Capítulo - 03

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CAPÍTULO – 03

Eu sinto que nós estamos
perto o bastante,
Eu quero me trancar no seu amor
Agora que eu tenho você
no meu espaço, eu não
Vou deixar você ir

Disclosure - Latch feat. Sam Smith


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— A gente já tá chegando. — Sam sussurra pra mim, sorrindo e me confortando, até um tonto perceberia que eu estava muito nervosa, tipo muito mesmo.

Durante todo o percurso, tanto Sam quando David — o vocalista que finalmente tive a vergonha na cara de pesquisar secretamente em meu celular seu nome — vem me incluindo em assuntos fúteis apenas para meu conforto, fiquei aliviada. David perguntava sobre mim, e Sam sobre como eu tinha passado esses dias mas só fui relaxar no banco quando Sam encostou a pernas na minha.

A tranquilidade que ele me passava de fato era impressionante, e eu estava amando isso. Eu tentava controlar minhas emoções, mas como? Respirar e expirar não estava funcionando, contar até dez também não e falar para eu me acalmar mentalmente menos ainda.

Eu estava tão feliz, isso não podia ser de fato verdade, não sei se tinha mais medo de ser um sonho ou de ser uma realidade completamente fracassada. Por isso eu balançava a perna freneticamente.

Eu já estava ficando doida com todos esses sentimentos misturados, de medo e felicidade. E se o tapa que o universo meu deu sobre Evan pra entender que a vida não era só flores não tivesse sido suficiente e Sam fosse só mais um? No final disso Francine vai estar certa.

Eu olhava a janela pro lado contrário em que Sam estava, a cabeça encostada no acento, me sentia fracassada, e uma completa demente como Suzanna diria.

Sinto uma mão se apoiando na coxa da perna que eu estava balançando me incentivando a parar. Viro o rosto e ele sorri, apertando minha coxa levemente o que me atiça pra caramba e ele percebe, porque seu sorriso doce fica sério me olhando nos olhos, eu não era fã disso, eu não conseguia ler seu olhar de jeito algum, era apenas neutro, não sei se ele ficou preocupado por eu estar supostamente me apegando ou se meu suspiro também tinha feito ele se acender.

Quando contei as garotas que não havíamos transado aquela noite, Fran duvidou fortemente e eu entendia o por quê, por mim isso não teria ficado assim porém mesmo bêbada eu sabia o porquê ele não queria e eu desejei ter bebido um pouco menos aquela noite.

Ele acaricia minha coxa e volta a olhar para a janela, assim como eu ele deveria provavelmente estar pensando no que dizer quando ficássemos sozinhos. Como falar a um estranho que você sentiu algo muito forte por ele quando passou um pouco mais de meia hora com ele estando bêbada e após o bem recente término do namoro? Eu era uma completa idiota.

Enquanto eu me perdia em meus sentimentos o tempo passou depressa e quando tomei conta disso David tinha saído com o carro e Sam girava a chave no fecho da porta.

Quando entramos Sam fez algo que eu estava implorando aos céus para que ele não o fizesse — bem contrário do que eu desejava, um beijo que dissesse tudo por mim — ele ficou me encarando, a poucos passos de distância de mim enquanto a única coisa que eu conseguia fazer era encarar minhas sapatilhas bege com um lacinho na ponta. Senti minhas bochechas queimarem e desejei a morte por não ter planejado nada pra dizer durante esse longo percurso até aqui.

Uma pena ser tarde demais para pular da janela.

Finalmente o olhei, os olhos dourados ansiava por qualquer palavra dita por mim, ele apresentou mais nervosismo do que eu. — Hãn...

E foi só isso que eu consegui dizer antes de entrar por outro longo processo de xingamentos internos. Ele se manifestou me chamando pra sentar no sofá, ele não sentou ao meu lado mas sim na minha frente e se inclinou com os braços sobre os joelhos como fez na primeira noite em que nos falamos. Minha curiosidade foi maior que minha insegurança por um instante. — Você realmente ficou mais tempo na cidade, por mim?

