O consultório estava vazio, apenas Ana e Marcine estavam lá. A médica apoiava na bancada da recepção, enquanto conversava com a loira que a ajudava.
O barulho do elevador anunciou a chegada de alguém ao andar, e por mais que Ana amasse seus pacientes, ela torcia para que não fosse nenhum deles. Tudo que ela queria era ir embora e descansar.
Os passos foram se aproximando e alguém entrou no consultório.
- Isco? – Ana perguntou ao ver o rapaz. – O Isco Jr está bem?
- Oi doutora. – ele sorriu. – Sim, está ótimo. Eu na verdade vim deixar este envelope com você. – um envelope pequeno e branco foi entregue nas mãos de Ana. – Creio que você saiba o conteúdo dele. – piscou. – Preciso ir, estou atrasado para o treino. Bom te ver.Ana não conseguia pronunciar uma palavra se quer quando viu que ele realmente havia levado ingressos para ela assistir o próximo jogo do Real Madrid.
Já estava em casa quando decidiu abrir o envelope. Ligou na mesma hora para Layla.
- Diga. – Lay atendeu a ligação.
- Ele foi lá hoje. – Ana suspirou. – E levou três ingressos.
- E quando é o jogo? – a amiga perguntou animada, pois sabia que pelo menos um dos ingressos seria dela.
- Dia 25. – Ana engoliu seco.
- E nós vamos, não é? – Layla fez uma pergunta que Ana julgou ser retórica.
- Vou ver se dá. – a médica fez uma cara de confusão.
- Nós vamos, Ana. E você não vai me dizer não! – A ameaça de Layla foi real.
A campainha de Ana tocava ao fundo.
- Preciso atender. – a garota disse, enquanto mandava um beijo para amiga e encerrava a ligação.
Caminhou até a porta e quando abriu viu um dos funcionário da FedEx, segurando uma caixa média.
- Mas eu não comprei nada recentemente. – ela disse para o funcionário.
- Estava endereçado para outro local, mas ao chegar lá, uma mulher chamada Marcine indicou que nesse endereço eu poderia encontrar a senhora. – o rapaz disse rapidamente.
- Sabe o que é? – obviamente ele não saberia, mas Ana achou que não custava perguntar.
O rapaz negou com a cabeça.
- Ok, querido. – ela sorriu e pegou a caixa. – Muito obrigada, viu? Um bom trabalho.
Voltou para o interior de sua casa, onde colocou a caixa em cima da mesa e pegou uma tesoura para abri-la.
Assim que feito, Ana viu o que estava ali dentro: uma camisa do Real Madrid e um bilhete."Como eu já disse; branco cai muito bem em você. Espero poder contar com seu apoio no jogo. – Isco."
Instantaneamente, Ana sorriu. Ele estava sendo um amor, e eles nem tinham conversado direito ainda. Ela só se perguntava o que tinha feito para merecer tudo aquilo.
Botou o papel em cima da mesa e tirou a blusa da caixa, ao ver que nas costas da mesma estava gravado "ISCO 22", deu outro sorriso.
Não sabia onde isso ia parar, mas pela primeira vez resolveu seguir o conselho de sua amiga e se permitir conhecer outras pessoas.
--Dia 25/02/2019.
Dois anos do pior dia da vida de Ana.
Mas, Layla estava fazendo de tudo desde cedo para que a amiga não lembrasse tanto do que ocorreu.
Bernardo também ficou horas no telefone com Ana, fazendo de tudo para animar a garota.
E diferente dos outros anos, o dia estava tranquilo. Nenhum choro, nenhum arrependimento.
Eram duas da tarde e Ana se arrumava na casa de Layla, o jogo era as três e meia.
O calor de sexta-feira em Madrid, fez com que a garota optasse por um short curto, de cor preta. No pé, o fiel all star branco. E vestindo seu colo, a camisa que ganhou de presente na semana que passou.
Prendeu o cabelo em um rabo de cavalo alto, colocou os óculos escuros e desceu as escadas, encontrando Layla e Tom já arrumados.
