Parte ¹

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—O amava muito, ele era um marido bom, nós raramente brigávamos, eu não entendo como ele pode simplesmente desaparecer. —Sara soluçou aos prantos.
   —Acalme-se vamos encontra-lo —Jacob disse esticando os fortes braços para acariciar os ombros de Sara.
   —Senhora Hammington, faz exatamente quarenta e oito horas que seu marido desapareceu, precisa se recompor e continuar a responder as perguntas se quiser ajuda-lo. —Joanna suplicou fazendo a mulher levantar a cabeça e soluçar uma ultima vez. —Bebe um pouco d’agua.
    —De acordo com o seu primeiro depoimento 10:15 Paul saiu de casa em direção ao trabalho, por volta das 21:22 o carro dele foi filmado de uma estação de trem bem próxima da sua casa, o que nos leva que pode ser sequestro, onde os sequestradores sabiam a hora exata que ele iria estar por ali. —Jacob sugeriu.
   —Ou um assassinato —Joanna acrescentou recebendo olhares surpresos e críticos, logo em seguida perguntou: —Paul tinha algum inimigo, desavença, amizade falsa, qualquer uma dessas informações podem ser bastante uteis na investigação.
   —Não sei se seria capaz de citar todos os nomes. —Sara disse entrelaçando os dedos lentamente entre si. —Paul era odioso, é claro não comigo, mas, estaria mentindo se dissesse que ele não tinha inimigos.
       07/04/2005
   Faz três anos que me casei, se arrependimento fosse letal, eu já estaria soterrada por terra com insetos e larvas devorando a minha pele a muito tempo.
    Pelo menos tentávamos ser felizes, na realidade, tentávamos parecer felizes, as pessoas perguntavam ingenuamente: “Qual a formula mágica?” “Tome cuidado, Paul é um homem que qualquer uma desejaria?” Devo dizer que Paul era um homem bonito, eu entendo, e quando recebemos elogios eu me sentia bem, saber que éramos inspiração para as pessoas.
   Sim, eu fui ignorante o suficiente para perdoa-lo, nos abraçamos por mais que eu não conseguia sentir mais nada além de decepção, literalmente recolhemos os cacos, comprei uma mesinha nova (ainda ressentida pela mesa de minha avó), Paul voltou a trabalhar e me comprou uma bolsa, tudo estava mudando parcialmente.
   —Relaxa, amor —Ele disse utilizando sua aguda voz. —É só uma festa, Josh é meu amigo de infância.
   —Eu sei, estou preocupada mais é com a prestação da casa que vai atrasar. —Sara disse pensativa.
   Não, eu menti, não havia de modo algum aberto uma exceção, não havia perdoado a Paul, na verdade eu estava longe disso, metros, quilômetros, o mais longe possível. Ele pensou que cozinhando uma ou duas vezes, me presenteando, sendo falso iria me fazer esquecer a dor psicológica e física, se enganou.
   Eu o odiava, odiava mesmo com todas minhas forças, ele com certeza absoluta não me amava, o homem que no passado eu me apaixonei deixou de existir, evaporou.
   Mas, agora eu não seria mais sua esposinha, esposa burra, esposa ingênua, gostosa, a esposa perfeita, eu não era a porra de esposa nenhuma, meu nome é Sara, Sara Baird. (Nome de solteira.)
   E a Doce Sarita estava louca, louca para ser livre, separar-se, mas, teria que esperar o momento certo, queria faze-lo pagar.
   Os amigos de Paul o amavam, todos amavam aquela maldita imagem falseada que ele transmitia, no meio dos amigos me peguei varias vezes pensando em um recomeço, mas, então os ferimentos cicatrizados ardiam e eu ignorava os solenes pensamentos.
   —Não se preocupe amanha eu recebo a comissão daquela casa que eu vendi e a gente juntos resolve isso. —Afirmou estacionando o carro.
