Janela.

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     Sinto sua falta.

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Eu te observei na janela, queimando lentamente, fumaça e prazer.

Eu nunca achei que viveria um clichê tão estético - você e seus cigarros pós-sexo em uma janela estreita. Eu sempre odiei ver pessoas se intoxicando com toda aquela fumaça, mas com você era diferente, a cena me deleitava de uma maneira quase sádica. 

Era como te ver fodendo mais uma vez, prazeroso até para meu corpo cansado.

A fumaça entrava como uma estocada precisa e profunda, te preenchendo todo, num ritmo condizente com sua abstinência; a nicotina finalmente reagia, e era ali que seu orgasmo se alastrava em uma lentidão deliciosa.

Eu suspirava, sem fôlego, pois aquilo era mais erótico que qualquer filme pornô.

E quando você sorria para mim, relaxado e satisfeito, eu sentia um orgasmo de espírito. Era lindo ver seus olhos em mim, principalmente depois que você fumava.

E eu nunca me importei com aquele vício, nem quando você começou a misturar o tabaco com erva.

Seus olhos vermelhos não tinham mais tanto foco, mas eram bonitos do mesmo jeito; seu sorriso era mais frouxo, mas nunca perdia o brilho. E estava tudo bem, mesmo que eu sentisse você se dissipar aos poucos.

Você me olhava fixamente, viajando pelas curvas do meu corpo nu, saboreando cada palmo da pele exposta e ardente. Suas íris refletiam todo o contemplamento que transbordava em sua linha d'água - foi assim que eu descobri que você me olhava da maneira que eu te olhava.

E era tudo como uma aquarela de Turner, finas camadas se sobrepondo, texturas e fluidez sem fim. Nós pintavamos aquela cena - a obra prima de nossas vidas. E pela janela o sol se levantava manhoso, colorindo a pintura com diversas nuances de amarelo.

E eu me sentia completa, receptiva a todo e qualquer novo sentimento que tu provocava em mim, o coração mais escancarado que a própria janela.

A teus pésOnde histórias criam vida. Descubra agora