DOIS - 502

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Eu estava saindo da ala, sem tirar aquele paciente misterioso da cabeça. As roupas que ele usava não eram uma das melhores, mas cobria toda extremidade do seu corpo mediano. Eu passei por outros pacientes agaiolados, nenhum me interessou como tal.

- Margareth, já escolheu quem será seu paciente? - A moça me perguntou cruzando os braços, anotando coisas aleatoriamente em uma prancheta pousada em seus braços.

Fiquei por um tempo em silêncio, eu ainda não sabia quem escolher. Eram tantos atordoados. Hesitei um pouco em responder sua pergunta porque ainda eu não sabia se era certeza a resposta que eu a daria. Talvez eu possa me arrepender, mas eu vou escolher quem mais me chamou a atenção, quem eu senti que precisava ajudar.

- Vou ficar com o Thomaz. - Responde convicta, uma ótima atriz talvez, porque eu nem sabia o que eu realmente estava fazendo.

Como uma psicóloga eu teria que tentar entender as pessoas, e já que meu pai encontrou esse cargo, é uma ótima oportunidade para meu futuro.

- Perfeito senhorita Margareth, você pode estar começando assim que se sentir pronta. - ela dizia entendendo algo para mim assinar - Esse laudo é para ser totalmente consensual caso aconteça algo com você. - Depois de dizer isso, me causou arrepios por todo meu corpo. O que ela queria dizer com isso? - Suas sala, onde estão suas coisas, é no piso quatorze, sala 17. - Depois de dito se retirou, descendo um túnel e me deixando sozinha.

Eu estava indo em direção ao piso quatorze quando escuto grunhidos vindo atrás de mim, simplesmente ignoro. Até porque todos os pacientes estão trancados e sozinhos em cada sala.
O salão onde eu andava ficou estranhamente em silêncio, dava para ouvir somente os sons do meu tamanco chocando com o chão úmido. Apressei os passos, ainda olhando repetidas vezes sobre o ombro checando que não há ninguém atrás de mim.
Eu não sabia que horas eram mas meu organismo pedia por alimento, eu só estava torcendo para encontrar um cheese burger nessa sala. Assim que me aproximo do lugar onde tanto procuro, olho para os lados. Do lado direito um corredor estreito, escuro, até parece abandonado, porém eu escutava vozes e risadas. Do lado esquerdo, tinha umas luzes falhadas e algumas janelas quebradas, onde passava o vento gelado das montanhas do fim da tarde purificando todo o local. Segui para frente para abrir a porta da minha sala.

O cheiro era horrível e o lugar totalmente desorganizado. Uma bandeja ao lado de alguns livro e relatórios dos pacientes estava farta de frutas e salgados. Um copo de 500ml de suco de laranja estava bem ao lado do meu lanche. Quando me aproximei consegui sentir o cheiro maravilhoso, meu estômago já estava gritando para ser preenchido. Avistei um papel um pouco escuro com uma mensagem do meu pai. Apenas abri um sorriso, mais tarde eu agradeceria.

Noite do dia 27 de Agosto, 1967.

Seria o horário perfeito para interrogar o meu paciente, a noite para mim era um horário ótimo para saber o que passa na cabeça das pessoas, o que elas pensam antes de dormir, e porque fazem o que fazem. Eu estava sentindo um clima estranho por onde andava, escutava risadas e sentia vultos passando por mim. Não sei por quanto tempo ficarei aqui, mas teria que acostumar, pelo meu pai.
Eu seguia carregando minhas coisas no braço para o quarto 502. Paciente Thomaz. O garoto do olhar penetrante.
Eu só queria entender o que se passava naquela cabeça, e entender o porquê meus instintos dizem que o que eu descobrirei não é uma coisa boa. Eu estava sentindo como se algo diferente, ou energia negativa saia daqueles olhos negros de cores indescritíveis.

Parecia que a sala nunca chegava, eu já estava farta de andar e meus sapatos não ajudavam muito com as dores.

- Hey - Uma voz masculina soou atrás de mim, fazendo minhas pernas vacilarem.

Apenas ignorei, não estava nem perto da sala do meu paciente, ainda restava umas trinta sala ou mais para eu chegar. Mas quem será que teve a audácia de me chamar daquela forma? Uma forma tão crua que não me deu chance e nem coragem de olhar para trás. Creio que vou viver com essa curiosidade.
Meus braços já estavam ficando dormentes por carregar os relatórios e necessidades de trabalho.

- Precisa de ajuda? - Uma senhora dentro da sala disse colocando seus braços para fora das grades, com um sorriso amarelado e seus cabelos bagunçados.

- Argh - Eu estava medindo as palavras, não sabia se iria ser inútil ou não a resposta que eu receberia - Estou perto do quarto 502.

- O quarto do rapaz? - Perguntou a mulher.

- Sim, talvez, na verdade... Não sei - balbuciei entre meu nervosismo - Eu o encontro sozinha.

- Tenha cuidado, jovem. Ele pode mexer com você. - Sua voz já estava fora do meu alcance auditivo.

Uma vontade enorme me consumiu em perguntar o que ela queria dizer com aquilo. Não vou dar ouvidos, não deveria.
Deduzi que estava perto, suspirei fundo por alívio ao avistar o enorme quarto vazio com uma placa 502.
Hesito um pouco ao entrar mas eu deveria, é meu trabalho e eu tenho que ir em frente se eu quiser experiência. Abro minha bolsa e mergulho minhas mãos a dentro. Até escutar o barulho das chaves deslizando sobre meus dedos. As levo até a pequena fechadura e logo abro porta de aço pesada e aparentemente enferrujada. E logo meus olhos se encontram com os olhos do Thomaz sentado na beirada da cama me olhando, com as mãos pousadas na calça e as solas de seus pés descansando sobre o chão gelado e úmido do pequeno quarto 502.
Ficamos em silêncio por um bom tempo. Eu não sabia ao certo o que dizer.
Coloquei minhas coisas em uma pequena mesa que encontrei por ali e logo fechei a porta atrás de mim.
Eu sentia seu olhar sobre mim a cada passo que eu dava, era como se ele estivesse olhando através de mim, algo que não me deixava nada confortável. Me aproximei do rapaz e me sentei na cama que tinha em sua frente, tentei me manter totalmente segura do que estava fazendo, mas talvez não seja isso que aparentava ser.

 Me aproximei do rapaz e me sentei na cama que tinha em sua frente, tentei me manter totalmente segura do que estava fazendo, mas talvez não seja isso que aparentava ser

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