   —Juntos... —Sussurrei, eu odiava essa palavra, realmente odiava, me faz acreditar em “nós”, me dava esperança de salvar o “nosso” casamento. —Você disse que a festa era simples, mas, ta dando pra ouvir o som daqui de baixo.
   —Parece que ele incrementou algumas pessoas, mas isso não é um problema. —Desligou o carro e levantou o olhar pro topo do prédio do amigo.
   ...
   —Sarah e Paul, meu casal favorito —Josh disse me abraçando.
   —Olhe amigo... —O que ele pensava que estava fazendo, me olhava de relance, queria que eu visse o que eles estavam prestes a fazer, o conhecia bem o suficiente para notar, ele queria que eu me aborrecesse. —É seu aniversário e você conseguiu um emprego num escritório, eu e minha amada esposa compramos um presente. —Ele sabia que eu ia ficar furiosa, faíscas foram evidentes em meu olhar, principalmente quando ele retirou do bolso do palito uma caneta dourada enlaçada com uma fita vermelha.
   —Wow, quanto isso custou?
   —Uma ou duas comissões que eu tinha guardada, e para alguém que vai ter seu primeiro emprego num escritório uma dessa é mais que essencial. —Era de ouro, dourada, provavelmente custou muito caro, Paul era um corretor, mas, era péssimo, muito péssimo, e trabalhava a comissões, as únicas que conseguiam provavelmente eram mulheres safadas que ele comia durante as visitas a casas a venda, esse era o meu dinheiro, e eu apostava que ele não iria pagar a prestação do imóvel amanhã, nem nunca.
   Nessa festa maldita ele já havia me transformado em sua esposinha e agora queria me transformar na esposa babaca de Paul, a megera fria na frente de todos. Era como se ele quisesse o meu incomodo, era evidente.
   De repente agarrei com força a caneta dourada e corri para porta de saída, não era roubo, era o meu dinheiro, minha casa e minha dignidade que estava em jogo, eu não iria ficar parada e fingir contentamento.
Agora
   —Tem um cara chamado Josh que trabalha em um escritório, um dia fomos em uma festa e o Paul simplesmente surtou, começou a gritar, Josh tentou me roubar, foi uma baderna —Sara disse vasculhando com dificuldade a bolsa. —Tem papel?
   Retirou uma caneta dourada de ouro, tinha detalhes muito belos que impressionou todos da sala.
   —Caneta bonita! —Jacob disse surpreso.
   —Obrigada, Paul me deu no meu aniversário. —Sara agradeceu e depois deslizou o papel sobre a mesa e em sua difícil caligrafia foi possível entender “Josh Willians”.
    —Sara, acho que encerramos. —Joanna e Jacob falaram juntos e ambos abraçaram a mulher, Joanna depois recolheu algumas anotações e a acompanharam até o corredor da delegacia. —Vamos pedir para um policial ficar de vigia na sua casa, fique atenta a qualquer tipo de ligação ou forma de comunicação, evite sair também até ter mais notícias.
   —Eu sei que vão encontra-lo. —Ela falou confiante e começou a andar até a porta da frente acompanhada por um policial, novato, um patrulheiro na verdade, e num instante desapareceu, como se nunca estivesse ali, deixando o investigador e a psicóloga sozinhos na delegacia.
   —Temos que verificar este tal de Josh William. —Jacob disse bebendo o resto de café que possuía no copo e amassando-o para arremessa-lo numa lixeira próxima.
   —Eu sou só a psicóloga, “temos” não existe, tenho que escrever o relatório. —Ela retrucou rindo e dando lentos passos até a mesa de escritório. —E cuidado para não se apaixonar por aquela cobra, quer saber por que?
   —Hm —Jacob retrucou irritado pela desconfiança exercida pela colega.
   —Ela mentiu.

A ESPOSA - série ensanguentadas vol-1Onde histórias criam vida. Descubra agora