Deixo de acompanhar por um instante a narração maravilhosa de Tillie Cole para observar o quanto a praça estava linda essa noite.
Eu amo ficar sozinha, não por ser solitária ou por não ter amigos, acho que é porquê sou um tanto sem graça mesmo. Foi isso que Francine me disse quando falei que vim a praça ler.
E fiquei um tanto aliviada em saber que escolhi uma praça longe do bairro que a festa que ela estava indo ia acontecer, sem dúvidas ela iria me obrigar a entrar em um carro desconhecido por mim quando eu só esperava paz desse dia.
Essa é a praça mais perto do meu apartamento e não me arrependo de ter a escolhido. Alguns casais e famílias com filhos aproveitavam a companhia um do outro, e pela primeira vez não vi os comerciantes como uma praga. O vendedor de balões em formato de coração rosa e vermelho por exemplo dava um ar a praça de jus a data comemorativa. Tenho que me lembrar de comprar um para entregar a Amanda.
Iluminada no tanto certo sem deixar de destacar as estrelas do céu.
Como minha irmã mais velha sempre menciona eu não sou do tipo namoradeira, o que me torna a ovelha negra da família que assim como Amanda, não mede esforço pra viver uma loucura romântica, inclusive estou feliz por ela e por... hãn... o guitarrista.
Meus dois pais — fui criada por dois homens maravilhosos — tem seu próprio negócios com decoração de eventos, a preferida deles é casamento, com certeza. E minha irmã trabalha como conselheira amorosa, e eu só não consigo ver toda a magia disso tudo.
Eu adoro o amor, de verdade, mas só nas novelas e nos romances.
Eu acho que sou uma grande hipócrita, porque definitivamente não cheguei a amar um parceiro na vida, e não tenho pressa, está bom da forma que está e eu odeio o imprevisível que me tira da zona de conforto.
Em todos os dias dos namorados eu sempre estive bem, sem nenhum garoto ou garota perturbando minha mente, mas esse era estranhamente diferente.
Tenho medo de atrair coisas ou pessoas com meus pensamentos — Amanda mencionou que segundos antes de Evan aparecer ela havia pensado nele, e foi assim quando reencontrou o guitarrista — e por isso evito fortemente pensar nele.
Eu sempre neguei a mim mesma, mas toda vez que ele está por perto eu me sinto — não sei se é a palavra certa pra se usar — intimidada, como se precisasse parecer melhor para a tal pessoa. E outra coisa que eu odeio certamente é esse sentimento de tentar pateticamente parecer mais interessante por uma exata pessoa.
Willy me irrita, muito.
Não que ele faça de propósito, verdadeiramente não parece que o faz. Então por que nos colidimos assim sempre? Em todos os lugares que eu vou ele aparece trombando sem querer em mim.
E eu só precisava ir embora. Eu sempre me questiono do por que preciso continuar uma discussão idiota ao invés de ignorar e sair do local como eu costumava fazer.
William me irrita, mas me atrai na mesma intensidade.
Volto a ler numa tentativa de dissipar todos esse aglomerado de confusão mais que costumeiro no mesmo instante que um senhor se senta um pouco distante de mim.
Releio várias vezes o mesmo trecho do livro tentando pegar o que aquelas palavras queriam me passar, por mais que eu tento os bloquear a insegurança, juntamente com a ansiedade e lembranças da noite da festa embaçam minha mente.
— Até quando vai ficar me ignorando?
Subitamente me assusto, só não mais porque depois de algumas semanas enjoada daquela voz eu não seria capaz de esquecê-la.
— Por Deus Willy, eu achei que você fosse um velho. — exclamo com uma mão sobre o coração palpitante, ele ri e isso milagrosamente me acalma. Ainda esbanjando a graça da sua risada ele se levanta e fica na minha frente.
