- Anastásia?
- Olá.- ouviu a voz alegre surgir em um rompante.- quem é?
Lottie sorriu carinhosa.
- Eu consegui seu número com a secretária do Colégio Guimarães Rosa...
- Oh, certo, foi minha aluna? Vou ter que assumir que deixei de ser professora faz um pequeno tempo, querida, mas prometo tentar ajudar.- respondeu afetuosa.
- Eu preciso te encontrar, teria como? Estive fora por alguns anos, é realmente importante.
- Eu não vivo mais em Pequeno Vale, precisei me retirar por motivos pessoais. Me encontro em Santa Cruz agora, conhece? É uma linda cidadezinha.
- E-eu conheço sim.- sussurrou sentindo a voz embargar por conta da culpa.- Posso chegar até você, não é tão longe, por favor me permita?
- Oh...- riu surpresa.- Não precisa dessa voz, querida, vamos sim, vou te passar o endereço.
Lottie sorriu agarrando sua agenda mais próxima e suspirou contente por ainda ouvir sua voz contida e educadamente alegre.
.
No dia escolhido para o encontro, Danice acordou cedo, na verdade nem ao menos dormiu por conta da ansiedade, em minutos estava pronta para pegar a estrada e receber a resposta que tanto almejou nesses longos anos longe, a saudade que sentia da voz, da risada, a curiosidade para saber como ela estava agora, se tão bonita e delicadamente arrogante como antes ou até mesmo se com alguém. Ela independente da resposta se positiva ou não, só queria saber sobre quem passou anos amando sem nem ao menos vê.
Estacionou o carro amarelo claro perto da entrada do parque e saiu de modo ansioso e ágil, seus olhos rápidos procuravam por todo canto alguém com aquele jeito de vestir e de se arrumar tão característico, tão doce e ao mesmo tempo sério. Seus passos se interromperam de repente, quando a avistaram sentada de modo despreocupado em uma mesa de um quiosque, seu chá parecia tão quente quanto ela lembrava, e seus lábios tão vermelhos quanto eram por conta da temperatura exagerada, até hoje não entendia como ela conseguiu tomar aquela pequena amostra de inferno.
Se aproximou exitante mas decidida, seus sentimentos tão confusos e contrários quase a fizeram parar e desistir ao se sentir encarada por aquele olhar, tão altivo e esperto e agora tão irritado e confuso. Observar seus olhos se comprimirem em arrogância, fez seu corpo esquentar e sua garganta secar, exatamente o mesmo poder que ela tinha sobre seu corpo, nada realmente parecia ter mudado.
- Danice?.- Chamou cautelosa, deixando cuidadosamente a xícara em suas mãos sobre a mesa, como se quisesse lhe oferecer toda atenção que não podê, mesmo que nos mínimos detalhes.- O que exatamente faz aqui?
- E-eu n-não sei?.- choramingou terminando de se aproximar, seus olhos pareciam tão pesados, apesar do postura um tanto dócil, sua voz não refletia isso, ouvir a voz que tanto queria pela primeira vez em tanto tempo carregada pela raiva não a fez tão bem, como era de se imaginar.- Eu precisava te ver, eu senti saudades, f-foi tanto tempo e apesar do pouco tempo que passamos juntas, você foi tão especial pra mim, eu não sei se foi inteligente mas eu s-só precisava, entende?.- desabafou um tanto desesperada, sentiu alguns lágrimas fugindo de seus olhos, e sentiu o olhar que lhe queimava a pele, se acalmar e se tornar preocupado.
- Me desculpe pela grosseira, sim?.- suspirou se levantando e a guiando educadamente para se sentar.- Acalme-se, eu vou te pedir alguma coisa, não chore, por favor.- pediu. Charlottie sorriu limpando as lágrimas, era engraçado, ela lembrava de Anastácia reclamando de quando choravam em sua frente, ela dizia que se sentia desesperada e um tanto culpada por não saber o que fazer.
- Eu estou melhor, obrigada.- sorriu se acomodando na cadeira.
- Isso, ótimo.- sorriu contida.- eles já chegam com o pedido.- afirmou se acomodando também.- você me ligou...- iniciou limpando propositalmente a garganta.- disse que precisava de ajuda, o que aconteceu, você está bem, são seus pais?
- Sim, sim, eles estão bem, eu voltei agora de São Paulo, eu-
- Você estava em São Paulo? Foi para onde te mandaram na época?.- interrompeu incomodada.
- Oh, sim, foi para onde me mandaram na época, eu fui e morei com meus tios paternos, eu tentei contato mas na primeira tentativa me tiraram o telefone e me afastaram de qualquer chance nova, minha vida se resumiu em estudar e ir a igreja, você sabe...
Anastácia riu.- Sim, sei.- sorriu sarcástica.- então, enfim curada?.- alfinetou venenosa.
- Eu não tinha nada pra curar, Anastácia.- respondeu irritada pela brincadeira.- eu não sou doente, eles são, idiotas.- xingou fazendo Ana gargalhar por conta do bico que se formou em seus lábios.
- Desculpe, não pude evitar, precisava saber se a reação continuava a mesma.- sorriu.- E continua, assim como você continua linda como sempre.
- O-obrigada?.- resmungou se sentindo tímida, ainda mais pela presença do garçom com seu pedido.
- Não queria te constranger, me perdoe por isso.- respondeu e logo depois terminou o seu chá.- Então, vamos?.- se colocou de pé.
- Para aonde?.- perguntou confusa.
- Quero te apresentar meu não tão novo lar, até porque essa conversa não pode acontecer aqui, me acompanhe, sim?.- sorriu lhe oferecendo a mão que foi aceita imediatamente acompanhada de um sorriso.- Podemos levar esses bolinhos e come-los em casa.
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Época errada
RomanceAna e Charlottie, um amor belo demais para ser compreendido por todos. "Só não me impeça de sentir a doçura de sua pele."