Estive esperando que o sol chegasse,

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"Calcanhar... Metatarso... Calcanhar... Metatarso... Calcanhar... Metatarso... Calcanhar..."

Forçava-se a recordar a maneira como uma pessoa sóbria andaria. Ou pelo menos, algo próximo a isso, o máximo que conseguisse. E segundo seu próprio julgamento, estava atuando com perfeição.

- Que merda você está fazendo com os pés? - O dono dos olhos azuis, que aproxima-se da garota, carregava um semblante incrédulo, enquanto a de madeixas coloridas atrás do mesmo mordi o lábio, claramente prendendo o riso. O que acabou não durando muito tempo, e no segundo seguinte a mesma já havia soltado a risada pouco escandalosa que tinha.

- O quê? Eu estou andando, ué.

- Igual uma completa retardada.

- Não me lembro de ter cogitado imitar você. - Pressionou o lábio inferior no superior e os soltou ligeiramente, deixando que algumas gotículas de saliva escapassem e tocassem diretamente o rosto do garoto agora a sua frente. O mesmo fechou os olhos instantaneamente, e usou o próprio anelar para tirar os fluídos biológicos de sua bochecha. A cena pareceu hilária para as garotas que então permitiram-se rir.

- Você vai se arrepender. - Foi a última coisa que a de cabelos castanhos ouviu antes de sentir meu rosto ser impulsionado para cima de maneira violenta, tendo seu corpo perdendo as rédeas quase que imediatamente, encontrando o piso gélido do corredor. Prendendo a respiração, a mesma desfere forte um chute nos joelhos do garoto, que recua, jogando-se para trás. Levantando-se em seguida, cerra os punhos e atinge um muro no maxilar bem desenhado do mesmo.

- CHEGA! Vocês não estão falando sério! - Seu tom da outra havia sido sério, mesmo que tenha soltado uma risada ao terminar a frase. - Nós temos a merda de um plano pra colocar em prática, não é? - Estendo a mão, levantou a amiga e fez o mesmo com o loiro que suspirou.

- Olha lá como fala do meu bebê. Passei um mês planejando tudo, eu sou a cabeça dessa missão. - Cruzou os braços abaixo dos seios e escorou-se na parede ao perceber o quão zonza ainda estava.

- E a que mais faz cagada também.

- Como se você tivesse feito algo útil, meu bem.

Com os olhos parcialmente serrados, fez menção de aproximar-se e a outra tratou de revidar, tomando um passo à frente. Seus punhos fecharam-se, enquanto a postura da colega já encontrava-se ereta.

- O que estão fazendo perambulando pelos corredores?

A voz grave e rouca foi rapidamente reconhecida e só então perceberam o quão próximos estavam de ferrar completamente todo o plano. Os três negaram essa possibilidade mentalmente. Havia sido um verdadeiro caos conseguirem chegar onde estavam. Não era a hora de virar as costas e jogar tudo pelos ares.

- Dener! Meu camarada! - A razão do maxilar dolorido de uma das garotas colocou-se à frente e seus olhos reviraram-se quase que instantaneamente. - Está deixando a barba crescer? Porque olha, está mais sedosa à cada dia. - Disse tocando-lhe o queixo, que possuía uma quantidade mais do que mínima de pelos faciais.

O mais velho afastou-se, e o fato de que seu rosto permanecia sério deixou o loiro tenso.

- Acho bom contarem logo o que estão fazendo ou eu só vou piorar as coisas para o lado de vocês.

Afim de reparar os danos causados pelos próprios colegas, Carol colocou-se à frente dos demais, abrindo um sorriso de ponta a ponta, atraindo a atenção de garoto mais velho, que retribuiu sem ao menos pensar duas vezes.

- Nós só estamos caminhando um pouco, aquela festa está entediante. Tem algum problema ficarmos por aqui só um pouco?

O homem negou repetidas vezes com a cabeça, e os cúmplices da mesma se entreolharam. Era obvio que ele aliviaria a barra para o lado deles, era Carol quem estava pedindo e não havia muita coisa que o mesmo negaria para a mais nova. A de olhos claros era visivelmente seu ponto fraco. E é, eles se viviam se aproveitando deste relevante fator.

