— Eu disse que estou com fome.
Eu não estava entendendo nada e uma sensação estranha me preenchia.
A voz vinha do fundo do corredor, onde tinha uma pequena janela.
— Você está bem?
— Sim, acho que sim.
— Agora me traga comida.
— Eu não sou empregada de ninguém.
— É feio desrespeitar as regras menina, ninguém te convidou para descer até aqui?
— Não.
— Então como chegou?
— Eu queria ir ao banheiro.
A pessoa ainda continuava longe, eu só via uma silhueta e parecia masculina atrás de uns postes.
— Por que você não vai lá em cima buscar comida ao invés de ficar aí parado esperando por uma empregada? Tá tendo uma festa enorme.
— Festa?
— Sim, o novo herdeiro chegou em Outrora! Fiquei sabendo que ele veio da Varn, bem longe.
E um silêncio se estabeleceu no local.
Eu ainda não tinha visto o homem, mas por sua sombra percebi que o mesmo tinha acabado de sentar. Ele parecia alto e forte, tinha uma voz calma e não parecia irritado por eu estar ali.
— Por que você não vai lá?
— Você é cega? Não vê que estou preso?
Notando bem, percebi que ele tinha correntes nos pés e estava atrás de grades e não postes.
— Por quê?
— Você faz perguntas demais.
— Desculpa.
Quando eu ia me despedir, ouvi barulhos vindos da escada e eu senti minha garganta fechar e a minha vida passar toda pela minha cabeça.
— Olha me escuta.
Quando ele disse, eu nem pensei duas vezes e fui até onde ele estava.
Seu rosto era completamente diferente do que eu imaginava, seus cabelos eram castanhos e seu rosto pálido.
— Vá pela direita e corra até chegar a uma porta grande vermelha, entre nessa porta e você sairá no jardim do castelo. Rápido.
Eu corri como nunca na minha vida, eu senti o desespero e o medo tomarem conta de mim. O que aconteceria se me vissem aqui com um prisioneiro?
Quando eu cheguei ao jardim tive que entrar novamente pela porta principal, mas acho que nenhum dos guardas estranharam.
— Onde você foi que demorou tanto?
— Ao banheiro.
— 30 minutos para ir ao banheiro?
— Me perdi no caminho.
— Acho bom que você não esteja mentindo.
Ele estava estranho, mais sério e irritado do que nunca e isso me magoava demais.
E durante o resto da noite eu fiquei pensando naquele menino, quem será ele? Por que está preso?
Então eu resolvi que no dia seguinte eu iria na biblioteca e procuraria um livro sobre o assunto, logo em seguida iria visita-lo pela porta vermelha que saí da última vez.
E foi o que fiz, passei a manhã inteira procurando por um livro que condissesse com o tal assunto e encontrei um chamado "Cartas para Outrora". O livro contava a história de diversos homens, ex-soldados, rebeldes e etc que ficaram presos no andar de baixo do castelo.
❝Por aqui é muito frio.
Perdoe-me queria mãe.
Eu só queria levar comida para nosso lar.
Eu não sabia que um soldado apanharia-me a roubar comida da cozinha real.
Espero que a senhora fique bem.
Eu ei de voltar para casa mãe!
Benção do seu filho, Kun.❞
Ler isso me deixou com um certo frio no estômago. Como alguém teria a crueldade de prender um faminto?
— O que está fazendo?
— Lendo.
— Ler é bom, querida.
— Sim.
— É sobre o que esse livro?
— Não lhe interessa, com licença.
Eu não tinha paciência nenhuma para a esposa do meu irmão, embora ela fosse gentil as vezes.
Eu passei pela feira e comprei pães pra entregar para aquele pobre faminto.
Eu já passei por isso, já fiquei dias sem comer e sei quanto é péssimo.
Chegando no castelo,
me surgiu novamente aquele frio na barriga...será que alguém vai conseguir me ver?
Eu entrei e andei da forma mais lenta e silenciosa possível, mas umas vozes estavam soando então resolvi me esconder atrás de uma parede.
— Vá embora, já!
— Você pensa que manda, Jaehyun.
— Me trate com respeito.
— Respeito? Ninguém se importa com você, você não merece o respeito nem de um plebeu.
Então ele se chama Jaehyun.
Eu esperei a pessoa ir embora para sair de lá e encontrar com ele.
— Você de novo? Sabe que vai acabar encrencada, não sabe?
— Vim lhe trazer comida.
— Para que?
— Fiquei sabendo que você foi preso por roubar comida.
— Eu?
— Sim, era isso que dizia no livro.
— Que livro?
— O que eu peguei sobre relatos de homens que já estiveram presos aqui.
— Quer saber? Você tem razão! Fui preso porque roubei comida, agora me de um pouco do que você tem aí.
— Então quer dizer que você se chama Jaehyun?
Ele me olhou estranho, como se quisesse ver por dentro de mim. Aquele olhar me queimava e eu podia sentir o espanto dele ao ver que eu sabia seu nome.
— Ouvi a senhora que estava aqui dizer.
Ele se aproximou das grades e me encarou no fundo dos olhos.
— Você não irá contar para ninguém que veio aqui, ouviu?
— Mas você precisa ser solto, isso foi uma injustiça! Se o rei desse comida para todos, a sua família não teria passado por isso.
— Eu não quero que ninguém saiba disso.
— Por quê?
— Você é muito curiosa menina.
Ele disse isso e se sentou para comer um pouco do que eu tinha levado.
Agora eu estava um pouco assustada mas não iria desistir de tirá-lo de lá, mesmo que ele não quisesse.
— Você se chama?
— Lana.
— Você tem duas formas de morrer, Lana.
— C-Como assim?
— Você verá no futuro.
Aquelas palavras me perturbaram ao longo do dia e tiraram meu sono à noite.
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Cartas Para Outrora {jaehyun-nct}
عاطفيةLana é uma menina comum, que morava em um pequeno vilarejo pertencente ao reino de Jiveon...Mas tudo muda quando seu irmão mais velho, Yuta, se casa com uma burguesa e eles se mudam para Outrora. Lá, ela se encontra perdida em meio à saudade de sua...