Alice Darson
Acordo cedo com um raio suave de luz no rosto e lembro que esqueci de fechar as cortinas tamanho era meu cansaço. Levanto e vou até a janela que fica à frente da minha cama. Graças à vista esplêndida do meu quarto, vejo ondas tranquilas.
O mar parece que está acordando. O sol acabou de nascer. Me espreguiço e desço para tomar café. Como é bom estar em casa. Cada vez mais dou valor a momentos como esse.
Hoje é sábado, provável que o pessoal aqui acorde tarde. Aproveitei para ir à praia. É final do inverno e ainda faz um pouco de frio, coloquei meu maiô de manga comprida com estampa de estrelas do mar e fundo azul, com uma calça de moletom cinza por cima.
Desci descalço as escadas e escuto Jacob correndo atrás de mim para me acompanhar. Ele adora me escoltar quando percebe onde estou indo, pego sua coleira para não entrar no mar. Lanna é mais preguiçosa e fica esperando minha família acordar para tomar café da manhã junto, pois sempre sobra fruta para ela.
Na areia, limpa pelo mar da noite, só nossas marcas de pé e pata. Adoro chegar cedo na praia, a manhã é nítida no sol e na brisa leve. Sento na areia, faço alguns movimentos de yoga, respiro e expiro, unindo minha alma a do universo. Tento encontrar respostas para todos os questionamentos internos. O ritmo do corpo, a melodia da mente, a harmonia da alma e o som do mar.
As ondas em seu compasso dominam o barulho. Não resisto. Levanto e tiro a calça, prendo Jacob em um pedaço de madeira cravado na areia, passo em casa, pego meu óculos e pé de pato e caminho para o oceano. Fico parada esperando a primeira onda se aproximar. Quando encosta em mim, sinto sua água gelada me fazendo arrepiar.
Não é o suficiente, caminho entrando na água. Está gelado, do tipo que faz o dente bater, mas não me importo, continuo entrando. Agora estou onde a onda quebra, a água quase chegando na barriga.
Então mergulho e percebo as águas de inverno. Dou mais um mergulho e a água salgada me faz bem, parece que limpa todas as coisas ruins, lava a alma. Começo a nadar sem rumo, paralelo a praia.
O cansaço começa a bater, depois de um mês parada, preciso voltar aos poucos. Volto para as ondas, no raso, para sair, quando meu pé de pato fica preso em uma pedra no fundo.
Quando percebo o que está acontecendo, um frio percorre o meu corpo. Todas as lembranças de um acidente horrível voltam.
O desespero toma conta e mesmo sabendo que estou no raso, não tenho reação de me soltar, apenas fico me debatendo na água e as ondas vindo me deixar sem ar, me afogando cada vez mais.
Sinto água entrar nas minhas vias respiratórias. Eu tento tanto sair, mas entro em um estado profundo de agonia. Escuto Jacob latindo desesperado, ele sabe que algo não está certo.
Quando já estou muito cansada, quase desistindo, sinto alguém me desprendendo da pedra e me pegando. Não lembro do caminho do mar até a areia, mas estou sentada cuspindo água e consigo respirar de novo. Que alívio que sinto. Olho para cima e vejo olhos preocupados. Grandes e lindos olhos azuis.
— Você está bem? — O homem que me salvou pergunta com piedade. — Você poderia facilmente ter se desprendido, o que houve? — Ele fala angustiado.
— Entrei em pânico! — Me limito a falar.
— Tudo bem, ainda bem que estava por aqui, não tem muita gente nesse período, nem nessa hora. Você está bem mesmo? Posso te levar até o hospital. — Ele fala e eu ainda o encaro e observo aqueles olhos tão lindos.
— Estou bem sim, obrigada. — Falo e me levanto, ele tenta oferecer ajuda, mas sou mais rápida.
— Me chamo Matt — Ele sorri, estende sua mão e dá um sorriso que me faz perder o fôlego. — Acho que aquele cachorro é seu, certo? — Ele aponta para Jacob com a cabeça. Ele ainda não havia parado de latir.
Caminho até Jacob e esse homem me acompanha. Matt é alto, forte, seus músculos sobressaem na pele molhada e bronzeada. Um cabelo preto, liso e jogado, que ele faz questão de passar a mão ajeitando a cada cinco minutos, parecendo que meu coração vai pular cada vez que ele faz isso.
Um rosto forte, com maxilar bem marcado, um vestígio de barba bem rente, dentes brancos e olhos incrivelmente azuis, como uma piscina. Que por sinal me dá vontade de mergulhar nela. O abdômen trincado, braços delineados e um incrível V no quadril. Esse homem é estonteante, parece que saiu de um filme.
— Eu sou Alice, prazer. — Falo quando percebo que demorei tempo demais analisando-o. — E esse é o Jacob — aponto para meu fiel amigo e dou um sorriso meio envergonhada, passando a mão em seu focinho e ajeitando meu cabelo logo em seguida.
Matt me encara com um olhar penetrante, como se me analisasse também, mas com uma expressão mais calorosa, sem tirar os olhos dos meus. Eu não compreendo seu olhar, é como se já nos conhecêssemos.
— Ele é lindo! — Enfim responde — Espero que esteja bem de verdade. Se precisar de mim, estarei no batalhão de bombeiros do centro, vou começar na segunda feira. Só perguntar pelo soldado Davis. Me mudei a pouco tempo, não conheço ninguém ainda, mas espero encontrá-la novamente.
Quando ele fala isso, lá se vai mais uma latejada no peito. Claro que era bombeiro, imagina se não, tem como ser mais perfeito que isso? E ousado, parece que está me chamando para sair.
— Claro, estou sempre por aqui. — Me restrinjo a falar, apontando para imensidão da praia. — Obrigada mais uma vez.
Nos despedimos e o vejo caminhar pela praia enquanto faço carinho em Jacob. Fico parada um tempo pensando em tudo que aconteceu, meu desespero no mar, esse homem, nossa conversa e dou conta do meu fascínio por ele, a euforia que me dá ao estar do seu lado, o que me deixa intrigada, pois não fico assim com frequência não.
É realmente como se eu estivesse o reencontrando, como se meu espírito o reconhecesse. É surreal meus sentimentos por um homem que mal conheço. Mas foi assim que o conheci, nesse dia junto ao mar, e é como se eu tivesse nascido de novo em tantos sentidos.
•
E aí, me conta, está curtindo?
Vote e comente ;*
Com amor, Annalua
❤️🌙
VOCÊ ESTÁ LENDO
Quando o mar nos uniu • Degustação
RomanceNa Carolina do Norte existe um lugar onde os sonhos têm vista para o mar. De leste a Oeste, Norte a sul, a ilha de Outer Banks é rodeada pelo oceano. Uma ponte separa do continente e quando atravessada, já começa a perceber que algo grandioso está p...