I - Abajur De Cogumelo

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Há quase uma semana que escuto meus pais discutir por horas.Eu não tenho com quem dividir essa sensação de dor, sou filha única.

Meu pais sempre esperam que eu durma pra começas as brigas.Mal sabem que eu nunca consegui dormir em todas as vezes que isso aconteceu.

Na última vez que discutiram eu estava deitada na cama fitando os bichinhos que rodeavam meu abajur de cogumelo.Presente de infância da minha tia preferida que faleceu há algum tempo.

Pensei em descer e pedir para que calassem a droga da boca, mas certamente não ocorreria assim.Sem menos eu arrisquei em subir em cima do telhado por puro tédio e incapacidade de dormir.

Com cuidado eu pisei firme pelas brechas da casa e subi no telhado com dificuldade, quando finalmente consegui, me sentei em uma parte segura descansando os braços doloridos.

Respirei fundo me sentindo aliviada, os gritos estavam abafados dentro de casa.

Na rua não havia movimento algum, o bairro era calmo e pequeno.No céu escuro e sem lua ja havia milhares de estrelas.Eu adoro estrelas, adoro tudo que esta longe e não pode ser tocado.

O clima estava meio quente, por isso eu tinha vestido apenas um short minúsculo e uma blusinha de pijama.Meu cabelo estava meio bagunçado, mas eu não me importo com essas coisas.

Meu nome é Sophie.Tenho apenas 16 anos mas sou racionalmente madura como qualquer adulto, coisa que é difícil de acreditar.Não tenho irmãos ou familía que me lembro além da minha falecida tia.Moro numa casa simples mas bonita numa cidade pouco conhecida perto de Luisiana.

Por enquanto estamos no meio do ano e estou de férias.O colégio é composto de pessoas infantis, como eu disse sou claramente amadurecida para minha idade e não consigo suportar quaisquer brincadeira idiota.

Quando voltei meu pensamento aos meus pais que discutia quase abaixo dos meus pés, minha garganta fechou e eu deixei que minha alma chorasse.

Odeio vê-los assim.Eu amo meus pais.Tive uma infância perfeita e feliz.Nunca pensei que quando eu começasse a crescer iria se tornar um pesadelo.

Chorei por alguns minutos e logo senti um cheiro medíocre de cigarro e imediatamente comecei a procurar a fonte com os olhos.

Meu coração começou a bater forte quando avistei em cima da casa do vizinho um fumante vestido de preto.

Eu poderia ter corrido se qualquer passo que eu desse não me levasse ao chão.As casas do bairro são quase completamente coladas uma as outras, a distãncia é de um passo largo no máximo.

Pra aquele homem me sequestrar ou fazer coisa pior não era difícil ja que eu estava a alguns metros dele com as roupas curtas que eu vestia.

Eu cravei meus olhos arregalados naquele corpo que estava sentado no escuro pois a árvore enorme que havia na frente da casa o tampava.Ele me parecia absurdamente assustador.

O fumante soltou uma tragada de cigarro e assoprou na minha direção.

-Não fica com medo.- Ele diz tragando novamente.-Sou apenas um garoto.

-Não vejo diferença de um garoto para um homem.-Bufei me levantando.

-Está com problemas dentro de casa princesa?- Ele diz tragando continuamente.

-Isso não é da sua conta!

Ele riu enquanto observava minhas tentativas de descer.

-Você vai cair garota.

-Me deixe em paz!

Em questão de segundos o meu pé direito se soltou.Eu agora estava pendurada pelos braços e não podia gritar.

O fumante soltou o cigarro de lado e me puxou pra cima em uma velocidade de luz.Logo estavamos deitados tentando recuperar o fôlego que perdemos tentando me salvar.

-Eu disse que ia cair.-Ele diz suavemente.

-Você é um linguarudo!-Falo me sentando.

-É assim que me agradece por não deixar você quebrar seu pescoço de galinha la em baixo?

Eu o encaro com os olhos semicerrados.

-É brincadeira Laura.- Ele diz enquanto se levantava e retirava um cigarro do bolso esquerdo e o acendendo em seguida.

-Como...?

Realmente achei que ele diria que era apenas uma brincadeira mas me iludi.

-Ja ouvi diversas vezes sua mãe procurando por você enquanto você estava se depilando no banheiro.

Meu rosto corou.

-Você anda me espiando, cretino?

-Não é a primeira vez que venho aqui princesa.

-Da pra parar de me chamar assim?!-Me levantei depressa.

-Meu nome é Louis.

-Louis o fumante?-Arqueei uma sombrancelha por não ter despertado meu interesse em saber aquilo.

-Quer um?-Ele diz me oferendo sua caixinha de eight.

-Qual é?Você acaba de me salvar e quer me matar com câncer de pulmão?E ainda com um eight.Nem pra ser um cigarro fino.

Ele ri desesperado.

-Você é fresca.

-Teu rabo.

-E ignorante.

-Não interessa oque eu sou, quero sair daqui agora!-Reclamei cruzando os braços.

-Só se fumar um cigarro.

Medíocre.É isso que homens fazem.Aproveitam da situação.

Eu reivirei os olhos diversas vezes e quando realmente percebi que não ia ter saída.

Eu aceitei.

Peguei o cigarro da mão dele e fumei de uma vez.

-Fumantes iniciantes.Sempre querendo acabar logo com o cigarro.

-Não vou fumar de novo.

Ele sorriu e abaixou a cabeça.

-Eu também dizia isso.

Louis começou a andar calmamente e pulou da minha casa para onde estava.

-Você vem ou não?-Louis diz estendendo a mão.

Olhei pra baixo e depois pra ele.Assenti e peguei em sua mão pulando para a casa ao lado.

-Aonde vamos?-Perguntei.

-Descer.

-Por onde?-Perguntei outra vez.

-Você não sabe parar de falar?

Fiz uma careta e continuei a andar.

Pulamos umas sete casas até descer por uma escada que havia no fundo de uma casa velha.

-Achei que morasse do meu lado.

-Não moro aqui.

Eu ia perguntar onde ele morava mas desisti e perguntei sua idade.

-18.

Engoli a informação e corri até minha casa o deixando pra trás.

Escalei até meu quarto e me deitei rapidamente esperando que meus pais não tenha sentido minha falta.

Adormeci fitando o abajur de cogumelo.

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