Tom vestia uma camisa do Real Madrid de cor roxa, a mesma que sua noiva usava. Ambas gravadas com o número 12, Marcelo.
- Uau, Ana. – Tom disse. – Quem ficar com você será um cara de sorte.
Layla sorriu, concordando com o noivo. Sua amiga estava linda, não conseguia ver os mesmos traços de tristeza de outros 25 de fevereiro, e isso a deixava extremamente feliz.
Caminharam até o carro de Tom, e seguiram em direção ao Santiago Bernabeu.
Uma música feliz tocava na rádio e Ana observava a paisagem, o caminho não era longo, mas era um jogo contra o Sevilla, isso significa que o trânsito estava um pouco lento.
- Está ansiosa? – Layla interrompeu os pensamentos de Ana.
- Hm? – a garota respondeu com outra pergunta.
- Ansiosa pro jogo. – a amiga deu um sorriso de orelha a orelha e olhou para o banco traseiro, onde Ana estava.
- Não é como se eu fosse torcedora do Real Madrid ou algo do tipo. – ela disse sem animação. – Mas, creio que será um bom jogo. – sorriu sem mostrar os dentes. – Afinal, estaremos bem ao lado do campo.
Ao chegarem no estádio, foram guiados para o setor onde ficariam. Layla foi rapidamente comprar cerveja, segundo ela; era dia de encher a cara e esquecer dos problemas. Tom a acompanhou e Ana ficou esperando os dois enquanto usava o celular. O Instagram era seu maior passatempo, até que seu celular foi tomado pelo nome de Emma brilhando na tela.
- Ana! – A mulher do outro lado disse em tom feliz. – Soube que está no Bernabeu. Em qual setor está?
- Emma, estou no 134. – a garota sorriu.
- Ótimo, o mesmo que o meu. – ela disse. – Estou descendo aí. E estou com as crianças, me ajude. – Ela ria em tom de nervosismo, e Ana a acompanhou em uma gargalhada.
- Venha, Emma. Será um prazer ajudar com os pequenos. – Ana disse, se despediu e desligou o celular.
Ao fundo pode ver Layla e Tom voltando para seus lugares, e um pouco mais atrás, Emma chegava com Alba, Isco Jr e os filhos de Sergio Ramos. Pelo que a esposa de Bale disse, Pilar não conseguiria chegar a tempo de assistir o jogo, por isso pediu para que ela trouxesse as crianças.
Assim que Isco Jr viu Ana, correu para abraça-la. A garota o pegou no colo e depositou um beijo em sua bochecha.
- Você veio, tia. – ele sorriu largamente e isso fez o coração de Ana derreter, por um segundo pensou como seria se sua filha estivesse ali em seu colo, sorrindo da mesma maneira.
Segurou para que a lagrima não escorresse, e abraçou o garoto novamente.
- Sim, eu vim. – ela sorriu. – E olha, estamos iguais. – ela apontou para as camisas que usavam, que tinham os mesmos números gravados. O garotinho sorriu, concordando. – Isso quer dizer que temos de torcer juntos, o que acha?
Isco Jr concordou, e logo antes de começar o jogo se encaixou no colo de Ana.
Os jogadores entravam em campo e a torcida merengue fazia uma grande festa. Isquito batia palmas enquanto estava no colo de Ana.
- Olha lá, tia. O papai. – ele apontou para Isco que estava em pé, concentrado diante ao hino da Champions League.
A garota assentiu, sorrindo para o menininho.
Layla observava a amiga com a criança no colo e percebia o quão boa mãe seria, mas que um filho de Gomes não faria bem para ela. Talvez tudo que tenha acontecido a dois anos foi exatamente o que precisava acontecer.
Estava 2x0 para o Real Madrid, e Ana sentia Isco Jr aninhar-se cada vez mais em seu colo, até que encostou a cabeça próximo ao peito da garota, fechando os olhos em um sono gostoso.
Emma olhou para a garota, em um tom de pergunta.
- Pode me dar ele se quiser, Ann. – ela sorriu. – Você já ficou com ele os dois tempos inteiros.
