O barulho da porta se abrindo me faz pular da cadeira como se, de repente, uma descarga elétrica tivesse acabado de ser descarregada sobre ela. A luz do sol que entra pela enorme janela em minhas costas bate em um dos porta retratos de minha mesa e caem certeiros sobre meus olhos, me fazendo inclinar o corpo para frente para encarar sem mais dificuldades uma Jihu recém-chegada em minha sala.
Eu me sinto uma bagunça completa emocional e, a julgar pelo olhar consternado que estou recebendo, fisicamente também. As coisas, definitivamente, continuam dando errado. É a única coisa que consigo pensar depois dos acontecimentos dessa manhã. Somando com todas as frustrações das semanas anteriores temos agora um motor fundido, um salto quebrado e um pen drive com o assunto da reunião de hoje esquecido sobre minha mesa de jantar.
E ainda são malditas nove horas da manhã.
— Você trouxe? — Ouço-me perguntar impaciente pela demora de Jihu ao dizer algo.
— Sim, trouxe. — Retira rapidamente o pen drive de sua bolsa e me estende, franzindo o cenho ao me ver cair de costas na cadeira segurando o objeto contra o peito. — Seu condomínio está sem luz, a propósito.
— Ahn? — Levo meus olhos até ela, não muito interessada nisso. — Tudo bem, tanto faz, isso não é um problema agora. Muito obrigada mesmo por ter ido lá, eu nem sequer consigo acreditar na minha má sorte hoje.
— Não, tudo bem. — Responde de prontidão, ainda parada no mesmo lugar de antes. — É caminho para mim, não foi nada demais. O que exatamente aconteceu hoje?
Solto um suspiro lento e alto, era de se esperar que essa pergunta seria feita após a ligação desesperada que fiz a ela há meia hora quando percebi que o maldito pen drive não estava na bolsa. Antes de me endireitar na cadeira, passo os dedos pelos cabelos, realinhando-os da forma mais rápida e eficiente que consigo.
— Eu acordei atrasada e a partir daí nada deu certo. — Digo, vendo-a contorcer o rosto em uma careta, os olhos ainda inchados de sono. — Então eu estava vindo pela Samseong-dong quando meu carro simplesmente parou e começou a sair fumaça, eu pensei então que ele iria explodir e sai correndo, no meio da corrida eu quebrei a droga do salto. Quebrei a porra do salto correndo porque pensei que ia morrer e no final era só a porra do motor fundindo porque eu esqueci de colocar água! Água! Eu nem sequer sabia que carro precisava de água!
Ergo meus braços para cima, sentindo pela primeira vez algumas gotas de suor escorrerem por entre meus seios, fazendo-me lembrar subitamente do sol batendo forte na cabeça até a chegada do guincho.
— Eu tenho um sapato reserva na minha sala. — Jihu diz, apontando para trás aleatoriamente. — Posso te emprestar.
— Ah, eu vou querer, sim. — Assinto rapidamente. — Muito obrigada. De novo.
Ela ergue os ombros, sorrindo avidamente antes de me lançar outro daqueles seus olhares questionadores e avaliativos. Em dias normais eu apenas o ignoraria e continuaria fazendo o que preciso fazer, mas eu me sinto tão vulnerável nessas últimas semanas que eu nem sequer consigo mais me comportar da maneira que me comportava antes, me levando assim a abrir a boca sem hesito algum para perguntar:
— O que foi?
Jihu então se remexe no lugar, mudando seu peso de uma perna para a outra por mais alguns segundos antes de me responder.
— Seria uma boa hora para perguntar se você teve algum avanço depois que deixei sua casa ontem?
Um barulho rouco sai imediatamente de minha garganta em frustração, me fazendo mais uma vez jogar o corpo contra a cadeira de couro e proferir alguns xingamentos aleatórios.
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Clair de Lune • Taehyung
Romance[CONCLUÍDA] Todas as escolhas que Tokko Subin tomou em sua vida se tornaram um sucesso, desde sair cedo da casa dos pais até decidir entrar em uma das maiores e melhores empresas de arquitetura e urbanismo do país, a Theodor Bauff. Entretanto, a ún...