Eu só me lembro do ódio que estava me consumindo, não podia acreditar que tal ser humano diria uma coisa tão ofensiva quando alguém oferece ajuda.
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Manhã, 28 de Agosto 1967
Acordo com mais uma bandeja de lanche ao meu lado, percebo que me esqueci completamente de agradecer meu pai. Preparo meu corpo para conseguir superar mais um dia esse lugar que está me enlouquecendo em pouco tempo, faço minhas necessidades e coloco uma roupa normal, uma roupa sem ética, uma roupa que eu me sentisse alguém.
Abro a porta e percebo que fui a última a acordar, sinto olhares sobre mim, ruídos e batidas por onde passo. Algumas das enfermeiras passando com remédios e seringas enormes.
- Bom dia, garota. - Um senhor me chamou atenção, ele parecia bem, sentado em sua beliche com uma comida depravavel em seu colo.
- Bom dia, precisa de algo? - Talvez eu tenha sido estúpida ao perguntar isso, mas se ele precisasse? Ele me parecia tão bem e ao mesmo tempo tão desnecessário de estar em um lugar como este.
- Só estava te testando, muitos apenas passam e ignoram a minha presença.
Não sabia o que responderia com esse tipo de resposta, apenas assenti e tentei dar o meu sorriso mais verdadeiro. Continuei andando até a sala do meu pai. Odiava o fato de ser tão longe as salas umas das outras, são tantos corredores que eu com certeza ficaria perdida mais de cem vezes. Se já não estou - me questionei olhando para os lados. Segui meus extintos virando para a direita e seguindo reto o enorme corredor, que não me cheirava bem. Comecei a achar familiar o locar e arfei por achar que estou no caminho certo. E realmente eu estava.
- Olha quem resolveu aparecer, Margot - A voz do meu pai me deu um alívio, eu realmente precisava de um mapa para me locomover por ali.
- Me senti mal por não agradecer a comida que me deixou- O abracei, me senti confortável - Obrigado.
- Não precisa agradecer, estará lá toda vez que chegar exausta. - Disse abrindo um sorriso de orgulho.
Ele provavelmente sabia o paciente que eu estava trabalhando, eu já estava me preparando para suas perguntas. Eu não iria dizer toda a verdade, mas também nem tudo será mentira. Dependendo de seus questionamentos. Talvez eu esteja um pouco nervosa sobre o Thomaz, eu queria saber o motivo dele estar ali, mas não acho que meu pai seria a pessoa correta para eu perguntar isso.
- Então, como foi seu primeiro dia - começou meu pai.
- Bom. - travei um pouco, mordendo os lábios - Na verdade, excelente. Adorei. - Menti, não mereço nenhum prêmio por isso, sou péssima.
- Não me falam isso sobre seu paciente. Só ouço barbaridades dos terapeutas. - Meu pai dizia mastigando o amendoim agora com uma feição ainda mais seria, ele sabia que eu estava mentindo.
- Ah - suspirei - Por que? - Não era a pergunta certa, mas eu realmente queria saber porque. Talvez eu entenda porque tanta impaciência e arrogância ele transmitia. A negatividade flutuava sobre nós.
- Dizem que ele tem pensamentos psicopata e sociopata. Não tem família, e que ele planeja algo muito grande em sua cabeça perturbada.
Analisei cada palavra que meu pai dizia, eu precisava de algo para anotar o que ele estava me dizendo. Talvez seja mentira, talvez não.
- Pode me emprestar uma caneta e um pedaço de papel? - Pedi interrompendo meu pai, o fazendo me olhar com desdém.
Se levantou, pegou o que pedi e me entregou, anotei o pequeno papel com as palavras, agora, mas que nunca, desejo que fique de noite logo. A ansiedade me faz olhar o enorme relógio que tem pregado na sala do meu pai. Os ponteiros anotam exatamente 07:43 da manhã. Guardando o papel no bolso me retiro dá sala e vou andando em direção a qualquer lugar, me fazendo sentir olhares.
Não sabia exatamente qual era daquele lugar, mas não me transmitia paz, transmitia algo ruim, uma energia diferente. Qualquer garota da minha idade detestaria estagiar em um lugar como esse.
Eu já estava perdendo as contas de quantos corredores entrei, voltei a pensar no mapa, eu precisaria. Olho para os lados e olho os número das salas. 497, 498... Estava estranho, eu tinha a quase certeza que não vim por essa direção. 500, 501, senti meus nervos, cada calafrio, o vento gelado da janela. 502.
- Olha quem voltou - Novamente a voz do Thomaz vindo aos meus ouvidos.
Me viro, tentando disfarçar enquanto minhas pernas tremem e meus punhos se fecham de raiva.
- Caminho errado. Te vejo mais tarde. - Senti seus olhos me analisando, percebendo que não estava com a mesma roupa que eu estava na noite anterior. Descente.
- Eu adoraria, doutora. - O jeito do seu sarcasmo me irritava ainda mais.
Tentei manter minha sanidade, não iria discutir com um... Louco. Não deveria perder meu tempo. Acelerava meus passos, até chegar no corredor certo.
Parecia que de manhã, passar por ali, era mais tranquilo, e ao mesmo tempo tão vazio que incomodava. Eram muitos olhos me enxergando nitidamente me deixando agoniada. Eu amassava o papel com força em minha mãos para não perdê-lo. Procuro as chaves do quarto em meus bolsos e abro a porta e entro. Olho para os lados e procuro minha pequena prancheta de anotações. Quando avisto, fecho a porta atrás de mim e vou em direção às anotações. Anoto cada detalhe das palavras do meu pai.
Me sento na cama, e fico com os olhos fixados no reflexo do sol pela janela. Me sinto entediada, talvez eu não devesse fazer amizades, não é o meu forte. Fico ali por um tempo até que escuto passos de pessoas correndo pelo corredor, eu fico desentendida do que está havendo. Uma ligação soa ao me lado no telefone de linha. Aproximo aos meus ouvidos.
- Alô? - Pergunto simplesmente esperando uma resposta do outro lado.
- Olá, doutora.
Seu tom soava ironia, e desprezo. Não sabia no que dizer apenas desligo o telefone. Como uma pessoa diagnósticada louca faria uma coisa dessa? Perseguição? Comecei a lembrar das palavras do meu pai a um tempo atrás e senti meus cabelos arrepiarem e meus nervos se contraírem.
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