• Track 3 •
Ev'ry time we say goodbye
(John Coltrane)"Ev'ry time we say goodbye
I die a little
Ev'ry time we say goodbye
I wonder why a little"Pela janela do ônibus, atravessando a extensão do rio Han, ela sentiu como se todos os caminhos confluíssem naquelas correntezas que desaguavam em inevitáveis lembranças.
Por bem ou por mal, ela continuava sendo eu, perturbada até mesmo pela rota dos transportes coletivos e os caminhos que obrigatoriamente atravessariam o rio Han. O nosso rio e o de mais 10 milhões de pessoas, eu era capaz de escutar no fundo a risada grave de Taehyung que não cansava de se divertir com a nossa antiga piada interna. Um sorriso chegou a me escapar enquanto fitava a paisagem se movendo pela janela, me recordando de outros tempos em que tudo era mais promissor. O sorriso não chegou a durar nem um segundo, pois logo fui dragada por memórias que insistiam em me desconectar do agora.
Em uma luta contra aquele fluxo tão inevitável como das águas escuras do rio à minha frente, tive vontade de dar o sinal, descer no primeiro ponto após a ponte e voltar andando. Sentir sobre o rosto o vento, me forçar a respirar e me jogar. Metaforicamente, apenas. Deveriam existir várias formas de seguir em frente, assim como infinitas metáforas para defini-las, mas eu não conseguia deixar de pensar em como seria olhar fixamente para aquelas águas, de cima para baixo, as fortes correnteza do rio Han vistas da ponte, a vertigem por olhar tão fixamente até ter coragem de, finalmente, me jogar.
Cogitei, daquela ponte, abandonar todo o passado em um salto, como se fosse capaz de fazê-lo como uma simples ação. Em algum momento talvez, mas definitivamente não seria hoje. Eu ainda não conseguia abrir mão de todas aquelas memórias. Afinal, se eu o esquecesse, quem habitaria as minhas memórias? Em quem eu pensaria enquanto passo por essas margens largas? Quais significados a música que sai do meu fone teria? Quem eu veria antes de fechar os olhos? Qual seria a graça de passar por todos aqueles lugares sem me lembrar dele?
Deveria existir um meio-termo entre se jogar abandonando tudo para trás e ficar apoiada no parapeito da ponte assistindo meu passado aprisionar meu presente. O pensamento me fez apertar os olhos algumas vezes, vendo de forma intermitente a grande extensão de água, montanhas, prédios e mais prédios, céu; a combinação visual curiosa que era Seul de um lado e, por outro, as combinações improváveis de pessoas que essa cidade proporcionava debaixo desse mesmo céu.
Eu, definitivamente, não deveria estar pensando naquilo, mas ainda não havia descoberto como impor restrições aos meus pensamentos e eles, rebeldes, viajavam livremente pelo passado, me recordando de que já fomos uma dessas combinações, uma combinação bem interessante, devo que admitir, de uma universitária de Anyang e um saxofonista de Daegu. Os achados e perdidos de Seul.
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My One and Only • Kim Taehyung
FanfictionUm saxofonista, uma garota apaixonada, jazz e memórias. Basicamente, sobre como todas as coisas parecem tão perfeitas depois do fim. Kim Taehyung| Shortfic | Romance| Jazz