— Sim. Acho que só fiquei por ter certeza de que não iria te ver outra vez. Parece que tenho mais sorte do que aparento ter. — Ele sorriu quando terminou, deve ter notado meu sorriso murchar quando terminou a primeira frase.

Me inclinei do mesmo jeito que ele ficando com o rosto um pouco mais próximo do dele.

— Sam. — o encarei  e meu corpo não ficou muito feliz com esse ato, estremecer e arrepiar não era tão bom quando se estava um tanto amedrontada — Eu realmente não sei como te dizer... Seria mais fácil se você fosse adivinho, com certeza. — ri numa tentativa de amenizar a tensão do momento.

Ele dá seu sorriso gentil que eu estava tão apaixonada. — Não tinha te contado esse meu dom antes? — enquanto minha expressão sumia o sorriso dele aumentava deixando suas covinhas mais fundas. Seu hálito de menta bateu em meu rosto me mostrando o quanto estávamos pertos.

— Eu venho pensando em você Amanda, acredito que em nenhum momento desde o show você tenha me deixado pensar em outra coisa. — não senti surpresa como deveria, talvez porque nada daquilo parecia ser real, eu apenas ouvia atentamente e sentia os arrepios em meus braços e as contrações em meu estômago — Em uma semana eu tenho letras de músicas suficientes para lançar outro álbum, e todos sobre uma versão sua que eu pude ler no pouco tempo que fiquei com você. E você não tem noção do quanto eu queria te ver de novo. — ele fechou os olhos por um instante, estava tão surpresa que nem quando notei um ar de pesar em seus olhos quando se abriram novamente me preenchendo consegui ficar preocupada. — Mas você tem que saber que eu sou um grande covarde. —  se levantou e caminhou até a janela olhando vagamente através dela.

Eu fiquei imóvel.

— Por quê você diz que é um covarde?

Suspirou pesadamente. — Porque deixo que coisas do passado me atrapalhem no presente, e eu só... Não posso evitar.

Eu o queria, queria muito, nesse momento queria entendê-lo, por que havia percebido que ele fazia parte de mim agora, e não suportava pensar em partir sem antes fazer isso, apenas entender sua mente. Só desejei que ele me desse uma chance de nos conhecermos melhor, eu sei que não iria conseguir compreender em apenas uma conversa, ela me pareceu tão complexa e eu só desejo ter tempo para desvenda-la delicadamente.

Me levanto do sofá e ando até ele, me encosto no parapeito da janela e deixo ele ler meu olhar pedindo que me dissesse mais, eu adorava a forma que ele me entendia só por ser sincera com meus olhos. — Eu não sou homem pra você Amanda.

— E que tipo de homem você acha que é pra mim?

— Não sei, alguém sem problemas. — Deu de ombros tentando parecer que não se importava e virou o rosto evitando que olhasse em meus olhos. Tomo finalmente uma posição e entrelaço minha mão na dele chamando sua atenção pra mim que se surpreende.

— Eu só preciso saber se você me quer da forma que eu te quero. — Ele revida, com a outra mão puxo seu rosto para o meu, ele não iria me evitar logo agora, eu ultrapassei meus próprios limites e pedi devidamente a Afrodite, eu quase nunca recorria aos deuses e isso tinha muito que dar certo.

— Eu quero, mas...

— Sem mas. Quanto aos seus problemas me dê eles, e eu te entregarei os meus. A gente tem a fórmula precisa pra resolver ambos. — Eu adorei notar seus olhos brilharem e o sorriso consequentemente brotar radiante, mas confesso que adorei mais ainda perceber que eu era mais alta que ele, e que isso só o deixava mais fofo.

— Eu quero te beijar, mas não quero ter que parar de encarar seus olhos. — me fez sorrir, como só ele fazia. — Amanda, você pode ficar mais um pouco?

— Antes eu preciso de verdade ir ao hospital.

— Ao hospital? — me diverti ao ver a preocupação se aflorar em sua feição quando se tratava apenas de uma coisa boba.

