Estava acordada. Sentia meus pulmões trabalhando, a respiração, o ar passando por meu corpo, a vida fluindo em mim.
Algumas pessoas ficam felizes quando são salvas da morte, mas eu não estou feliz, não queria estar viva, respirando outra vez, ter que sentir toda essa dor outra vez. Por um momento, um pequeno momento toda a dor desapareceu e agora retornou com mais força que antes.
Existe uma nuvem de sofrimento sobre mim, não consigo ver a luz do sol, tudo ao meu redor se transformou em escuridão, tão densa que é impossível ver algo além disso. Talvez não exista nada além disso dentro de mim agora, só dor, nada de bom pelo que lutar.
Não quero abrir meus olhos mas é mais forte que eu. Assim que minhas pálpebras se abrem me deparo com um quarto branco
E a luz que me faz fechar os olhos outra vez. Respiro fundo sentindo o ar entrar por meu nariz, retorno a abrir os olhos tentando me acostumar com a claridade do lugar onde estou.Olho para baixo, estou vestida com uma roupa branca de hospital e em minha mão tem um cateter. Queria arrancar tudo isso de mim e agir como uma revoltada mas não me movo, porque eu faria isso? Que diferença iria fazer?
Não levanto o rosto nem mesmo quando a porta do quarto onde estou é aberta e permanece assim por alguns segundos até ser fechada de novo e alguém se aproximar de mim. Engulo a vontade de chorar, de pedir para essa pessoa ir embora mas quando escuto a voz do meu pai…
— Sofia — chamou baixinho se sentando do meu lado, ele toca em meu queixo virando meu rosto. Imediatamente me sento na cama e agarro meu pai com todas as forças que eu tenho e choro como fazia quando era pequena, ele me abraça de volta passando a mão por meus cabelos para me acalmar. — Vai ficar tudo bem,vai ficar tudo bem meu amor…
Me afasto dele balançando a cabeça me debulhando em lágrimas, nada ficaria bem outra vez. Nada ficaria bem nunca mais, estou condenada a viver com essa dor pra sempre.
— Sofia...— ele tenta falar mas eu o corto.
— Não! — praticamente grito com o choro preso no garganta — nada vai ficar bem pai! Estou destruída, completamente machucada e não é um joelho ralado que vai melhorar com o tempo ou com um beijo seu, isso nunca vai passar, nunca, quero morrer, não posso viver todo dia com essa dor.
Ele segura meu rosto me fazendo encara-lo, me afasto de seu toque me deitando novamente em minha cama e escondendo o rosto no travesseiro,não posso ver o sofrimento que estou causando nas pessoas que eu amo.
— Ele me abandonou — sussurro — Ele me abandonou mesmo quando eu pedi que ele me ajudasse, Deus não me ajudou e agora estou assim pai. Porque Deus me deixou quando mais precisei.
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Em busca de um recomeço (completo)
RomanceSofia sempre foi uma pessoa doce que deixava sua marca por onde passava e encantava a todos com seu sorriso e seu jeito de ser. Sua fé e o amor sempre foram característicos valorosos dela, mas mesmo uma pessoa forte e corajosa pode perder o desejo...