se está soando no silêncio dos momentos mais inocentes e nos mais lascivos, como uma trilha sonora que nunca se ouve por acaso.
Eu ouvi o soar dessa música quando minha mãe se deitou comigo e chorou seu segredo mais secreto, quando meu pai me esperou nascer, quando minha irmã sentiu minha falta e quando uma mosca, depois de muito tempo, voou pelos cantos de uma casa que não era minha. E eu não reparei quando aquilo acalentou meus ouvidos, simplesmente porque, quando se ouve, é como se nada existisse além daquele momento, como se não precisasse saber o que estava acontecendo. E é esse som que procuro em todas as coisas, mesmo que só depois eu perceba que o ouvi.
Eu fecho os olhos sempre que posso, pois talvez um cristal tilinte no silêncio que às vezes existe dentro de mim.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A teus pés
RandomIsso é só uma amontoado de textos que eu escrevo para ninguém ler.