— É a única forma que eu vejo de conseguir passe livre para fazer a prova da faculdade que eu perdi hoje. — a forma que sua expressão se suaviza me faz rir abertamente.

— Nem em pró do amor ela deixaria?

— Nem mesmo se eu apresentasse o fato de estarmos em véspera do dia dos namorados. — rimos como bobos sob efeito da paixão fazendo jus ao que realmente éramos antes dele chegar perto e me beijar.


• ────── ✾ ────── •


— Eu queria muito que você estivesse aqui. — Digo fazendo beicinho para Sam pela chamada de vídeo enquanto puxava com os pés a coberta para cobrir minhas pernas frientas.

— Eu também queria Amanda. Amanhã vou estar livre e prometo que a gente passa um tempo juntos. Como foi sua prova?

— Gabaritei. — ele joga um olhar surpreso e sorri satisfeito, me senti orgulhosa por saber as resposta de todas as perguntas, afinal foi uma semana de estudos intensivos. Ficamos nos encarando pela imagem ruim da câmera apenas com o costumeiro sorriso sincero nos lábios enquanto pensávamos o quanto a gente queria estar perto um do outro. — Sabe — começo pra termos algo sobre o que falar — Eu estava pensando seriamente que você poderia me mostrar umas das suas músicas sobre mim.

— Ah de jeito nenhum! Eu tenho que ajustar muitas coisas ainda, não estão prontas para serem ouvidas.

— Tô achando que é tudo vergonha de mim. — ele ri e pelos deuses! Eu amava aquela gargalhada contida.

— O que você vai fazer hoje?

— Não sei, Anna foi ler em uma praça qualquer, acho que beber vinho e assistir alguma coisa na TV. — Dou de ombros.

Ouço alguém gritar Sam no fundo enquanto vejo ele dirigir o olhar para frente além do que eu podia ver. — Preciso ir, queria falar isso mais tarde, mas aposto que quando puder ligar de novo vai passar da meia-noite, então feliz dias dos namorados.

— Pra você também Sam, agora vai lá e arrasa com a guitarra nesse show.

— Como eu sempre faço. — Rio da sua fala convencida antes de nós despedir e desligar a vídeo chamada.

Deixo o celular no acento ao meu lado no sofá, pego o controle e ligo a TV logo colocando na Netflix.

Francine estava errada, e eu aliviada.

Olho vagamente os filmes em destaque na tela a minha frente. Eu estava tão feliz. A verdade é que minha mente ainda martelava sobre como eu havia me comportando de forma imprudente. Me vem à mente Francine dizendo que só se aprende levando na cara e teoricamente ela está certa.

O próprio Sam concorda, mas pra tudo existe uma exceção e eu sou a prova viva disso. Prometo a mim mesma seriamente e sem rir que vou pensar antes de sair tomando atitudes idiotas.

Mas não me arrependo de Sam, não, ele foi o erro mais certo da minha vida.

Tenho certeza de que se eu e ele não acontecer, ainda sim seremos grandes amigos de bares, por mais que eu deteste cerveja. Se apaixonar — algumas vezes mais do que outras — é lindo, por mais que seja por um babaca imbecil, por que a gente amadurece depois de ver o quanto na maioria da vezes fomos irracionais.

E eu adoro ver o quanto eu cresci.

Não estava em meus planos passar o dia dos namorados sozinha, mas como se eu tivesse sete anos, não me incomodo. É só uma data valorizada pelos comerciantes, eu posso me apaixonar, consequentemente amar e ter um jantar romântico a qualquer época do ano que o valor dele não vai ser diminuído por ser cinco de Janeiro ou trinta e um de Agosto.

Resolvo por fim começar a temporada que havia sido lançada de Gray's Anatomy que eu havia negligenciado por um bom tempo.

Eu estava satisfeita com essa noite, com tudo, claro, menos com a pizza que estava demorando a beça pra chegar. Coloco um pouco de vinho em um copo americano, porque eu detestava o formato da taça. Brindei sozinha e brincalhona a mim, a esse dia.

E a todas as pessoa que amadurecem com seus erros e acertos.

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