Opia

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NOTAS: Oi, chianinhas lindas do coração. Mais uma vez, eu e Thais estamos aqui pra trazer essa história pra vocês e queremos deixar alguns avisos.

Essa história não tem o mínimo de semelhança com a realidade. Traremos o máximo de referências possíveis do nosso casal e resgataremos o que for possível também da personalidade de cada uma.

É uma história pesadinha, que aborda assuntos sérios da forma mais leve que se pode, tirada do nosso coração e muito trabalhosa, mas feita com muito carinho e amor pra vocês.

Esperamos que vocês gostem e se apaixonem junto com a gente! 

Ps: não deixem de dar aquela forcinha comentando e favoritando.

Boa leitura.

[...]

Opia (n.) A intensidade ambígua de olhar alguém nos olhos, o que pode fazer se sentir simultaneamente invasivo e vulnerável.

O tempo estava feio na capital mineira. De joelhos e debruçada sobre a cabeceira de sua cama de solteiro, Ana Carolina encarava através da janela de seu quarto as nuvens cinzas mais horrendas que já vira em toda sua vida.

Afastou as cortinas e pôs o corpo ainda mais para fora; o vento gelado batia em seu rosto e deixava respingar suas gotículas sobre os longos cabelos vermelhos e volumosos que tanto tinha orgulho, por mais que tivesse escurecido o tom para um vermelho mais fechado.

Acredita-se que observação é um dom. Olhar, fazer notas mentais por horas e guardar cada detalhe, sobre tudo é um trabalho árduo para àqueles que sentem demais; o peso de uma lembrança é o verdadeiro preço do sentir demais. E agora, Ana Carolina observava; seus olhos pequenos e castanhos semicerraram-se na direção da arvore em seu quintal, e seus ouvidos se atentaram completamente para o exterior. Ana pôde ouvir um, dois, três, quatro Tuins cantando ao mesmo tempo, o que era incomum já que aves gostam de sol.

Os Tuins e armazéns eram o que a ligavam ao seu pai. Uma única foto era o que tinha – um homem alto queimado pelo sol e um tanto mirrado. Usava um chapéu que fazia sombra em seu rosto, o que dificultava a acepção de seus traços. Ele estava na frente de um armazém, e segurava nas mãos um casal de Tuins verdes com o dorso azul. Não sabia se estava feliz, mas gostava de imaginar que sim e tentava entregar à figura imaginada de seu pai o melhor sorriso que sua mente poderia criar.

Voltando o pensamento e o corpo para dentro do quarto, Ana deixou-se cair sobre a cama ficando de ponta cabeça com os pés na parede. O mundo virara de cabeça para baixo dentro do pequeno cômodo – de onde estava, via perfeitamente o canto da parede que havia se esquecido de pintar desde que resolvera retocar o tom azul de suas paredes. A escrivaninha com duas pilhas de livros organizados em ordem alfabética, sua amada Gibson e seu estimadíssimo Ramirez descansavam lado a lado do seu armário.

Ao voltar seu olhar para a esquerda do cômodo, para onde ficava o criado mudo, pôde ver suas malas ainda por fechar e algumas roupas meticulosamente dobradas para serem colocadas nas mesmas. Levando a mão instintivamente sobre a extensão do colchão, esbarrou os dedos em seu passaporte, identidade e enfim, pelo envelope pardo onde jaziam os papéis que mudariam sua vida para sempre.

Surgiu em Ana Carolina há algum tempo atrás, um desejo que se aflorou tão rápido como se apresentou – queria mudar, crescer. Ela se preparava em Minas Gerais para dar o maior e mais importante passo de sua vida; iria sair do Brasil para conhecer sua filha. Sim, ela seria mãe em poucos dias – graças à um amigo que lhe ajudara nesse processo, conseguiria realizar seu desejo. A papelada da adoção estava pronta e o pedido de guarda provisória já havia sido requerido. Estava ansiosa, e seu coração saltava no peito toda vez que lembrava do rosto de sua criança – passaria algumas semanas fora para a avaliação de uma assistente social durante o período de adaptação.

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