Capítulo 2 - Alexia

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No terreno baldio ao lado da casa do meu maior pesadelo, eu segurava uma arma e criava coragem para agir. Até o momento, a única coisa que fiz foi ligar para Fred pedindo ajuda.

Mauricio iria nascer, a criança que eu sentia como se fosse meu próprio sobrinho, mesmo que não fôssemos parentes de verdade. O amor que eu tinha por Fred, Luana e o filho em seu ventre era difícil de descrever em palavras.

Deveria ser suficiente para esquecer meu passado, mas não era. Quando recebi o e-mail com a matéria que mais temi toda a minha vida, esqueci tudo e foquei apenas em fazer justiça com minhas próprias mãos. Naquela época, eu não sabia me defender, mas hoje, ele aprenderia a lidar com uma mulher adulta com uma arma na mão.

Eu realmente queria matar? Minha ânsia de ver a vida abandonar o corpo de uma pessoa que não merecia uma segunda chance me obrigava a fazer por mim. Ele precisava morrer, para sair dos meus sonhos e ser eliminado do meu modo de agir.

Não tocava as pessoas porque lembrava dele. Não gostava de palavras que remetem ao sexo por causa dele. Eu odiava muitas coisas em mim por causa dele.

Ri e chorei ao mesmo tempo, olhando para o muro que pretendia pular para invadir a casa daquele que merecia unicamente a morte. Fiz tantas terapias na minha vida, a última, junto com Analia, parecia ter me mostrado uma outra perspectiva.

Enquanto estava em um mundo ideal, tudo fluiu bem. No momento que o passado veio à tona, algo que estava trabalhando pequenas partes por vez, tudo pareceu inválido.

Como viveria com medo da minha sombra? Enquanto ele estava preso, eu tinha um pouco de segurança, agora, ele precisava morrer.

Escutei barulho de carro parando próxima aonde estava. Chorei um pouco ao perceber que Fred poderia ter largado Luana em trabalho de parto para me socorrer. Por Deus, sabia que atrapalhava a vida dele, mas a segurança e conforto que tinha com ele se igualava ao que tinha com meu padrasto.

Aprendi a não odiar minha origem, mas estava difícil nesse momento. No final das contas, só estava sendo um lixo como meu próprio pai biológico foi.

— Alexia? — a voz baixa e sussurrada em minha direção me assustou. Não era Fred, a silhueta não era dele, mas de alguém que me intimidava tanto quanto meu passado.

Apontei a arma em sua direção, o escuro da madrugada nos ocultava dos vizinhos. Quando ele chegou próximo de mim, com seu olhar astuto de predador, levantou as mãos em rendição. Minhas mãos tremiam, mas miravam para o seu peito.

— Vai embora, Leo — falei chorosa e sem credibilidade.

— Como sempre, causando transtornos e gerando confusão — ele falou com desprezo e só não puxei o gatilho, porque dentro de mim não existia coragem.

Como mataria o meu passado para viver em paz no presente?

— Vai tomar no cu! — falei alto e virei para o muro. Precisava agir logo, senão perderia a chance de fazer o que precisava. Eu queria paz!

— Não tomei, mas fiz duas gostosas tomarem. — Virei para ele chocada e não havia humor em sua feição. — Abaixa essa arma e vamos embora, Alexia.

— Só vou depois que terminar o que preciso. — Encarei o muro e dessa fez, comecei a andar.

— Ele não está em casa.

— O quê? — Deixei meus braços soltos e minha mão quase largou a arma. Ele sabia o que eu estava fazendo aqui? Seu rosto não me mostrava nada, a pouca luz também não colaborava.

— Sei de quem é essa casa. Antes de parar o carro aqui, conferi todo o perímetro e a pessoa que você quer matar não está. Já coloquei um homem para o localizar. — Ele deu passos em minha direção e fui andando para trás. — Eu conheço sua história.

Um nó se formou na minha garganta. Voltei a apontar a arma em sua direção e andei para trás, acuada, preocupada e me sentindo completamente nua na sua frente.

Ele conhecia minha história? Sabia o quanto eu era... quebrada?

— Vai embora! — O choro veio com mais força e Leonides não parou de se aproximar. — Eu vou atirar.

— Não vai, porque você vive em um casulo, Alexia. A coragem para ser imprudente não existe dentro da redoma que você vive, protegida por Fred, Luana e seus pais. É preciso sair desse mundinho e impor sua posição nessa vida.

— Eu vou atirar! — gritei descontrolada. Sua aproximação me lembrava que poderia haver contato. Mesmo que estivesse me sentindo bem em ter contato físico com algumas pessoas, desde quando coloquei minha mão nessa arma, tudo parecia ter retrocedido. Eu não queria ser tocada por ninguém, porque me lembrava do pesadelo. — Ele não pode ter mais controle sobre mim.

— Vou te desarmar se você não baixar a porra dessa arma! — ele falou com raiva e minhas mãos tremeram. O que ele iria fazer?

— Por favor, não me toque — minha voz era um fio, minhas forças estavam sumindo do meu corpo e meu estômago, que não tinha nada dentro, se rebelava. Eu iria vomitar a qualquer momento.

— Você terá três segundos para soltar a arma, senão, eu o farei. Pare de agir como uma menina mimada e aja como uma mulher!

Em um segundo, estava me sentindo fraca, no outro, eu era o ódio falando por mim. Minhas mãos seguraram com firmeza a arma, apontei para a cabeça de Leo e se ele não agisse, eu poderia estar enganada, mas atiraria.

Mimada? Agir como uma mulher? Antes de falar algo para mim, ele precisava viver o que vivi. Meu saco havia explodido, não levaria mais desaforo desse idiota, arrogante, insensível...

Meus braços foram erguidos, a arma jogada no chão e com precisão, Leo foi para minhas costas, segurou meus braços cruzados com um braço e com o outro, envolveu meu pescoço.

Encurralada e desesperada.

Esperneei, gritei e mordi seu braço até que senti sangue na minha boca. Ele não se mexeu, forte e determinado em me ter rendida. Talvez, eu precisasse sofrer a mesma coisa de quando criança para perceber que minha vida seria essa, sempre tomada a força.

Senti a bile na garganta e quando abri a boca para vomitar, Leo me soltou, me curvou para frente segurando minha cintura de lado e tirando os meus cabelos do rosto.

Só queria que ele me soltasse! Vomitei novamente.

— Não sei o que se passa nessa sua cabeça, mirando na porra da minha cabeça e determinada a me matar. Meu instinto de sobrevivência é maior do que de muitos, eu trabalho arriscando minha vida! — rosnou. Pelo visto, estar entre a vida e a morte o alterou.

— Me solta — falei fraca, sentindo a ânsia me dominar, mas sem sair nada da minha boca. Céus, que sensação horrível.

— Eu vou te soltar, quando você parar de vomitar e tiver firmeza nessas pernas para não cair de cara no chão.

Saí do seu agarre, encarei-o feroz e o empurrei com minhas mãos em seu peito.

— Quando uma mulher diz para você parar ou soltar — empurrei-o novamente —, você obedece, idiota! — Empurrei-o mais uma vez antes de o ver sorrir. — Vai tomar no cu!

— Eu precisava gravar essa cena e mostrar para o frouxo do meu irmão e Luana. Você é forte, está no comando!

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