Capítulo 1

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Carolina

− Léo eu não consigo entender direito esse ponto da matemática, esse negócio de fórmulas não tá entrando na minha cabeça! – reclamei mais uma vez, afinal matemática não era o meu forte e sim o dele.

− Não precisa chorar Carol, eu te ajudo, mas não dá para ser hoje. – Como sempre, não me negou ajuda.

− Quando você pode? Você sabe que preciso estudar muito se quiser passar em uma faculdade pública!

− Já fez as inscrições? – perguntou tentando disfarçar sua tristeza.

Conheço Leonardo desde sempre. Viemos morar aqui com a minha avó quando eu era ainda bebê, pois meu pai saiu um dia para comprar cigarros e nunca mais voltou. Depois que vovó morreu, ficamos apenas nós duas.

Toda lembrança que tenho da minha infância tem o Léo junto, acho que nossa amizade foi ficando tão forte durante esses anos todos que acabamos nos tornando um só. Temos os mesmos gostos para as músicas, para os filmes, só há uma coisa que ele não gosta que é ler. Eu amo os livros e ele diz que prefere os filmes. Já cansei de dizer para ele que não é a mesma coisa, que os filmes são apenas baseados nos livros, que não há a emoção dos detalhes, mas ele não abre mão e foi assim que comecei a gostar de filmes também.

− Ainda não, mas é claro que você não poderia saber, você não as fará, não é? – falo mais uma vez, mesmo sabendo que ele não pretende se inscrever para nenhuma faculdade.

− Carolzita, já conversamos sobre isso milhares de vezes, eu amo o que faço e é aqui que quero ficar.

− Tá bom, não vamos discutir de novo. Mas quando você pode me ajudar com a matemática?

− Bom, hoje é quinta-feira, precisamos entregar o carro do meu primo Edu amanhã, pois ele vem pra casa no fim de semana, então ainda tenho que trabalhar nele hoje e amanhã à tarde. A gente pode estudar no sábado, mas só se você topar ir ao cinema comigo no domingo. O que acha?

− Tô dura! – falei de cara, o que não era bem verdade, mas eu estava economizando para meu aniversário de 18 anos, queria fazer uma tatuagem.

− Se não quiser ir ao cinema comigo é só falar, sabe que nunca te deixei pagar quando vai comigo. Você tá recusando porque eu falei que o Edu vem para casa.

Eduardo é primo de Léo, ele faz faculdade em São Paulo, é alguns anos mais velho que nós e sempre fez questão de deixar bem claro que tem uma quedinha por mim, sempre que está por aqui dá um jeito de Emília, sua irmã e minha amiga, inclui-lo em nossos programas, o que já notei que deixa Léo desconfortável.

− E desde quando Edu tem o poder de afetar as minhas decisões? Já me viu dando trela pras babaquices dele alguma vez?

− Não, mas é que... – interrompi.

− Léo, você está me escondendo alguma coisa? – coloquei as duas mãos na cintura e olhei diretamente em seus olhos, ele os baixou.

− Nada não, deixa pra lá. E aí topa a minha proposta? – tratou de disfarçar juntando seu material e o colocando na mochila. – Não tem mais ninguém na sala. – falou percorrendo o ambiente com seus olhos que fugiam dos meus.

− Tá bom, mas tem que ser lá em casa, sabe como minha mãe é.
Ele apenas jogou sua mochila nas costas e rumou para fora da sala, me fazendo apertar os passos para acompanhá-lo.

Já há algum tempo venho notando os olhares diferentes de Léo para mim. Muitas vezes, quando estamos estudando juntos, pego seus olhares de canto, mas assim que nota que percebi, disfarça e fica mais vermelho que um pimentão. Sei o quanto ele é tímido para essas coisas. Sei o quanto ele fica constrangido quando a atirada da Emília solta suas indiretas para ele.

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