don't call | jikook

please,

n/a era pra ser uma one shot... anyway, enjoy it

Eu sinto o vazio.

Ele é intenso, agarra-se em minhas pernas e cresce sobre mim. Apodera-se de cada mísera parte com gula, engole as esperanças em seu enorme buraco negro, desfazendo expectativas antes mesmo que elas cheguem a se levantar.

O líquido tinto da terceira taça escorre por minha garganta com facilidade, a doçura acentuada revirando em meu estômago vazio, a ânsia subindo discretamente nos fundos da garganta.

O álcool flui em minha corrente sanguínea. Sinto o raciocínio desacelerar, tudo gradativamente abrindo espaço para que você ocupe minha mente e seja o motivo dos sentimento instáveis as duas da manhã.

Depois de você, a decaída em minha vida foi relativamente rápida. Ladeira abaixo, vi tudo desmoronar, tijolo a tijolo, até que as marretadas em meu psicológico ficassem tão fortes que me vi desmoronar.

O sofá duro parece confortável demais, a noite barulhenta em todos os seus não-sons atrapalham meus ouvidos ao ricochetear pelas paredes vazias.

Eu só o queria aqui.

Não sou mais quem costumava ser. A determinação esvaiu com a brisa fria, as bocas desconhecidas e corpos alterados, os tímpanos que trocaram a calma do seu colo pela batida incessante que ritmava minha própria depreciação.

Tenho vergonha de mim, Jungkook.

Tudo aquilo que me fazia seu não está mais aqui. Minha essência levada, pedaço a pedaço, por cada um que passou pelos meus lençóis e não foi você, e, imponente, não fiz nada contra isso.

"Vamos dar um jeito de te alegrar!" Eles diziam.

Incontáveis cigarros depois, nublando as vias respiratórias para que eu não sentisse o cheiro do seu perfume quando passasse, os destilados corroendo minha corrente sanguínea para que eu não distinguisse seu rosto na multidão, e, mesmo assim, o vento do lado de fora das boates ainda parecia frio demais para alguém chapado ao encarar o asfalto molhado pelas próprias lágrimas.

Sim, Jeon, eu me sinto horrível e, por isso, decidi que já era hora de não sentir mais nada.

A garrafa de vinho vazia ao meu lado não me deixa mentir. Eu só queria ouvir a sua voz depois de todos esses meses. O celular grita para que eu o pegue, seus olhos chorosos repassam em minha mente quando lembro de minhas palavras dolorosas, ao clicar no contato que ainda permanece nos favoritos.

Quatro toques.

— Jimin?

Será que algum dia você será capaz de me perdoar?