Lúcifer caminhava entediado, a falta de suas asas era o que mais o incomodava, assim como a proposta de vingança feita por Lilith. O moreno não estava acostumado a ficar tanto tempo no chão. Gostava sempre de sobrevoar o jardim e apreciar sua beleza.
Aquele deserto era horrível, nunca chegaria aos pés do Éden. Ali só existia vazio e tristeza. O Arcanjo então teve uma ideia, usaria toda sua magia e criaria novas asas. Concentrando-se, Lúcifer fechou os olhos. Um forte vento teve início. Quando Lúcifer abriu os olhos, eles não estavam mais azuis, mas completamente negros.
— Onde está minha luz? — O Arcanjo tentava liberar a energia dourada, mas falhava a cada tentativa, enquanto o vento ao seu redor ficava cada vez mais forte. — Gabriel!
Lúcifer explodiu, liberando uma forte onda de energia negra e formando uma cratera ao seu redor.
— Todo o ódio que sente de seu irmão o transformou em pura escuridão, Estrela da Manhã. — Lilith surgiu após a explosão, caminhando até o homem, confuso. — Aceite suas novas habilidades e vamos nos vingar.
— Gabriel tirou tudo o que eu mais gostava, até mesmo minha essência. — Lúcifer gritou, com muita raiva. Lágrimas desciam pelo seu rosto sujo de poeira, enquanto seus olhos voltavam a cor normal.
— Juntos podemos destruir aquilo que seu irmão mais ama, os humanos. — A ruiva falou, acariciando o rosto fino do Arcanjo, até chegar em seus lábios.
O moreno aproximou-se ainda mais de Lilith, segurando em suas mãos com delicadeza, enquanto olhava fixamente para seu belo rosto.
— Será um enorme prazer unir-me a você, grandiosa Lilith.
*
Adão estava deitado sob uma árvore, Eva ao seu lado, acariciando os cabelos cacheados do homem. Eles observavam o lento movimento das nuvens no céu azul.
— Está tudo tão entediante, não acha? — O negro começou a se levantar e Eva o acompanhou.
Eva deu um rápido beijo em Adão e começou a correr para longe dele, com a felicidade exposta em seu belo rosto. O homem seguiu a bela morena, iniciando uma perseguição em meios as árvores.
— Adão! — A voz de Lúcifer ecoou pela mata. — Adão!
O negro parou de correr e começou a olhar ao redor, buscando o Arcanjo. No entanto não viu nada além de alguns macacos no topo das árvores, deliciando-se com várias frutas diferentes. Ele continuou a correr, mesmo sem saber a direção que sua esposa havia tomado.
Deixando-se guiar por seu instinto ele chegou ao único lugar que ainda não havia explorado no Éden. Era a árvore com os frutos proibidos.
— Não faz ideia de como eles são deliciosos. — Lilith surgiu ao lado no negro, que olhava para a árvore imóvel. — Experimente um, não se arrependerá.
Os cabelos de Lilith brilhavam intensamente como uma fogueira e seus olhos parecidos com esmeraldas percorriam todo o corpo nu de Adão.
O negro não percebeu, mas Eva também estava ali, do lado oposto. Seus cabelos pretos e curtos balançavam com a brisa, seus olhos também negros estavam fixos nas maçãs a sua frente. Ao lado dela estava Lúcifer. Conforme ela se aproximava da árvore, ele ficava mais animado.
— Coma, Gabriel não é seu dono. — Ele falou próximo ao ouvido da mulher. — Garanto, ele não irá se incomodar.
Eva e Adão tocaram, cada um em um fruto, em sincronia, retirando-os dos galhos e mordendo. Satisfeitos, Lilith e Lúcifer se desfizeram como fumaça, ambos satisfeitos.
*
Gabriel, Miguel e Rafael caminhavam pelo imenso jardim, como sempre observando atentamente cada detalhe da natureza perfeita que criaram. Tudo ali vivia harmonicamente, em total sintonia.
O Arcanjo mais velho parou ao escutar cochichos. Miguel e Gabriel fizeram o mesmo que o irmão, sem entenderem o que estava acontecendo no momento.
