Fazia anos que eu morava no mesmo local, aquele bairro longe do centro, porém com terrenos grandes o suficiente para uma casa como a minha, que se encaixava mais no quesito mansão do que necessariamente casa. Ela tinha vários cômodos, era um sobrado, possuía vários quartos com suíte, tinha uma varanda muito bonita e a sala tinha uma janela enorme que possuía vista para o outro lado da rua. Era nela que eu estava, jogando um jogo qualquer de videogame na TV - que também era enorme, 60 polegadas, que ficava num painel giratório que compartilhava com a sala de jantar, onde o outro lado era uma pintura, Noite Estrelada, de Van Gogh, um dos meus quadros preferidos -, xingando às vezes quando perdia algum tiro ou levava um - eu era ótimo nesse jogo, quem ousava tentar me derrotar? Mas eu estava dando uma lição neles por tentarem tirar Wen JunHui do jogo. Quer dizer, até ouvir um grito de fora da casa, que eu reconheceria em qualquer lugar: um xingamento em chinês.
Terminei a partida antes de ir ver o que estava acontecendo, e me aproximei da janela. Ali estava meu vizinho da frente, MingHao, se eu não me engano, xingando enquanto tentava abrir a porta da frente, até se sentar na calçada e choramingar, encarando o céu. Ao vê-lo fazer isso, fiz o mesmo, erguendo o olhar, vendo nuvens escuras se aproximando, raios explodindo no céu e trovões ribombando ao longe. Ele parecia resmungar algo sobre como ele iria ser arrastado pela enxurrada, e foi ali que meu coração mole me fez ir buscar a chave e ir para fora, o observando.
- Ei! - gritei para si, tendo sua atenção - o que aconteceu?
- Fiquei preso pra fora - falou, suspirando e encarando o céu, parecendo se encolher, e se eu não tivesse cedido antes iria ceder agora
- Fique aqui enquanto você espera o chaveiro, logo vai cair uma tempestade.Ele pareceu ponderar, porém logo mais trovões apareceram, e ele se aproximou, dei espaço para ele entrar, e logo estávamos nós dois na minha sala, encarando a parede, num clima bem desconfortável.
Eu estava prestes a perguntar se ele gostava de água - de tão sem assunto que eu estava - quando meu cachorro começou a chorar alto e arranhar a porta, querendo entrar por estar com medo da tempestade que estava cada vez mais próxima - inclusive, estava ouvindo as gotas batendo levemente contra a janela. Me levantei para recolhê-lo, chegando na porta e abrindo a mesma, tendo meu Golden retriever pulando sobre mim e depois correndo para a sala enquanto eu fechava a porta novamente e retornava atrás dele, o vendo quase que em cima de meu vizinho, que ria baixinho e acariciava aquele cachorro folgado, que o lambia e abanava o rabo, todo feliz - derrubando metade dos meus enfeites que estavam sobre a mesinha de centro. Ainda bem que eles não eram quebráveis.
De qualquer forma, pouco tempo depois a chuva realmente começou a cair com força, fazendo barulho nas janelas de vidro, quase como estrondos que se seguiam a cada gota, fazendo com que meu cachorro subisse no sofá, se jogando sobre eu e MingHao. Suspirei baixinho, acariciando seus pelos, assim como meu vizinho que continuava em silêncio. Continuava quieto, exceto quando Roger rolava e exibia a barriga, onde ele soltava uma expressão de fofura e coçava a barriga do peludo, que estava todo contente sobre nós dois, mesmo que agora a chuva estivesse aumentando cada vez mais e cada vez mais rápido, e eu podia ver Minghao se encolher conforme os trovões apareciam mais frequentemente.
- Você tem medo de trovões? - perguntei, mesmo que soasse como algo bem invasivo.
- Na verdade eu tenho medo de escuro. E sempre que chove muito, a tendência é a luz cair e ter um apagão por um longo tempo - ele disse, a voz suave enquanto me olhava. Ele era tão fofo...
- Ah, não se preocupa. ‘Tá vendo a casa? É cheia de lustres, lâmpadas, é bem clarinha, relaxa - sorri para si, antes de ouvir um estrondo assustador do lado de fora da casa e logo estávamos no escuro.Provavelmente um raio havia atingido o transformador, e por isso a luz havia apagado. Ouvi um gritinho vindo de si, pelo barulho ensurdecedor, provavelmente, que o fez se encolher para mais perto de mim enquanto encolhia as pernas e abraçava os joelhos choramingando assustado. Coitadinho.
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The Storm | by jeongcheoltrash
FanficMingHao morava em frente à Junhui, mas nunca tinha falado direito com ele, nada além de alguns "bom dia" e às vezes pedidos de açúcar para fazer algum bolo. Quer dizer, isso até uma chave que não funciona e uma tempestade entrar em seu caminho. [Jun...