Tudo parece estranhamente normal hoje como há dias não vem sendo. Os raios de sol passam pelas cortinas exatamente da mesma forma que sempre passou, meu escritório tem um ar calmo, rotineiro e minha mesa está impecavelmente organizada como esteve desde o primeiro dia que recebi as chaves da sala. Entretanto, a grande diferença agora, o que me faz estranhar o ar completamente natural que me ronda, é o fato de eu não estar surtando; o fato deu estar — de uma forma talvez bizarra pela pouca prática nos últimos dias — sorrindo para a tela de meu computador, satisfeita com tudo o que tenho feito desde ontem de manhã como há dias não acontecia.
É um sentimento bom, de trabalho bem feito, de bem-estar espiritual e de todas essas coisas que li em meu horóscopo assim que acordei. Uma sensação revigorante, um sentimento que me faz querer inflar o peito e dizer que eu finalmente consegui. Consegui finalizar com completa satisfação o projeto do novo empreendimento da rede Hilton, consegui finalizar finalmente os benditos desenhos para o Atlantis Resort. E consegui, por fim, voltar a talvez ser a antiga Subin de antes; equilibrada, calma, uma mulher bem resolvida.
Espreguiço-me com vontade antes de tirar os saltos e afundar meus dedos dos pés nos fios macios do tapete, para logo ouvir enfim uma batida leve na porta. Antes que eu consiga responder qualquer coisa, ela se abre e, pela fresta, a cabeça de Jihu se espreme. Seus olhos têm um quê de curiosidade e espanto quando caem sobre mim. E para ser sincera, eu sei exatamente o porquê.
— Isso é sério? — Sua voz invade a até então silenciosa sala e, sem rodeios, ela entra em meu escritório como se estivesse prestes a participar de uma operação da CIA. — Como aconteceu?
Como era de se esperar, o projeto do resort que larguei hoje pela manhã em sua mesa estão em suas mãos, agarrados com uma incredulidade genuína. Há duas noites, quando Taehyung apareceu em minha porta e me disse para ser mais gentil comigo mesma, eu me afundei no plano arquitetônico que tanto me incomodava. Afundei-me de corpo e alma. No início foi um tanto complicado me desprender de todo o pré-conceito que eu havia estabelecido sobre as ideias que haviam surgido, mas com o passar do tempo eu fui percebendo que, de fato, elas não eram de todo ruim.
Eu precisei então do restante da noite e um dia inteiro para concluir o que me deixou angustiada por dias. O restante da noite e um dia inteiro e, então, tudo estava feito.
— Foi como um insight. — Digo, erguendo os ombros. — Eu percebi que as ideias só precisavam ser aprimoradas.
— Em menos de dois dias? — Jihu avança com cautela até as cadeiras em frente à minha mesa e se senta, a expressão clara de que espera por uma explicação mais clara. — Foi por isso que não vi você ontem o dia inteiro?
— Eu pedi outro dia de folga para o diretor, pensei que vir trabalhar pudesse quebrar esse surto de inspiração.
A única resposta que recebo é um olhar tão surpreso como se eu mesma fosse uma assombração sem cabimento. Pigarreio, um tanto desconfortável.
— Mas e então, — começo, apontando para as folhas do projeto agora repousadas sobre a mesa — é possível desenvolvê-lo sem grandes dificuldades?
Jihu pisca os olhos algumas vezes, parecendo voltar para a realidade apenas agora. Sua atenção passa então pelas folhas mais uma vez, dando a impressão de que procura a resposta em algum lugar dos pensamentos.
— É, é. — Responde, um tanto aérea. — Talvez nós tenhamos que mudar uma parede ou outra por causa das vigas de sustentação, mas nada que vá alterar drasticamente a planta.
Abro um sorriso satisfeito.
— É por isso que de todos os engenheiros, eu sempre escolho você para trabalhar comigo.
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Clair de Lune • Taehyung
Romantik[CONCLUÍDA] Todas as escolhas que Tokko Subin tomou em sua vida se tornaram um sucesso, desde sair cedo da casa dos pais até decidir entrar em uma das maiores e melhores empresas de arquitetura e urbanismo do país, a Theodor Bauff. Entretanto, a ún...