Capítulo 3 - Leo

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Quase levei um tapa na cara. Segurei seu pulso com força quando sua mão estava próxima do meu rosto e a soltei quando ela se afastou. Porra, só eu que via a garra que ela tinha quando pressionada?

— Pare de me manipular. Me deixe em paz. — A força ainda estava nela, fervilhando em suas palavras e pronta para dominar suas ações. Aqui, ela não ficava retraída por alguém a tocar ou dizer o que não gostava, ela tinha o controle da situação.

— Vou te deixar em paz quando você deixar meu irmão em paz também. Não percebe que você é o terceiro elemento da relação? Que nem transar direito eles estão fazendo, porque você está sempre no meio?

A ficha dela finalmente caiu. As lágrimas silenciosas que escorriam do seu rosto e que brilhavam por conta da luminosidade da lua era um indício de que Alexia finalmente enxergou que deveria sair da porra do casulo.

Ah, eu tinha certeza que ela seria uma linda borboleta.

— O que eu devo fazer? — perguntou de forma automática, não havia mais emoção aflorada.

— Não vá se fazer de vítima, Alexsandra! — esbravejei e ela abaixou o olhar dando de ombros. Os passos para longe de mim pareciam pisar no meu peito e não conseguia entender o motivo.

— Você nem sempre está no comando da situação e das pessoas. Apesar de sentir o amor dos meus amigos por mim e deles não merecerem seu ódio, eu vou me afastar, Leonides. Vai me doer, mas por você, eu não estarei mais com os únicos amigos que conquistei nessa minha vida complicada.

— Fácil colocar a culpa nos outros de suas próprias ações. Não distorça o que estou falando! — Aproximei dela e ao invés de recuar andando para trás, agora me dava as costas e andava despreocupada.

— Sinto muito que não sou a pessoa que você idealiza. Confesso que fico decepcionada muitas vezes comigo mesma, e outras vezes admirada por me permitir. — Ela começou a andar pela calçada e a segui. Suas palavras iam massacrando uma parte do meu coração, se é que isso era possível.

— Onde você vai?

— Eu não sou problema seu e a partir de hoje, ninguém precisará ficar preocupada comigo — falou por cima do ombro e o desespero começou a me dominar.

— Preciso recolher a arma e te levar em casa, Alexia. Pare de andar! — Não conseguia mais tocá-la. Seria fácil impedir de continuar a andar, mas estava limitado por conta das suas palavras.

— Adeus, Leonides. Amo e respeito a sua família.

Ela estava se despedindo? Iria atentar contra a própria vida?

Corri ficar de frente para ela, que ergueu a cabeça para me encarar. Seu olhar era apenas sofrimento e determinação.

— Vou voltar para a minha casa da mesma forma que vim, a pé, sem ajuda de ninguém. Com licença? — Ela deu um passo para o lado e enxugou as lágrimas que escorreram. — Você nunca facilitaria minha vida, não é?

— Eu vou te levar para casa e garantir que não tente nada contra você mesma. — Se algo acontecesse com ela hoje, Fred nunca me perdoaria.

Ela riu entre o choro, me exibiu um sorriso triste e me surpreendeu ao tocar meu rosto. Não parecia com nojo ou receio, foi uma ação natural e por isso, fiquei hipnotizado.

— Você diz que preciso sair do meu casulo e não percebe que é o que mais não me permite fazer isso. É minha vez de te dizer algo, nunca se deve ajudar uma borboleta a sair do casulo, senão, suas asas podem não serem fortes o suficiente para voar e morrerá em pouco tempo. — Ela tirou sua mão do meu rosto e sussurrou: — Me deixe voar.

Não tive outra atitude senão vê-la seguir para longe de mim. Alexia tinha escutado tudo o que eu tinha dito e pelo visto, eu também, mesmo que racionalmente, ainda acreditava que o tratamento de choque seria o melhor no seu caso. Quando pressionada, ela tomava as atitudes certas.

O que era o certo, afinal?

Saí do meu estupor depois de alguns segundos, busquei a arma no meio do terreno baldio e busquei o número de série dela, para anotar e descobrir como e quando ela conseguiu essa arma.

Como ela mesmo disse, eu não a conhecia, essa era a verdade.

Conferi uma última vez o perímetro da casa que abrigava a pessoa que atormentava o passado de Alexia e constatei novamente estar vazia. Havia pessoas que não mereciam segundas-chances porque eles mesmos não queriam mudar. Esse homem poderia não mais morar no local e ainda estar envolvido com o crime. Alguém precisava ficar de olho nele e o impedir de fazer mais uma vítima, por precaução.

Porra, ela era vítima, mas não podia ficar por muito tempo nesse buraco. Todo mundo tinha uma história fodida para contar, uns mais pesados, outros mais suaves. Como minha vó Cida dizia, o fardo que carregamos é apenas o suficiente, é o que damos conta de transportar. Fodido dizer isso na situação dela, mas... até quando ela seria tratada como criança?

Me deixe voar.

Estava preocupado demais para dormir. Quando segui para a minha casa, acionei meus companheiros de trabalho para cuidar de mais um favor para a minha família, estava uma pilha de nervos. Dessa vez, nem sexo iria me acalmar, mas sim, saber que Alexia estava em casa e bem.

Entrei em casa e fui direto para a geladeira, abri uma cerveja e tomei tudo em um gole só. Era uma merda não estar no controle, Alexia sabia meu ponto fraco e o usou contra mim. Mas também sabia que, para tratá-la como mulher, deveria soltar qualquer amarrara que eu achava que tinha sobre ela.

Meu celular vibrou no bolso, fui para a área da piscina, deitei em uma das espreguiçadeiras e conferi as mensagens no grupo da família. Mauricio havia nascido, a cara da minha cunhada era de dar dó ao mesmo tempo de felicidade.

Por que mesmo ela queria parto normal? Bem, pelo visto, valeu a pena, porque a primeira foto da família de Fred só me fazia sentir bem. Ele havia encontrado o amor da sua vida, se sentia completo e... era algo que não havia em mim.

Mais alguns meses e seria a vez de Laís ter Pedro. Analia era tímida, mas não escondia a alegria de fazer parte da família. Acompanhei de longe seu encontro com o pai milionário e também, de Alexia dançando com Fred.

Fechei os olhos para não cair no abismo do ciúme. Luana estava juntos deles, nunca houve nada entre os dois. Minha raiva era por conta de Fred a tratar como um bebê, coisa que ela não era. Sim, só existia isso em mim.

Depois de vários minutos em que o assunto era apenas o novo integrante da família, Fred me enviou uma mensagem perguntando de Alexia. Levantei da cadeira e fui até meu escritório, onde tinha o mesmo acesso ao sistema de rastreamento de celular, além de hackear. Conferi o número de Alexia e percebi que ainda estava em deslocamento, próximo a sua casa.

Não resisti e conferi tudo o que existia dentro do disco rígido do seu celular. Um vídeo me chamou atenção, sentei e segurei a respiração quando assisti Laís, Analia e Alexia dançando poledance.

Porra, eu não deveria ter visto isso.

Sentei na cadeira e foquei em acompanhar o ícone indicando a mulher que me atormentava chegar na sua casa e ai, seu celular parar de se mover. Ela estava a salva, só não saberia dizer se estava bem.

Leo>> Alexia está em casa.

Fred>> Obrigado, irmão. Te devo uma.

Ah, se ele soubesse que essa uma poderia ser uma surra.

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