- Fizemos os exames de sangue - o médico murmuruou do outro lado de sua mesa segurando os papéis em suas mãos - quero dizer que fizemos o procedimento completo, quando temos casos como o seu e tratamos de dar a pílula do dia seguinte para impedir que a vítima engravide. Mas nenhum método é totalmente seguro.
Encarei o médico, e balancei a cabeça de um lado para o outro. Isso não podia estar acontecendo,não precisava ser um gênio para entender. Mas mesmo assim esperei que ele falasse e desse o golpe final, esperei que ele dissesse e torci até o último segundo para estar errada, ele tinha que estar errado.
Minha mãe parecia já saber exatamente o que eu sabia, por isso senti sua mão apertar meus dedos. Mas não olhei para ela,não conseguia tirar os olhos dos papéis nas mãos do médico.
- Você está grávida - falou, apertei o braço da cadeira como se pudesse simplesmente cair. Não consegui dizer nada, as palavras simplesmente sumiram, presas na minha garganta. Estava presa na minha mente, queria gritar
Isso não podia estar acontecendo.
- Você tem certeza? - perguntou meu pai parecendo tão chocado quanto o resto de nós.
O médico respondeu e eles começaram a conversar, entretanto não conseguia ouvir nada. Era como se estivesse a quilômetros dali, tentando, tentando entender porque...
Por que? Por que comigo?
Fecho meus olhos ignorando, fingindo que nada disso está acontecendo mas estou desabando,cada dia que se passa uma parte de mim é estraçalhada, destruída. Como posso ter esperança? Ela morreu, morreu porque eu estou morta, estou morta por dentro. Pois não há nada aqui mais, tá tudo vazio e escuro... não existe luz em nenhum lugar.
Sofia.
Sofia.
- Sofia - despertei de meus pensamentos com a voz calorosa de minha mãe, não olho para ela, não consigo fazer isso. - Querida...
Estou grávida, estou gerando um filho do homem que me estuprou, do homem que destruiu minha vida. Sempre sonhei em ser mãe mas não assim, não assim... não, não, não.
As lágrimas finalmente escapam por meus olhos demostrando meu desespero, não quero isso. Não quero,não quero,não quero...
- Gostaria de dizer Sofia que em casos como o seu, a lei permite que você faça o aborto - o médico explicou, senti uma mão sobre meu ombro, levantei o rosto. - Você quem decide.
Minha escolha, eu posso decidir o que fazer. Mas eu posso? Posso decidir se ele vive ou morre? Quem sou eu para fazer isso?
Só porque eu estou sofrendo e porque não foi como eu queria que eu vou matar uma vida que está dentro de mim? Eu não tive culpa e esse bebê, essa vida dentro de mim também não tem culpa. Como posso sequer cogitar isso?
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Em busca de um recomeço (completo)
RomanceSofia sempre foi uma pessoa doce que deixava sua marca por onde passava e encantava a todos com seu sorriso e seu jeito de ser. Sua fé e o amor sempre foram característicos valorosos dela, mas mesmo uma pessoa forte e corajosa pode perder o desejo...