Mar de sangue

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Escuro. Está escuro...quero enchergar. Quero ver aonde estou. Mas por algum motivo, meu corpo não se move, de maneira alguma. Era para alguém imperativo como eu estar incomodando. Mas não... não estou. É como se tudo que eu precisasse fosse ficar assim deitado. Sem me importar com o que tem a frente.
Merda...merda, poha. Não importa o que sinto agora, preciso sair daqui. ALGUÉM, ALGUÉM, ALGUÉM. Mais que inferno...estou gritando mas minha voz não sai. Saí daí logo Eu tenho que falar. Se não posso sair então preciso pedir ajuda.
Mais que desgraça. Minha voz não saí e...isso são lágrimas? Estou triste...mais porque? Por que derrepente essa vontade de morrer? Eu... não compreendo...
Espera...quem sou eu? Qual meu nome? Porque estou aqui? Minhas costas estão pesadas. E como se tivessem duas rochas imensas a esmagando.
Droga... preciso sair daqui mas...por mais que... não importa, eu tenho que saber. Quem Diabos sou eu...
Espera. Eu lembro...eu acho. Eu sou....qual meu nome mesmo. Porque estou nesta situação? Meu nome... está na ponta da língua. Mas não consigo dizer. Meu nome, meu nome. Como desgraça, eu me chamo? QUAL É SEU NOME TEODORO?
Teodoro? É isso.. meu nome é Teodoro. Sou Teodoro Hector Klaus De Lá Santos. Eu quero vingança...mais porque? Porque eu...espera eu sei o porquê. Não lembro de tudo mas...

Prisão de Bastes. A pior da cidade onde fui criado. Só os piores vão parar lá. Eu estava lá... não sei o porquê. Só o que lembro e que eu era inocente. Mas para eles...para o cretino do Marxel, isso não importa.
Lembro que eu almejava mata-lo. ele a torturou, estuprou, e executou na forca. Quem é ela? Seja lá quem for...me lembrarei em breve, sei disso. Porque ela era muito importante para mim. Eu queria vinga-la é isso.
E depois mesmo me segurando para não fazer nada, eu fui preso. Que injusto, aquele lugar era o inferno.

-Teodoro Hector Klaus De Lá Santos. Você está preso por se opor ao rei, por injúria, e por assassinato da rainha_ Julgou o juiz, Marxel D. Algust, um membro de umas das famílias reais de onde fui criado. Ele tinha um grande poder político e me acusada de algo que não cometi.
-INJÚRIA É O CACETE. EU NÃO FIS NADA SEU FILHA DA PUTA_Gritei furioso, e cerrando os punhos. Enquanto era ridícularizado naquele tribunal, infestado de pessoas nojentas. Pragas que lutava pelo mau dos outros, e pela luxúria pessoal. Eles me davam nojo.
-BASTA_Reprimiu_É com essa boca que beija sua mãe? Aé, você não tem mãe! Ah... não importa o que você diz. O que fez está feito. Irá pagar por isso. Irá para Bastes. Para a cela de anticristo.
A cele do anticristo. Lembro-me agora que era a cela onde iam os piores. E quem os enviavam era o Vaticano. Quem ia parar, é quem recebeia a pior das sentenças. A que eu recebi.
Minha sentença? Três meses para morrer na forca. Mas antes disso, eu devia pagar por meu supostos pecados. Minhas refeições diminuiam a cada semana, e na semana de minha morte, eu não teria mais o que comer. Todos os dias tinham as cessões de castigo. Na primeira era só uma cessão por dia, e segunda semana, eram duas, e isso aumentava todas as semanas.
Além disso tinha o castigo especial. Se não me engano, era toda quinta-feira. Dizem que esse dia foi escolhido porque eles odiavam as quintas, e queria deixar ela divertida. O castigo especial, não era simplesmente apanhar como nós outros, era tortura. Até eu gritar e implorar para morrer.
No primeiro dia. Me bateram com um chicote de couro, até ficar roxo. Depois arrancaram meus polegares e os dedos do pé, com um cerrote. Eu gritei e gritei em desespero, mas de nada importou. Estancaram a ferida para que eu sobrevivesse até o próximo dia de tortura. E eu soluçava implorando a Deus para me tirar dali.
Na primeira semana. Eu perdi uns quatro kilos. Minhas costas estavam muito machucadas. E eu briguei com os outros detentos uma centena de vezes o que só piorou minha situação. Implorei a Deus que me matasse.
No primeiro mês. Perdi tanto sangue, que mau pudia andar. Devo ter perdido uns quinze kilos. Meu uniforme de presidiário estava sujo rasgado e fedido. Fazia um tempo que eu não me banhava, e não aguentava meu próprio cheiro de merda e urina. A partir daí, eu perdi completamente minha fé e esperança. Eu só queria morrer, e contava os dias até minha morte. Faltavam dois, longos e miseráveis meses.
Um mês e meio, e eu ganhei um companheiro de cela, ou melhor...uma companheira. Coitada, fora acusada de sério caso de bruxaria, de desacatar a igreja e teve a mesma sentença que eu.
Conversamos muito. Ambos queríamos morrer.
-Isso já é demais_Comentou-Não aquento mais. Até estupro.
-Você também?_Falei baixo, com a voz falha, já desnutrido , e deitado de lado no chão pois não conseguia mais me aguentar.
-Você foi também?
-Aqui, eles não tem preferências. São só demônios em busca de destruição.
-Eu...quero morrer logo. Não aquento_Falou baixinho, e cabisbaixa_Eu prefiro ir para o inferno do que ficar aqui, por mais um dia_Ela chorou, por desespero...chorou.
-Você não entende a situação não é? Já estamos no inferno. Isso é o inferno. É isso que ele é.
-Será que Deus desistiu de mim?
-Tenho inveja de você. Ainda tem fé, em algo que não existe. Não te julgo, eu tinha também. Se a existência dele fosse real,eu não tinha sido acusado pelo que não fiz, nem você.
-Acho que...
A porta de nossa cela escura e fedorenta se abriu. Por breves segundos senti o alívio do ar puro. A mulher foi levada, era hora de sua sessão. Em breve seria a minha.
Quando ela voltou estava ainda pior do que antes. Seu belo rosto, ele estava tão marcado! Ela que era linda, uma beldade, agora estava irreconhecível. Sabe...na maioria das vezes, o detentos não sobrevivem até o dia de sua execução oficial. Sorte que eu não tive. Não posso dizer o mesmo dela. Eles exageram mesmo né!? Era sua hora de partir deste mundo. De descansar... finalmente.
-Eu... não sinto mais o meu corpo_Falou baixinho, ensopada de sangue. Ela tossiu e engasgou com o próprio sangue. E falou mais um pouco_Acho que os boatoas são reais. Antes de morrer, toda sua história passa na sua mente.
Eu me arrastei com, muita...muita dificuldade, já sem uma perna e sem um braço, até seu lado. Apoiei minha única mão no chão, em seguida me deitei. Olhei para ela, e segurei sua mão.
-A única coisa que posso lhe oferecer agora..._ lhe falei_... é que não morra sozinha. Vou segurar sua mão em seu momento final.
-Sabe... é como se o tempo tivesse parado. Isso não acaba_ Ela virou a cabeça para o meu lado e chorou um mar de lágrimas_Vocé... não sabia que era gentil. Mais eu desconfiava. Queria ter te conhecido de outra maneira, e talvez ser sua amiga. Mesmo este lugar...tivemos boas conversas. Mas mesmo assim, depois de um mese...ainda não sei o seu nome.
-É Teodoro. Teodoro_Repeti em sussurro. Me diz o seu...
-Angelina...
-É um nome bonito_Falei atencioso,enquanto chorava.
-Teodoro_ela repetiu_não combina muito com você...mais até que soa bem.
-Eh...._Confirmei ofegante.
-Teidor_Chamou.
-Pode falar_Respondi.
-Obrigada_Sussurou. O sussurro que foi sua última palavra. Pois em seguida, ela lentamente fechou os olhos. Respirou fundo em alívio...e se foi. Ela morreu.

