A primeira troca de cartas - 02

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Lá estava eu, Cheryl Blossom, andando pelo corredor agitado do maior hospital privado de Chicago.

Havia deixado Jack com minha mãe, ela mora a meia hora de Chicago, mas veio para passar o dia dos namorados comigo. Sim, minha mãe, é que perdemos papai ano passado, ele sempre fazia o dia dos namorados uma data comemorativa. Como quando jovem, Clifford Blossom era muito pobre, convidava minha mãe, Penélope Blossom, para comer um sanduíche feito por ele e apreciar as ruas da cidade grande. Ela ainda sofre muito essa perda, por isso pedi que viesse até Chicago, já deixei alguns sanduíches na minha bolsa, para quando eu sair no horário de almoço, buscá-la e fazermos o legado de papai continuar existindo.

Eu estava como me vestia de manhã, um casaco marrom sem cor (única cor vista era a maldita mancha de café que havia derramado), um blusão rosa claro, meu tênis comum e uma calça jeans desbotada. Não costumo usar maquiagem nem possuir plena vaidade, não, não perdi a vaidade, se é o que está pensando, a verdade é que nunca a possuí.

O corredor não era calmo, era alarmante, para ser sincera. Antes de aceitar agir como médica auxiliar da famosa Doutora Alice Cooper, já sabia o que iria enfrentar, então não posso reclamar. Além de que, o salário é ótimo!

"Olá!" - Digo à secretária que estava ao telefone e movendo suas mãos rapidamente, em busca de algo para uma mulher que portava jaleco azul, provável ser alguma enfermeira.

"Pegue, preencha e já atendemos!" - Ela me entrega uma folha e uma caneta, sem nem olhar para a minha cara.

"Não... Não!" - Eu falo educadamente entregando o papel de volta à ela.

Ela desliga o telefone e começa a me dar ouvidos, me olha dos pés a cabeça, mas discretamente, apenas eu tenho um dom ótimo de percepção.

"Eu sou a médica que Alice Cooper pediu." - Sorrio.

"Ah... Ah... Ela está no segundo andar, terceira porta à direita!" - Ela fala espantada, não sei porque as pessoas sempre acreditam que médicas devem andar de salto, cabelo feito, roupas chiques e aparência falsa.

Pego um elevador.

"Bom dia!" - Diz uma idosa com roupas de paciente.

"Bom dia, como está?" - Olho para ela e coloco um sorriso em meu rosto.

"Péssima minha filha, acho que de hoje não passo, mas tudo bem... Vivi o que quis, estou pronta para partir!" - Ela sorri ao tempo que me encara. Era pálida e tinha poucos cabelos, seus olhos me chamaram a atenção, eram azuis igual às águas do meu lago. Coitada, penso eu. Contudo, ela teve sorte de viver seus sonhos, já eu, sonhei tanto e vivo uma realidade completamente diferente.

Eu apenas confirmo com a cabeça, não sei o que falar.

Ótimo, o elevador se abre e quando dou adeus para senhora, me viro de encontro com Alice Cooper conversando com uma enfermeira.

"Olá senhora Cooper, sou a Doutora Blossom!" - Estendo minha mão para cumprimentar a loira.

"Ah! Que bom que chegou, vamos conversar!" - Ela me cumprimenta e pede licença para a enfermeira.

Já andando a caminho de começar o trabalho, com meu jaleco branco, ao meu lado, Alice entrega em minhas mãos um monte de fichas hospitalares.

"Você vai tratar vinte e dois pacientes, neste andar e no de cima" - Ela coça os olhos e eu me espanto.

"Vinte e dois?" - Continuamos caminhando.

"Manhã tranquila querida! Se precisar me chame... Mas não se acostume! Os nossos pacientes vão ajudar você." - Ela está com cara de poucos amigos.

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