O MEDO DO ESCURO
São onze e meia. Me viro de um lado para o outro na cama.
Do lado de fora da janela, os grilos exercem o seu direito de me azucrinar. Do lado de dentro, o escuro aperta a minha garganta, silenciando até mesmo a minha respiração.No quarto escuro, eu penso que vejo coisas que não existem. Há aranhas negras escalando as paredes. Me encolho na cama, rezando para que elas não me alcancem. Embora não existam, sei que elas estão lá. Subindo umas nas outras, e se espremendo nas paredes e por todo o chão. O mar de aranhas negras existe, embora eu não as possa ver.
No escuro há mais que aranhas. Eu sei que há. Sinto os olhos me vigiando. Sinto a presença maligna. Algumas vezes penso que está dentro do armário mal fechado, em outras está debaixo da cama, aguardando que, em um descuido, eu deixe o meu pé ao alcance das suas garras .
As horas passam, e eu me encolho cada vez mais sobre a cama.
O cobertor me protegerá do mal, enquanto eu souber usá-lo. Nem um dedo para fora. Nem um fio de cabelo. O dia chegará em breve, e eu irei sobreviver.Estou pronto para a escola. Minha mãe escova os meus cabelos para que fiquem bonitos. Eu não sei o que significa "cabelos bonitos". Nunca pude enxergar os meus cabelos. Na verdade, nunca pude enxergar nada.
Agradeço a chegada da minha mãe todos os dias, pois ela é a minha garantia de que não existem aranhas no chão ou monstros escondidos, embora eu sempre ache que estarão ali.A única coisa que vejo é o medo do escuro nos meus olhos, onde a qualquer hora é sempre noite.