Passou o tempo que me faltava. Eu não conseguia andar,falar, e mau respirava. Me tiraram de minha cela. Me levaram até o público. Todos gritavam, em ansiedade para me ver morrer. Eu não julgava... também estava ansioso para minha morte.
Fui levado pelos guardas até o "palco" onde amarram a corda em meu pescoço. E sabe... Angelina tina razão...o momento da morte é lento, longo e desesperador. Enfim... puxaram a alavanca do alçapão. Eu caí, a corda se esticou. Minhad vias respiratórias se romperam, meu pescoço se quebrou. Eu morri...

Eu jurava que a morte era o fim. Mais por algum motivo, eu abri os olhos,e estava me afogando em um mar de sangue. Eu nadei, nadei , e parecia não ter fim, mas acabou que eu consegui chegar. E o que notei era que o mar de sangue, não era nada além...do meu sangue.
Eu chorei. Não estava triste, mais meus olhos derrepente vazaram. As lágrimas e o sangue_ao menos neste lugar_eram como água e vinagre. Mas o volume do mar aumentou e começei a me afogar.
Em desespero, tornei a nadar novamente. Demorou até eu chegar na praia. Praia estranha. Não que tenha dado tempo de ver muito mas...a areia, o ar, o ambiente...era tudo preto e branco. Sem nenhuma cor se quer. Eu pisei na praia, e não sei se podia,pois isso me fez acordar, e chegar na situação atual.

Caí? morri? isso importa agora? creio que não. Minhas lembranças são de asas crescendo em minhas costas, de quase desmaiar por conta do sangue perdido, após ser torturado naquela prisão sem prova de minha inocência. de gritar, e chorar, por puro ódio, da mulher inocente, que morreu por ser considerada uma bruxa.

Espera...asas? Sim,eu avia me esquecido. É que minhas costas doem e estão pesadas. Estou cogitando que não seja um sonho, pois a dor foi real de mais, a morte também, a minha e a daquela mulher.
Esse peso. Talvez seja isso mesmo. E que...antes de morrer, parece que vi asas crescendo em minhas costas, segundos antes de morrer.
Ah...eu também lembro que quero justiça... vingança. Por Angelina? Não. Ela merece ser vingada e se eu puder eu o farei, mas é outra pessoa que quero vingar. Quem? Quem seria? Quem?
Ah...quer saber? Depois penso nisso. Depois...agora tem outra questão. Eu quero enxergar, quero sair daqui, quando...se consegui. Aí sim, eu penso no que falta. No que está criptografado na minha mente, no que não posso ver nela, no que esqueci completamente. Agora... só o que preciso, é voltar a enchergar...voltar a ver.


Sangue CelestialOnde histórias criam vida. Descubra agora