Os olhos castanhos de Rafael percorreram todo o espaço a sua volta, buscando a origem do som. Mesmo sem entender, os outros permaneciam quietos, obserando o mais experiente.
— Há algo de errado. — O primogênito parou, olhando na direção de algumas árvores. — Saiam daí. Agora!
O grito de Rafael se propagou por todo o Éden, assustando até mesmo os animais. Pássaros voaram das árvores. Gabriel deu alguns passos para a frente, ficando ao lado do irmão. Agora ele também via.
Adão e Eva estavam escondidos atrás das árvores, com o rosto coberto com as mãos trêmulas.
— Sigam a ordem de Rafael, saiam daí! — Agora foi a vez do negro gritar.
— Não, não estamos apresentáveis. — Eva respondeu, com a voz baixa. — Estamos... nus.
Nuvens escuras começaram a encobrir a forte luz solar, enquanto Gabriel afastava-se de todos. Ele estava enraivecido, novamente haviam descumprido ordens. E agora era ainda pior, suas duas criações comeram o fruto proibido.
— Lúcifer! — O líder dos Arcanjos urrou. — Espero que esteja feliz, pois conseguiu destruir tudo! Retirem estes dois imundos daqui e sugiro que também saiam. Tudo o que estiver neste jardim será destruído em pouco tempo.
— Irmão. — Miguel tentou ir até Gabriel, mas Rafael segurou em sua mão e fechou os olhos, desistindo de mais uma discussão. — Rafael, não podemos permitir.
Com lágrimas escorrendo pelo rosto, Rafael abriu os olhos e voltou-se para os humanos, que saíam assustados de seu esconderijo. O céu ficava a cada minuto mais escuro, enquanto Gabriel chorava, ajoelhado sobre a grama que também se tornava seca ao seu redor.
— Desapareçam! — O primogênito gritou levantando a mão direita aberta na direção de Eva e Adão. — Nunca foram dignos do Éden!
O casal começou a ser envolvido por uma densa névoa, assim como Lúcifer. Com medo, a única reação que tiveram foram se abraçar e permitir que a fumaça branca o envolvesse. Quando a fumaça se dissipou, eles não estavam mais lá.
— Gabriel, não destrua tudo. É o nosso jardim, nossa obra prima! — Miguel correu até o irmão, tocando em seu ombro.
Furioso, Gabriel arremessou o irmão para trás, com um impulso de magia. Miguel bateu com força contra o chão, colocando as mãos na cabeça sem cabelos, que coía por conta do impacto.
Com tristeza, Rafael foi até Miguel e tocou em sua mão.
— Vamos, não vamos causar mais guerra.
Olhando uma última vez na direção de Gabriel, que continuava chorando de joelhos, a dupla desapareceu em uma forte explosão de luz, como nas outras vezes.
Enquanto o Arcanjo mais jovem chorava, grandes bolas de fogo caíam dos céus, incendiando tudo, desde plantas até animais. Nada seria poupado. A terra também começou a treme como brutalidade, criando várias fissuras que engolia tudo o que escapa da destruição do fogo.
O negro levantou-se com dificuldade, sujo de fuligem e poeira. Olhando uma última vez para o jardim, Gabriel fez como os irmãos e desapareceu em uma explosão de luz. Em poucos minutos tudo foi destruído, nem mesmo a fortaleza dos irmãos permaneceu intacta, havia sido engolida por um grande buraco que se abriu com os tremores.
O Éden deixou de existir naquele momento.
*
Espero, do fundo de meu coração, que tenham gostado desta história, que escrevi com todo o carinho do mundo. Sigam meu perfil no Instagram @eu.felipeborges e fiquem por dentro de todas as novidades.Até a próxima obra!
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Gênesis (CONCLUÍDO)
FantasyA criação do mal, partindo dos demônios primordiais, Lilith e Lúcifer. Ela, a primeira mulher a pisar no Éden, um ambicioso projeto de quatro seres extrememante poderosos, conhecidos como Arcanjos. Tudo começará quando Lilith não aceitar seguir orde...