- Pode deixar, Emma. – ela retribuiu o sorriso e começou uma sessão de cafunés em Isquito.
O apito anunciava o fim de jogo, 2x0 para o time da casa. Nada melhor que ganhar em família. Hoje seria dia de comemoração.
Layla batia palmas e pulava, um pouco alterada pelo álcool.
- Amiga, eu quero ir pra casa transar com o Tom, mas você vai ficar aqui sozinha. Vamos que eu te dou carona. – Lay cuspiu a frase, sem usar muitas pontuações, demonstrando sua pressa.
- Pode ir, garota. Pego carona com Emma, ou pego um táxi. – Ana segurou o riso.
- Mas hoje é dia 25, e...
- É apenas mais uma sexta-feira, Layla. – interrompeu a amiga. – Confesso que dói muito, mas preciso aprender a conviver com essa dor, né?
Layla surpreendeu Ana com um abraço.
- Eu estou bêbada e orgulhosa. – ela sorriu. – É assim que estou me sentindo.
- Vai ser feliz, Layla Cook. – deu um tapinha no ombro da amiga, que saiu em disparada atrás de Tom.--
Ana estava com Isco Jr no colo e descia as escadas para entrega-lo a seu pai. Caminhava pelas dependências do estádio, até que achou um lugar perfeito para sentar-se com a criança, ainda dorminhoca em braços. Os jogadores passariam por lá, então poderia entregar Isquito à Alárcon, e pedir seu táxi para casa.
Gareth e Sergio foram os primeiros a sair.
- Ei, Guardiola. – Ramos disse e a garota torceu os lábios. Não estava acostumada a ser chamada assim. – Emma nos disse que ele dormiu em seus braços.
- Pois é, estou esperando o pai dele para entregar a criança e ir para casa. – sorriu.
- Vamos levar as crianças para comer. – Bale disse. – Venha conosco. Parece que Isquito gostou de você.
Ela olhou para o anjinho dormindo em seu colo.
- Talvez eu vá, sim. – ela sorriu, sendo convencida pela criança em seus braços que seria bom ela ir.
- Estamos esperando no estacionamento. Mesmo se não for, avise isso a Isco quando for entregar o pequeno. Por favor! – Bale pediu e saiu em direção ao estacionamento, junto a Ramos.
Passaram-se poucos minutos e Ana viu, saindo da grande porta branca e roxa, o par de olhos castanhos que a deixaram hipnotizada.
- Quando me disseram que Isquito estava dormindo em seu colo eu tive que vir comprovar. – ele sorriu, ficando frente a garota.
- É, ele se aconchegou e ficou por aqui. – levantou-se com cuidado, e entregou o garoto ao pai. – Ramos e Bale disse que estão te esperando no estacionamento.
- Você não vem? – Isco perguntou, com o tom de voz baixo, e mesmo assim o pequeno acordou.
- Papai? – o garoto olhou confuso. – Cadê a tia Ana?
Isco sorriu para a garota, que olhava incrédula para o pequeno.
- Isso é um bom motivo para você ir, não acha? – ele perguntou e a garota maneou a cabeça.
Seguiram juntos para o estacionamento, onde encontraram Emma, Bale, Sergio e as crianças.
- Parece que alguém convenceu Ana de vir, em? – Emma disse.
- Créditos totais ao Isquito. – a garota disse sorrindo.
Separaram-se em carros, Ana preferiu ir com Emma e as crianças. Bale, Isco e Sergio foram em outro carro.- Agora me diz, que negócio é esse com a filha do Pep? – Ramos perguntou.
- Ah, ela é pediatra do Isco Jr. – ele disse dando de ombros enquanto dirigia.
- Ela é pediatra da Alba e eu não a chamo pra vir ao jogo, e muito menos usando meu número e nome na camisa. – Bale disse com tom sarcástico na voz.
Isco deu graças a Deus por estar escuro e eles não o terem visto corar com as perguntas. Os rapazes riam enquanto faziam comentários, mas Isco não prestava atenção, só vinham imagens de como Ana estava linda, e como ele queria poder sentar e conversar com ela logo.