- Eu sabia que deixaria. Você é um fofo, sabia? - Diminuindo o espaço entre seus corpos, deixou um beijo em sua bochecha, recebendo um olhar apaixonado de Dener.

Tudo bem, a diferença de idade não era algo tão distinto entre os dois. Era pouca, na verdade, e a influência que Dener obtinha dentro do colégio tornava-o sinônimo de hierarquia, da qual os três certamente estariam em desvantagem. Mas mesmo assim, o estômago de Carol revirava toda vez em que a possibilidade de ter algo com o garoto surgia. Ele era apaixonante, de fato. E desejado, extremamente desejado. Mas não havia mais nada nele que lhe soasse atrativo. Por essa razão, preferia buscar seus próprios benéficos na queda que Dener tinha por ela.

- Precisamos ir. - Foi a vez de Valerie pronunciar-se e tomar a colega pelo braço direito. - A conversa está realmente ótima, mas Dylan está com o intestino solto e você sabe o que pode acontecer nessas situações, né?

A expressão do integrante do time de futebol do colégio mudou drasticamente, e ele despediu-se de Carol, permitindo que a caminhada dos mesmos fosse finamente retomada.

- Eu já disse o quanto te odeio hoje? - Dylan questionou Valerie, totalmente irritado, podendo sentir seu joelho dolorido com a forte pancada desferida pela mesma.

- Não, então aproveite o ensejo e seja útil, esse laxante não vai ser colocado no ponche sozinho.

Contendo-se ao máximo, afastou-se das duas e despejou a substância que provoca contrações intestinais no liquido que estava sendo servido para os convidados do evento. Haviam dado a volta pelos corredores da escola para que conseguissem entrar pela saída dos fundos do salão principal e colocar a ideia brilhante de Valerie em prática. Bom, era brilhante ao ver da mesma, que tinha metade do líquido de seu corpo baseado em álcool que haviam trazido na mochila de Carol e ingerido depois de se ausentarem temporariamente da festa.

Tratava-se da comemoração de início do ano letivo, e a coordenação não estava disposta a deixar que passasse batido. Organizaram uma enorme festa apenas para os estudantes e com toda certeza, os três não iriam permitir que fosse apenas mais uma das festas convencionais que realizavam. Quem sabe tivesse tudo para ocorrer perfeitamente. E tinha, colocariam o remédio nas jarras de ponche e deixariam o lugar sem vestígio algum. Tinha tudo para dar certo, se não tivesse sido executada pela mente imerge em álcool e drogas ilícitas de três adolescentes beirando o término do ensino médio.

- Acho que deveríamos sair daqui... Tipo, agora. - A das mechas coloridas indicou num tom de desespero e Valerie ergueu uma das sobrancelhas, confusa.

- Ninguém tomou um gole do ponche ainda e... - Não conseguiu finalizar sua fala, sendo cortada e puxada pelo braço por Carol, que a arrastou para fora do salão. - Você deve estar muito chapada mesmo, eu quero ver alguém tomando!

- O diretor pegou o Dylan. A gente precisa ir embora.

Não precisaram ser dita nem mais meia palavra. A última coisa que Valerie queria era ser suspensa e levada para casa bêbada. Ligeiramente tomaram o mesmo ritmo de corrida, por maior que fosse a dificuldade em correr. As risadas vinham automaticamente, e a de olhos escuros esbarrou com um par dos ombros que atravessava o corredor tranquilamente. Suas orbes encontraram a da mulher de cabelos curtos, que por sua vez abriu um enorme sorriso sem motivo aparente.

- Desculpe.

Foi a última e única coisa que a mais velha ouviu da boca da dona das sardas mais bem distribuídas que já viu, até que a imagem da garota era só mais um vislumbre em sua memória. Um vestígio de rapidez. Um corpo eufórico por sabe lá céus o que. A protagonista e refém de suas escolhas.

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