— Sabe o que eu acho de encontrar Anna lendo em uma praça de um nível pacato extremo? — ele ergue as sobrancelhas sugestivo com o seu sorriso convencido e sapeca, seus lábios como sempre rachados, os cabelos bagunçados e uma forma cética porém desleixada de se vestir sendo o Willy que todos conhecemos, eu me lembrava do Gordo de “Quem é você, Alasca?” porque ele era magro da mesma forma descrita. Rio por vê-lo aqui e como uma das poucas vezes senti vontade de ter sua companhia.
— O quê?
— Estranhamente estranho. Mas esperado, e eu te respeit e você não parece menos interessante pra mim. E por Deus não ache que eu só estou interessado na sua bunda!
Gargalho, e sinto vontade de abraça-lo, mas não o faço.
— E o que você faz por aqui?
— Mera coincidência Anna, não se ache muito. — começa a andar devagar para a direção contrária.
— Uhum, você mandou mensagem para a Amanda me procurando.
Ele se move como o James Bond quando se vira e saca a arma nas aberturas de 007. — Exatamente.
— Conhecendo você como só eu conheço era de se esperar. — contenho meu riso e ele se senta no banco agora ao lado oposto.
— Tem certeza que veio a praça vestida desse jeito apenas para ler? Você está tão bela que eu pude jurar que um homem de sorte iria te levar para um jantar no restaurante mais caro da cidade. — diz exagerado como ele é.
Olho para as minhas roupas, elas não me pareceram exageradas para um passeio simples, mas agora olhando melhor, tenho que concordar.
Na verdade essa roupa é de uma fantasia de cupido que minha irmã usou em uma das festas da faculdade, eu só ignorei as asas com glitter dourado nas pontas — que de longe ainda parecia legal — e a varinha do amor, melhor do que um arco e flecha, vai.
A saia era de cetim, branca e colada ao corpo um pouco acima do joelho — um inferno para vestir, confesso — e a blusa ficava por dentro da saia, tinha alguns efeitos dourados e mangas modernas e interessantes.
— Eu apenas gosto de me arrumar as vezes, por mim mesma, sabe? — coloco meus cabelos que durou um bom tempo com o bob liss todo para um lado.
— Não. — sorrio negando comigo mesma. Claro que não sabia, olho para os meus saltos de camurça vermelhos achando desconfortável, era óbvio que sentimos algo um por outro, mais óbvio ainda que nenhum dos dois vai dar um passo a mais e que não vai passar de sentimentos incompreendidos negligenciados até a inexistência. — Ei, vem dar uma volta comigo na praia.
Subo o olhar para seu rosto, e minhas bochechas queimam ao notar a intensidade em seu olhar quando fez o convite, a mesma que eu havia amado saber que existia naquela noite enquanto deleitávamos um do outro e nos encarávamos sem nem mesmo piscar. Ele estendeu a mão e eu a segurei.
Abracei o livro com um braço e com o outro segurei o braço de Willy, meu novo companheiro para aquela noite tão maravilhosa.
— Você pode por favor ensacar essa camisa social? Me dá agonia, de verdade.
— Quem sabe. Ah, como a praia está um tanto longe não importo de carregar seus saltos, fiquei familiarizado com chulé depois que dividi o quanto com meu tio.
— Seu nariz, imbecil. Uma dúvida, não está fazendo isso pra transarmos de novo né? — ergo as sobrancelhas sugestiva mesmo que ele não esteja me olhando agora, sabia que eu iria criar expectativas e deixar as coisas claras naquele momento era o melhor.
— Me conhecendo como só você conhece sabe que não.
Desenvolvemos mais assuntos fúteis, sem forçar durante todo caminho, deixei que esse momento nos despir de todo o desconforto que era ficar frente à frente um do outro.
Sou feliz por Willy ter dado um passo. Bem, o segundo e o terceiro, basicamente foi ele que deu também mas não importa muito, né?
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O Amor (Não) Mente | ✓
Short Story🏆 Primeiro Lugar em Conto no Concurso Capuz Vermelho 🏆 Segundo Lugar em Conto no Concurso Million Dreams Sem desconfiar de nada Amanda fica cara a cara com o fim de um relacionamento no qual lutou anos para construir, e bem no show da sua banda pr...